GANG.
Abby caminha na minha frente e encontra uma mesa vazia no pátio, o dia está agradável, e o ambiente está cheio com o barulho das incontáveis vozes que conversam entre si.
Estou disperso e distraído, mas não queria estar. O olhar frio e arrogante de Gustaff estava me dando nos nervos. E o fato de eu sequer ligar para isso me deixava ainda mais frustrado.
— Ele ameaçou você? — pergunto debochado, enquanto me sento no espaço a frente de Abby, do outro lado da mesa.
Ela revira olhos, sua postura muda e ela já não me parece assim tão doce.
— Não — me responde no mesmo tom, não preciso citar ele para que ela saiba do que estou falando.
Além do projeto que tinha acabado de surgir, Gustaff era o único tópico que tínhamos em comum.
— Se vamos fazer isso eu preciso saber — começo, porque havia algo ali e eu preciso saber o que é. O que ele tem assim de tão importante que influencia todos ao seu redor.
Ela suspira lentamente enquanto tira um saco transparente com cerejas de dentro de sua bolsa. Ela abre o zíper que desliza com um som suave, enfia sua mão dentro e pesca uma pequena bolinha vermelha com a ponta de seus dedos.
— Bom, foi meio inesperado, eu confesso — ela começa enquanto mastiga entre as sentenças — Nós já tínhamos nos visto algumas vezes, mas nunca tínhamos nos falado, tipo, nenhuma conversa real sabe? Mas quando meu pai disse ao pai dele que eu estava me transferindo... Bum! — Abby diz teatralmente, encenando uma explosão com as mãos — Pela primeira vez, o incrivelmente lindo Gustaff me viu, e além disso, me pediu um favor — ela da de ombros, esperando minha resposta em relação as informações que me foram dadas.
Mas, honestamente, não sei o que dizer. Gustaff estava fazendo algo para me ajudar? Pelo pouco que conheço dele, não acredito que esse seja o motivo. Um frio sobe por minha espinha quando imagino o que ele pode pedir em troca.
— Seu pai conhece o pai dele?
Ela balança sua cabeça positivamente.
— Eles trabalham juntos — responde. E então minha cabeça se acende com a possibilidade de descobrir um pouco mais sobre ele.
— Onde? — questiono, abrindo minha mochila para poder pegar minha maçã.
Abby ergue suas sobrancelhas para mim, como se a pergunta que eu acabei de fazer fosse a mais idiota do mundo.
— Tá brincando né? — ela me pergunta, seus lábios assumindo um tom profundo de vermelho, assim como as pontas de seus dedos. As cerejas, é claro. Eu nego rapidamente, dando a primeira mordida em minha fruta — Você não sabe quem o pai dele é? — questiona de novo, e eu faço a minha melhor cara de paisagem quando ela me lança um olhar chocado.
Nós devíamos estar falando sobre o projeto, mas todo esse mistério era bem mais interessante.
— Bom, por que eu deveria saber?
— Achei que fossem amigos, por que ele ia me pedir pra ajudar se vocês não são? — ela pergunta desconfiada, e eu dou de ombros.
— Perguntei primeiro, Abby, então... vai me dizer ou não?
— O Gustaff é filho do governador — ela diz como se fosse óbvio, e me observa atentamente.
Tenho que me concentrar para evitar o pequeno engasgo que insiste em bloquear minha garganta.
— O que? — pergunto chocado, — Que governador?
— August Hunter.
Minha boca cai aberta quando ouço Abby dizer o nome. August Hunter era conservador e fazia campanha contra os diretos LGBT+. Uma gargalha explode através de mim e não posso controlar o nervoso que toma conta de todo o meu corpo.
Eu podia ameaçar ele, chantagear ele... O que o governador faria se descobrisse que o seu filho estava dando o dinheiro conservador do papai em troca de relações homossexuais? Isso era algo com que eu podia trabalhar.
— Por que tá rindo? — Abby pergunta com um sorriso vermelho.
— Acho que ele é gay... — digo ironicamente, em tom de piada.
É a vez de Abby gargalhar, sacudindo sua cabeça de um lado para outro enquanto seu rosto fica rosa.
— Acho que a gente vai ter que contar isso pra namorada dele — uma ponta de remorço me incomoda.
— Ele namora?
— Tá vendo a garota alta perto dele? — Abby inclina sua cabeça para a direita discretamente.
Me viro para olhar, eu já tinha visto a moça alta antes. Ele estava esperando ela quando nós nos encontramos na saída da reitoria.
— Aquela é a Mia, namorada dele... o rapaz de cabelo escuro da esquerda é o Héctor, o loiro da direito é o Marcus e o outro mau encarado é o Joe, ele são tipo, uma gangue — ela fala e revira os olhos.
Concordo enquanto observo as pessoas que ela cita. Pra mim eles não se parecem com uma gangue, na real, eles se parecem com uma banda de rock teen. Todos eles são lindos, o que torna tudo ainda mais ridículo.
— Gangue? O filho do conservador? Até parece — zombo.
— Porra, ele tá vindo pra cá — Abby chia.
— O que?
Olho por cima do ombro e todos os pelos do meu corpo se arrepiam, um nó se forma em minha garganta e de repente se torna difícil engolir. Gustaff surge ao meu lado um segundo depois, ele está acompanhado de dois de seus amigos, eles me encaram de cima e toda a situação é intimidadora.
Observo em silêncio enquanto Gustaff da a volta na mesa e se senta casualmente ao lado de Abby. Os amigos dele, que eu não lembrava os nomes mesmo que houvessem sido apontados por Abby, permanecem de pé ao nosso redor. O de cabelo escuro fica em silêncio com as mãos nos bolsos do casaco enquanto o mau encarado nos observa com um sorriso esquisito no rosto.
— O que é tão engraçado? — Gustaff finalmente diz.
Mas não consigo responder, uma onda de vergonha, desconforto e medo me atravessa. E é como se eu perdesse o dom da fala.
— Nada, nós só estávamos falando sobre o projeto — Abby responde, destemida e debochada. É como se ela tivesse mil personalidades.
Mas gosto do jeito ácido com que ela o trata, como se o estivesse desafiando.
— Legal — ele diz, e então sua atenção volta para mim. E meu coração pula, batendo tão rápido e forte que por um segundo acho que as pessoas ao meu redor são capazes de ouvir — Espero que vocês trabalhem bem juntos.
Ele completa e da de ombros, roubando uma cereja do saquinho de Abby. Gustaff se levanta, nos da as costas e caminha lentamente de volta para seu grupo. Sendo seguido por seus lacaios.
Levo minha mão a testa e sinto o suor que se forma rapidamente sobre minha pele. E meu coração continua acelerado.
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MONEY.
RomanceQuando as coisas não saem como planejado, Eliott observa a espiral desafortunada que se torna sua vida. Prestes a ser despejado, as contas vencidas se acumulando e se misturando a novas contas que estão prestes a vencer. Já não há luz ou água ou com...