COLD.
Depois de deixar minhas roupas e compras em casa, passo o restante do dia no banco. As contas de água e luz estavam finalmente pagas. E isso me trazia um alívio que já não sentia a algum tempo.
Me manter ocupado durante a maior parte do dia me ajudou a manter Gustaff longe de meus pensamentos. Mas agora, aqui, sentado no chão de meu pequeno apartamento o silêncio levava minha mente de volta até ele.
Respiro fundo quando as palavras duras de Gustaff voltam vívidas, e é quase como se eu as estivesse ouvindo de novo, a forma arrogante e debochada com que ele fala me irrita. Mas preciso dele, preciso do dinheiro dele. As mensalidades da faculdade e as próximas contas não iriam se pagar sozinhas. E toda a situação é frustrante. Humilhante. Triste.
Mas a decisão já havia sido tomada, e eu não tenho muita escolha. Mas eu não ia falar com ele hoje, nem amanhã. Eu tinha suprimentos pra alguns dias e as mensalidades iam começar a ser cobradas apenas no próximo mês.
Me levanto do chão, me apoiando na moldura da janela para me erguer. A energia ainda não havia sido ligada, o que faz meus olhos arderem por tentar estudar a luz de velas. Fecho os livros e cato minhas anotações, fecho meu estojo e coloco os materiais empilhados contra a parede cuidadosamente.
Os livros eram de segunda mão mas estavam em bom estado, consegui um ótimo preço por eles e sei que se eu for cuidadoso vou poder vendê-los no final do semestre e assim conseguir comprar os novos. Suspiro. Imaginando o quão bom vai ser me formar e ter uma profissão fixa para me dedicar.
Estou no meio do primeiro ano de arquitetura, e sonho com o dia em que vou projetar grandes edifícios e monumentos.
Me pergunto que curso Gustaff faz, e me odeio por não conseguir parar de pensar nele.
Vou em direção a cama, me deitando para poder dormir. A exaustão do dia longo me faz apagar, e eu mergulho em uma noite repleta de sonhos enigmáticos onde o denominador comum é um par de olhos azuis quase cinzas.
[...]
A manhã está agradável, o sol tímido sai por entre as as nuvens e ilumina todo o ambiente dentro da sala de aula. Pego anotações e presto atenção.
A classe estava quase no fim, e depois dessa aula haveria uma pausa para o almoço. E depois, mais três aulas antes que eu pudesse ir pra casa. O professor começa a falar sobre o projeto para o final do semestre, eu precisava melhorar minhas notas e para isso precisaria arrumar um parceiro decente. Alguém que tivesse frequentado as aulas que eu perdi e pudesse me ajudar a passar por esse semestre sem reprovar.
— Hey — alguém chama. Mas não me incomodo de me virar para olhar.
Eu estava nessa aula a alguns meses e nunca ninguém havia falado comigo, então imagino que não será agora que as coisas irão mudar.
— Eliott? — a mesma voz irritada e baixa pergunta. Agora que ouvi meu nome, me viro para trás um pouco receoso.
Uma cabeleira castanha selvagem de cachos entra em meu campo de visão, a moça fica parada de pé me encarando com um sorriso incomodado e sem graça.
— Acho que me confundiu... — digo o óbvio, mas ela balança a cabeça de forma negativa.
— Na verdade não, você não me conhece, mas, eu achei que nós poderíamos fazer o projeto juntos — ela oferece.
Minhas sobrancelhas se erguem em surpresa, talvez ela fosse nova na turma e não tivesse feito amigos ainda, mas isso não explicava como ela sabia meu nome.
— Eu adoraria... — aceito a oferta, e dou uma pausa esperando que ela me diga seu nome.
— Abby.
— Eu adoraria Abby — completo — Nós podemos combinar no final da aula e ... — digo olhando ao redor. Finalmente reparando que ela está segurando seus livros e sua bolsa, olho ao nosso redor e percebo que a aula já havia acabado — Bom, podemos combinar agora se estiver tudo bem pra você.
— Claro, vai ser ótimo.
Começo a guardar minhas coisas, enquanto Abby espera.
— Como você sabia meu nome Abby? — resolvo perguntar, ainda intrigado.
A encaro por alguns segundos até ela dar de ombros.
— Eu acabei de me transferir pra essa aula, e o Gustaff disse que eu deveria... — pisco algumas vezes para poder assimilar o que ela está dizendo.
E não consigo ouvir nada do que ela diz depois do nome dele, Gustaff? O que ele tinha haver com esse projeto?
— Desculpa? — pergunto sacudindo minha cabeça como se isso pudesse afastar toda a confusão que estava dentro dela — Você disse Gustaff?
Agora é a moça a minha frente que parece confusa, Abby concorda lentamente antes de voltar a falar.
— Sim, ele disse que você estava meio pra trás nessa matéria, e que eu podia te ajudar — ela parecia um pouco desapontada, e até mesmo entediada por ter que me explicar.
Mas eu não ligo, quero saber o que ele estava pensando mandando uma desconhecida atrás de mim.
— Abby, olha... — começo, mas ela me interrompe.
—Eliott, tudo bem, nós vamos fazer esse projeto juntos e quem sabe no futuro nós podemos ser amigos? Olha, eu não quero nem saber o que rola entre você e o Gustaff, e não vai ser nenhum sacrifício pra mim já que não conheço ninguém...
Balanço minha cabeça de forma positiva, não era como se eu estivesse em posição de recusar uma ajuda que eu precisava. Eu só odiava que isso também viesse dele. Nós saímos da sala, Abby começa a falar sobre o projeto e as ideias que ela havia tido, mas não presto atenção. Minha mente dispersa e um incômodo toma conta de mim.
Meu coração se acelera quando saímos para a área externa do campos e meus olhos encontram os dele. Como se fôssemos ímãs, mais uma vez estávamos juntos no mesmo lugar.
Gustaff está de pé perto do muro rodeado de pessoas, ele não demostra nenhuma emoção quando me vê, ele me ignora. E não sei se estou feliz ou incomodado por isso.
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MONEY.
RomanceQuando as coisas não saem como planejado, Eliott observa a espiral desafortunada que se torna sua vida. Prestes a ser despejado, as contas vencidas se acumulando e se misturando a novas contas que estão prestes a vencer. Já não há luz ou água ou com...