CAPÍTULO7.

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A ESCOLHA.

— Tá me seguindo? — pergunto, minha voz carregada de ironia e desgosto.

Gustaff sorri, aquela risadinha contida, sem dentes e que solta ar por seu nariz. Meu coração começa a bater mais rápido.

— Não se sinta assim tão especial — ele da de ombros — Eu estudo aqui.

Estuda aqui? Oh não, como se as coisas já não fossem ruins o suficiente.

Eu havia começado a mais ou menos seis meses, e nunca havia visto Gustaff no campos. Mas isso não significa muita coisa levando em conta a forma como eu tenho vivido, ou enfiado em livros ou me matando de trabalhar. Eu não o teria visto nem se ele me chutasse na cara.

— Ótimo — zombo. E então ficamos em silêncio.

Engulo em seco quando me dou conta de que preciso dele, nenhum emprego que eu arrumasse pagaria as mensalidades da faculdade. Se eu trancasse o semestre não poderia ser reavaliado para voltar a ser bolsista. Essa porra é uma sinuca de bico.

— Como você está? — pergunto apressadamente, ansioso, sem saber como começar uma conversa sem querer socar ele na cara.

Gustaff me encara, uma expressão de tédio preenche seu rosto enquanto ele suspira.

— Como vai a sua boca? — me devolve. Olhando casualmente ao redor.

Uma sensação latente de vergonha e humilhação correm em minhas veias. Mas faço meu melhor para não transparecer, ele ia gostar disso.

— Quando vamos nos ver de novo? — volto a perguntar, ignorando a última sentença.

Gustaff parece acordar de repente, endireita sua postura e foca sua atenção em mim.

— De novo? Acho que não — me responde.

Um pequeno vinco se forma em minha testa quando confusão nubla meus pensamentos.

— O que quer dizer com isso? — digo baixo, e me aproximo quando pessoas passam por nós — Preciso do dinheiro.

— O que você acha que aconteceu entre nós? Eu te paguei pra me chupar, e nem isso você conseguiu fazer... Foram mil dólares pelo pior boquete da minha vida — ele zomba, não se importando em falar baixo — Fora que seria muito fácil, não? Você abre a boca pra eu fuder e leva um salário por isso.

Suas palavras me chocam, mas não deveriam, já vi o suficiente dele para esperar esse tipo de coisa. Ele é uma pessoa baixa, mal caráter e vulgar. Eu o odeio.

— Qual é a porra do seu problema? Pra tratar as pessoas desse jeito, como se fossem lixo! Você não pode fazer e falar o que quiser! — o ataco.

Gustaff da de ombros, sorrindo.

— Meu problema? — questiona e aponta dramaticamente para si mesmo — Eu estou te ajudando, te fazendo um favor e é assim que você me trata? Ou você preferia ir pra alguma esquina e fazer ponto numa noite fria?

Balanço minha cabeça negativamente, me sinto o pior dos homens, e ter crescido em uma instituição católica não ajudava em nada.

— Se precisa de mais dinheiro, e se esse dinheiro vier de mim, você vai ter que trabalhar muito duro por ele, ou então pode ir tentar a sorte com um empreguinho de meio período, mas eu duvido que você encontre algum lugar que pague no mês o que eu te paguei em uma noite — Gustaff fala cada palavra e me atinge com uma onda de cinismo.

Meu estômago embrulha quando me lembro de seu pênis em minha boca, quando me lembro do gosto de semen depois que ele gozou.

— Eu não sou uma prostituta — murmuro. Minha voz falha.

Ele ri se endireitando contra o carro e então olha para um ponto além de mim.

— Você é sim, uma puta muito sortuda. Pode lidar com os seus dilemas morais, me liga quando o dinheiro acabar, mas não demora muito, porque eu posso perder o interesse.

A menina que havia passado por mim na entrada da reitoria volta, os cachos encaracolados de seu cabelo castanho sacodem quando ela se lança nos braços de Gustaff e o abraça, ele a abraça de volta colocando seu rosto na curva do pescoço da moça esguia. Mas que merda é essa?

— Olá — ela acena pra mim.

Retribuo o gesto com um sorriso. Gustaff abre a porta do carro para ela e da a volta no veículo sem dizer mais nenhuma palavra. Eles partem me deixando para trás.

[...]

A lavanderia estava fria, carregada com um cheiro forte de alvejante e saturada com o barulho das máquinas. Assim que chego caminho até a recepção, o rapaz que está atrás do balcão me atende sem muita vontade. Troco uma nota de vinte em moedas e arrasto a grande sacola preta de lixo comigo.

Caminho até o fundo da loja, onde haviam poucas máquinas desocupadas. Abro duas delas e começo a emchê-las com minhas roupas, que não eram muitas, pego o sabão ao lado e deposito na caixinha e em seguida enfio as moedas no compartimento próprio para isso.

Enrolo a sacola a amassando entre meus dedos, as roupas levariam uma boa hora para lavar e secar, isso me daria tempo o suficiente para ir até o mercadinho onde os preços eram melhores. E em seguida passar no banco para pagar as contas atrasadas.

Caminho para fora da lavanderia, caminhando lentamente pelas ruas frias da cidade. O movimento de carros e pessoas estavam se intensificando a medida que a hora do rush se aproximava. Alguns quarteirões se passam até que finalmente chego ao meu destino.

Começo a fazer as compras. Com cuidado e tomando algum tempo para poder fazer bem minhas escolhas. Compro alguns quilos de arroz e feijão. E em seguida me concentro na sessão de vegetais. Pego alguns legumes e uma cartela grande ovos. Me dirijo ao caixa e termino meu trabalho no local.

O dia havia passado rápido, e eu não conseguia dominar os pensamentos repetitivos que ocupam minha mente. No caminho de volta até a lavanderia faço meu melhor para manter um ar mais otimista. Mesmo que isso seja quase impossível. As minhas roupas agora estão limpas e secas, prontas para serem tiradas das máquinas.

Realizo a tarefa rapidamente, colocando as peças de volta no saco onde elas vieram. Deixo o estabelecimento e vou direto para casa, na intenção de deixar as roupas, as compras que eu havia acabado de fazer e sair novamente para o banco.

Fico feliz por ter o que fazer, pois dessa forma poderia adiar a inevitável decisão que precisava ser tomada. Mas não era como houvesse alguma escolha.

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