24. Ben

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Catherine era uma visão maravilhosa. Linda naquelas vestes brancas contrastando com sua pele negra perfeita. Ele sorria em sua direção, e seu cabelo pendia sobre os ombros, livres e mais fortes e cheios de vida do que nunca. Era a Cathe que ele conhecera e se apaixonara na época do colegial, e não havia nenhum sinal do câncer que a consumiu.

Toda aquela paz e o cenário branco e imaculado decorado com o céu azul e as plantas de cores vivas e variadas o fizeram pensar se seria um sonho, mas o toque da sua amada em suas mãos o fez repensar.

Ele se lembrava daquele toque, e desde que a doença a levou ele sonhava em senti-lo novamente, mas ele se lembrava também de estar no cemitério, de ser atacado por cadáveres possuídos, e de Raguel e Gabriel, que lutaram como os arcanjos homônimos contra o demônio.

Estaria ele morto? Subjugado por aquele demônio covarde, e agora teria enfim se juntado à sua amada em uma espécie de paraíso? Por mais que quisesse estar ali com ela, ele sabia que Mikael precisaria dele, mas decidiu viver aquele momento.

_ Agora podemos ficar juntos Benny! _ Ela disse, sentando-se em seu colo, na cadeira de balanço onde estava. _ Essa é a casa que sonhamos em ter, e em breve o Mick se juntará a nós.

_ Então eu morri? _ Ele perguntou, olhando em seus olhos. _ Simples assim?

_ Sempre foi simples querido. _ Ela respondeu, aninhando-se em seu peito. _ Nós é que complicamos as coisas.

_ Mas eu não devia ter vindo agora. _ Lamentou-se ele. _ Eu ainda tinha uma missão...

_ Você fez o melhor que pôde. _ Ela o interrompeu. _ Deixe para os mais jovens agora e apenas descanse. Não é isso o que a sua alma deseja desde que a Cathe morreu?

O nome dito em terceira pessoa o deixou em alerta, e olhando em seus braços haviam apenas cinzas, e o cenário ao seu redor se transformou. Agora tudo estava escuro e morto, no horizonte chamas vermelhas queimavam em uma linha espessa que ia até onde ele podia ver e a paz que sentia segundos antes, deu lugar á uma pressão angustiante de desespero.

_ Quem é você? _ Ele gritou, olhando ao redor e recebendo de volta uma gargalhada sombria vinda de todo lugar e lugar nenhum.

_ Eu sou e já fui muitas coisas! _ Disse uma voz animalesca e gutural. _ Mas neste momento eu sou o pastor Benedict Higgins!

Grandes olhos vermelhos e demoníacos surgiram rasgando os céus acima dele, e uma pressão sombria o fez cair de joelhos. Aos poucos ele assimilava o que estava acontecendo, e flashes da batalha do cemitério surgiram na sua frente.

Enquanto as chamas do poder de Gabriel envolviam o cadáver preso à parede, uma sombra o deixou e irrompeu em direção ao púlpito onde ele se protegia e o possuiu.

Agora estava preso em algum lugar de sua própria mente, e seu corpo estava sendo controlado por um demônio. Precisava encontrar um jeito de se libertar, ou de avisar os jovens antes que fizesse algo contra eles.

_ Não tem jeito Benny! _ O demônio disse, agora com a voz de Cathe. _ Eu ouço tudo o que pensa. Não vai conseguir escapar.

_ Pelo visto tem acesso a tudo o que sei também. _ O pastor disse depois de dar uma gargalhada confiante que aparentemente pegou o demônio de surpresa. _ Se você também sabe o que eles são então sabe que não tem chance, não é?

_ Independente do poder que eles carregam Pastor, _ A voz gritou, voltando a ser demoníaca e a pressionar Ben contra o chão. _ Eles continuam sendo crianças humanas, e seus sentimentos os deixam fracos. Eles gostam do senhor Ben, e ele os matará enquanto dormem!

Neste momento, Ben só podia sentir o desespero que o espírito demoníaco imprimia sobre o seu, e não via saída. Pelo visto nunca mais veria Mikael, e só restava torcer para que Gabriel e Raguel percebessem a possessão e se não pudessem revertê-la, que ao menos tivessem força para matá-lo.

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