CAPÍTULO1.ELIOT.

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ELIOT.

É difícil manter meus olhos abertos, eles ardem por conta das luzes florescentes que zumbem acima de mim. A loja de conveniências tem cheiro de hospital e isso faz meu estômago vazio revirar. Fecho minhas mãos em punhos na falha tentativa de fazê-las pararem de tremer. Eu nunca havia roubado nada em minha vida, mas não podia ser assim tão difícil.

Penso em dar meia volta, sair da loja. Digo para mim mesmo que há outro jeito, mas sei que não há nenhum. Já não como a dois dias e meio. Minha última refeição havia sido uma maçã mordida que tinha sido esquecida em um dos bancos ao redor do campus, mas ela já havia sido absorvida pelo meu corpo a algum tempo. Eu não tenho nenhum centavo, não tenho mais nada para vender. E a onda de desemprego está afetando todo o país, grandes empresas por toda parte estão indo a falência devido à quebra da bolsa, milhares de desempregados por toda a região estão aceitando qualquer emprego e por isso eu perdi o meu.

Assim que me mudei consegui um trabalho lavando pratos por meio período, eu recebia pouco mas era o suficiente para viver, pagava o aluguel e minha comida sem grandes problemas. No restante do tempo me dedicava aos estudos, mas então uma pessoa com uma qualificação muito melhor, que aceitou trabalhar em período integral e receber o mesmo valor que eu apareceu. E foi assim que fui descartado, e toda a minha vida virou uma bagunça.

Não haviam mais empregos, nenhum. Eu procurei.

Todas as contas estavam vencidas, a luz e a água foram cortadas. Meu senhorio havia me dado ordem de despejo e eu não comia a dois dias e meio. Meu estômago protesta enquanto paro em frente as barras de cereais. Eu estava desesperado. Tinha perdido aulas demais enquanto espalhava currículos, a faculdade ameaça tirar de mim a bolsa de estudos pela qual tanto batalhei. E essa foi a cereja do meu bolo, sabor caos e recheado de desespero.

Por ter crescido em um orfanato, não tenho nenhuma família, não tenho a quem pedir ajuda. Minha rotina diária não me permitiu me aproximar de ninguém no campus. Ou eu estava estudando ou exausto de tanto trabalhar, não tenho amigos. E agora estou aqui, cogitando roubar para comer, pois tenho medo de não ter forças para levantar amanhã. Uma de minhas mãos trêmulas sai de dentro do bolso, a barrinha de cereal esguia faz um som plástico quando toco sua embalagem. Meus olhos se enchem de água enquanto sou tomado pelo sentimento de humilhação. Respiro fundo para não chorar, enfiando o pacotinho em meu bolso.

Há um nó em minha garganta, e é como se eu não pudesse respirar. Caminho em direção a porta para sair dali o mais rápido possível, minhas pernas parecem gelatina. Eu nunca, em minha vida inteira, tinha roubado nada de ninguém.

— Você não vai pagar por isso? — ouço uma voz dizer. Viro meu rosto para olhar por cima de meu ombro, o cara grande atrás do balcão está com seus braços cruzados, tatuagens desconexas cobrem toda a sua pele — Você tem que pagar por isso — repete, seu tom soando nada agradável.

Respiro fundo, quero tanto comer que essa é a única coisa em que consigo pensar. O cara é grande, forte. Me daria uma surra daquelas se me pegasse, eu estava fraco, faminto. Mesmo tendo a vantagem de já estar na porta, não chegaria tão longe.

Engulo seco puxando a porta de vidro para me lançar na noite. Minha visão fica turva, o frio parece cortar minhas bochechas como faca. Sinto minha energia se esvair enquanto corro o mais rápido que posso, as luzes do comércio passam borradas por mim. Posso ouvir o homem gritando, me xingando de todos os nomes possíveis enquanto me persegue.

Faço a curva em um beco para cortar caminho. Mas meus planos de escapar vão por água abaixo quando cometo o erro de olhar para trás, na intenção de avaliar a distância entre mim e meu perseguidor. Me choco com força contra uma estrutura sólida, minha cabeça bate no concreto do chão e tudo ao meu redor gira.

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