17. Raphael

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Raphael mal conseguiu dormir pensando naquele beijo, mas sentia-se bem-humorado e bem disposto. Preparava um café reforçado para seu paciente, que provavelmente acordaria faminto e precisava se recuperar logo para que eles pudessem voltar ao hospital.

No início ele pensou que talvez Mikael o tenha beijado por carência, devido a ele ter oferecido ajuda no momento em que ele mais precisava, mas lembrando da paixão com que ele o abraçou e a força com que o beijou, ele concluiu que o sentimento era real e recíproco. Mas temia que algo mudasse quando o pai dele se recuperasse. Como um Pastor reagiria ao relacionamento gay do filho? E se não aprovar, será que Mikael vai desafiá-lo, ou será o fim desse sonho que acabou de começar?

O jeito era segurar a ansiedade e não sofrer com antecedência, então preparou a mesa com o café da manhã e foi ao quarto verificar se o professor estava acordado.

_ Bom dia, professor! Ele disse entrando no quarto e vendo que o professor estava acordado. _ Está com uma ótima aparência, então que tal retirarmos essas punções, e o senhor tomar um banho para tomar o café da manhã que eu preparei?

_ Você é muito atencioso, meu jovem! _ Respondeu Jeremias, sorrindo. _ Imagino que faça um excelente trabalho como enfermeiro.

_ Às vezes eu acho que nasci para isso! _ Raphael respondeu sorrindo. _ Desde quando era voluntário lá no orfanato, eu me sinto feliz quado estou cuidando dos outros!

_ Um espírito altruísta! _ O professor exclamou, enquanto o enfermeiro retirava as punções. _ Como Deus pode abandonar pessoas como você, e preferir pessoas como eu. Não faz sentido algum.

_ Imagino que a placa que o senhor encontrou, nos explique melhor essa excolha. _ O jovem perguntou, enquanto o professor se levantava e alongava músculos e ossos._ E por falar nisso, ela não estava no suporte quando chegamos. Aquela motoqueira a roubou?

_ Não, ela não era uma ladra! _ Ele respondeu enquanto ia em direção do banheiro. _ Ela de alguma forma sabia que eu precisava de ajuda, e veio. Ela sabia que vocês viriam também.

_ Quanto à placa, _ Ele continuou, antes que Raphael saísse do quarto. _ Em meu último rompante de egoísmo, eu pedi a Louise que a guardasse em lugar seguro, para que no caso de eu morrer, ninguém a encontrasse.

_ Então devemos agradecer a motoqueira misteriosa,_ Raphael disse, enquanto caminhava até a porta. _ Se não fosse por ela, nunca veríamos a placa novamente.

Voltando até a cozinha, Raphael pegou uma xícara de café e seguiu até a varanda que na noite anterior foi testemunha do beijo deles. Olhando para o céu agora claro e sem nuvens, ele pensava em quem seria essa motoqueira que salvou o professor, e sabia que eles apareceriam para ajudá-lo depois. Será que essa capacidade de prever as coisas também era um dom, como o que ele e Mikael haviam despertado?

_ Tomara que nossos caminhos se cruzem novamente. _ Ele disse para si mesmo, como se falasse para ela em pensamento. _ Estou morto de curiosidade!

Ali na varanda daquela mansão, olhando as outras casas igualmente luxuosas ao redor, parecia que nada havia acontecido, e que todo o caos que viu desde a manhã do dia anterior não passava de um pesadelo. Será que o mundo um dia se recuperaria disso? Ou será que essas feridas só piorariam com o tempo?

As emissoras de televisão já haviam parado suas transmissões, e apenas algumas rádios piratas estavam no ar, telefones e Internet ainda funcionavam, mas parecia que era questão de tempo até que parassem também.

Foram apenas seis horas sem sol, depois do sumiço dos "gênios da humanidade", mas parece que o caos não havia acabado junto com a escuridão, e apesar dessa paz que ele sentia ali naquela varanda enquanto tomava seu café, em seu interior ele sentia que o mal estava livre para agir no mundo, e o próprio ar parecia carregado de más intenções.

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