RULES(PART1)
Eu enfio as mãos nos bolsos de meu casaco, o calor do dia ensolarado havia se dissipado e mesmo que a noite estivesse acompanhada de um céu limpo e estrelado o frio ainda assim insistia em marcar presença. Me balanço para frente e para trás de forma ansiosa enquanto espero do lado de fora do prédio.
Não sabia exatamente quanto tempo havia passado, mas em minha cabeça ele estava demorando demais.
Quando meus olhos percebem o carro dobrando a esquina, uma urgência surge em meu peito me implorando para fugir, tudo o que eu quero é virar as costas, voltar para dentro do prédio e me aquecer em meu apartamento. Mas quando Gustaff estaciona silenciosamente e abre a porta para que eu entre no carro é tarde de mais.
— Boa noite — digo assim que me sento ao seu lado no banco do carona e me sinto imediatamente idiota quando ele não responde.
'Boa noite?' Boa pra quem? Me estapeio mentalmente.
Gustaff me encara sério, como se sorrir fosse doloroso demais para tentar. Solto uma risadinha de escárnio quando o pensamento me ocorre, o que eu estava esperando? Que ele fosse sorrir pra mim?
— Aonde estamos indo? — questiono impaciente quando o carro entra em movimento, a ansiedade dando lugar ao medo.
Percebo o quão irônico a situação toda é, eu, que sugeri esse encontro para impor limites e me sentir menos impotente havia mais uma vez me colocado em uma situação onde estou vulnerável.
Gustaff desvia seus olhos para mim por um segundo e então fala comigo pela primeira vez.
— Você realmente não consegue esperar, não é? — me pergunta, para minha surpresa sua voz está calma e macia, nada como a carranca em sua cara.
— É só que a ideia de ir rumo ao desconhecido com você no meio da noite não me parece assim tão tentadora — rebato sarcasticamente. Observo atentamente quando a expressão de Gustaff muda e talvez até transparecesse um ar de divertimento.
Quando me dou conta de que meu coração já não está tão acelerado e eu já não estou tão desconfortável na presença dele, me ocorre que talvez estivéssemos começando a nos habituar um ao outro. E de certa forma isso me alivia.
— Estamos quase chegando — ele diz olhando para seu relógio enquanto paramos em um sinal — É uma surpresa — Gustaff me provoca.
Me pergunto se em algum lugar bem lá no fundo talvez ele fosse um ser humano decente, mas descarto a possibilidade quando me lembro da natureza de nossa relação. Eu aceno positivamente e me mantenho em silêncio pelo resto da viagem.
Quando Gustaff entra em uma lenta e comprida fila de carros meus olhos se arregalam enquanto me estico contra a janela para olhar as luzes. A música infantil ambiente e o som de movimento me deixam animado quase que instantaneamente.
— Surpresa — Gustaff disse sarcástico quando finalmente entramos no estacionamento.
Quando saio do carro o cheiro de doce e o som do parque de diversões me atinge é impossível segurar um sorriso, caminho pelos cascalhos do estacionamento ansioso para chegar logo ao parque e por alguns momentos esqueço que Gustaff está atrás de mim.
As pessoas estão aglomeradas em filas por toda parte e os sorrisos e conversas animadas são contagiantes. Quase dou um pulo quando sinto os dedos longos e frios de Gustaff tocarem meu ombro, me viro para trás e encaro sua figura alta. Ele me encara por um instante antes de falar.
— Preciso resolver um assunto, vai até a roda gigante e depois vira à direita, tem uma pracinha de alimentação, pede o que quiser e me espera lá — as instruções são dadas de forma tão firme que fica claro que não estávamos aqui para nos divertir. Eu aceno de forma positiva e então começo a andar.
Não me importo em espiar em que direção Gustaff estava indo, a julgar pela sua expressão, coisa boa ele não ia fazer. O ar estava definitivamente mais quente aqui e a caminhada iria me distrair, faço exatamente como ele mandou, passo por jovens e famílias até finalmente alcançar a roda gigante, me esgueirando pela multidão até encontrar as pequenas mesas organizadas na praça a que ele havia se referido. Por um milagre haviam algumas pessoas se levantando e eu fui rápido o suficiente para pegar um lugar. Logo uma moça vestida com blusa branca e avental xadrez veio me mostrar o cardápio.
Pedi o maior cachorro quente que havia disponível no menu e uma cerveja, já fazia tempo desde que eu havia saído para comer 'besteiras' por diversão e a certeza de que Gustaff pagaria me deixou pensando no que eu pediria como sobremesa.
Enquanto espero observo o ambiente familiar e me dou conta de quão inapropriado esse encontro era... a palavra 'encontro' ecoa em minha cabeça, é impossível não me sentir confuso quando penso em quais poderiam ser os motivos de Gustaff. Tento me convencer de que desde que ele esteja pagando minhas contas, não devo me importar, mas na prática não é tão fácil quando em teoria.
Quando ele surge em minha direção, dou uma boa olhada nele pela primeira vez esta noite, ele está vestido com uma blusa de gola alta que deduzo ser de mangas compridas, calça jeans e botas, tudo preto, exceto pelo sobretudo azul acinzentado que cobre seu corpo do pescoço até pouco abaixo dos joelhos. Com suas mãos enfiadas nos bolsos e o casaco aberto que ondula ao seu redor enquanto ele caminha, Gustaff se move como se ele fosse dono de tudo o que já existiu na face da terra. As pessoas lançam olhares e as jovens da mesa ao lado cochicham excitadas umas com as outras e isso me irrita.
— Olha só quem resolveu aparecer... — debocho e meu bom humor quase transparece através de meu sarcasmo. Eu estava prestes a me empanturrar e haviam poucas coisas que poderiam me tirar a felicidade desse momento.
— Já pediu alguma coisa? — Gustaff pergunta me ignorando completamente, ele puxa uma cadeira e se senta de frente pra mim.
Mordo o interior de minha bochecha e então concordo, eu o observo atentamente enquanto o vejo puxar sua mão de um de seus bolsos e trazer para fora sua carteira de cigarros junto com um isqueiro.
— Pode começar a falar — ele murmura com o cigarro já em seus lábios.
— Será que você poderia evitar fumar na minha presença? — digo fazendo uma careta.
Gustaff levanta suas sobrancelhas em minha direção e então segue fumando como se não houvesse amanhã, um arrepio sobe através de minha espinha e arrepia todos os pelos de meu corpo quando ele fixa seus olhos em mim e me encara sem dizer sequer uma palavra.
Me pergunto o que se passa na cabeça dele, desejo saber cada um dos pensamentos que me envolvem, mas estou feliz por não ter esse poder... não sei se conseguiria controlar meus próprios sentimentos ou reação se soubesse o que se passa nessa mente pervertida e diabólica.
— Com licença — a garçonete sorridente volta com o meu pedido e pergunta a Gustaff se ele vai querer algo de uma forma muito sugestiva.
Minha boca cai aberta quando Gustaff responde ela de forma ainda mais sugestiva pedindo por uma cerveja.
— Eu poderia me levantar pra vocês usarem a mesa como cama — digo chocado com tamanha cara de pau quando ela se afasta.
Gustaff solta um sorriso sexy e atraente, não consigo entender seus motivos por estar pagando por sexo... ainda mais, sexo comigo. Tenho certeza de que a situação com a garçonete se repetia com frequência a julgar pela naturalidade com que ele reagiu.
— Com ciúmes meu amor? — ele debocha, — Vai me dizer o motivo de estarmos aqui?
Suspiro dando uma grande mordida no meu lanche, era agora ou nunca.
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Espero que tenham gostado do capítulo novo! Não se esqueçam de votar e comentar <3
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MONEY.
RomanceQuando as coisas não saem como planejado, Eliott observa a espiral desafortunada que se torna sua vida. Prestes a ser despejado, as contas vencidas se acumulando e se misturando a novas contas que estão prestes a vencer. Já não há luz ou água ou com...