20. Mikael

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_ Que bom que acordou garoto! _ Uma voz masculina estranha disse, enquanto ele abria os olhos. Sua cabeça doída tanto que não conseguiu erguer seus olhos para ver o rosto de quem falava. _ Você apagou por umas trinta horas, mas em vista da pancada que levou, até que você acordou bem rápido.

Tentando mexer braços e pernas, ele viu que estavam amarrados na cadeira dura onde estava sentado, e seu corpo todo doía. Tentou mais uma vez levantar a cabeça a fim de olhar para o homem que estava á sua frente, mas era como se uma agulha fosse cravada atrás de seus olhos sempre que tentava, então preferiu permanecer com ela voltada para o chão, e tentou se lembrar do que aconteceu.

_ Vamos Mikael! _ Ele pensou consigo mesmo, esforçando-se em lembrar do que aconteceu e de porque estava ali. _ Você precisa se concentrar.

Lembrava-se do beijo que deu em Raphael, e de tê-lo deixado na casa do professor Veccio. Depois havia seguido de moto até atravessar a ponte onde deixaram a ambulância, onde, tendo a ideia de levar comida e provisões até o hospital, resolveu trocá-la por um carro e desviando seu caminho até o centro comercial da cidade, ele foi até o supermercado.

A partir dali não conseguia se lembrar de mais nada até acordar preso àquela cadeira e ouvir esse homem falar. A dor que sentia na cabeça e nos ossos, o fez pensar que talvez a pancada que ele mencionou, rendera a ele essa amnésia.

_ Quem é você? _ Mikael perguntou, depois de conseguir erguer os olhos ao troco de muita dor, e olhar o homem que estava sentado a sua frente. Ele não era velho, mas possuía um ar experiente que poderia ter sido adquirido às custas de muito treinamento e talvez pelo fato de ser militar. O corte de cabelo, a postura disciplinada e as roupas e tatuagens dele confirmava que era um soldado. _Onde eu estou e por que eu estou preso?

_Calma rapaz, uma pergunta de cada vez. _ O homem disse, tranquilamente. _ Nós temos muito tempo.

_ Meu nome é Neil Saunders. _ Ele continuou, e ao ouvir esse nome, o sangue de Mikael congelou, e toda a cena da igreja voltou a sua mente com uma pancada, deixando-o tonto e embrulhando-lhe o estômago. _ E por essa sua expressão vejo que respondi todas as suas perguntas.

_ Eles queriam matar o meu pai! _ Mikael explodiu, sabendo que estava em perigo. Aquele homem queria vingança, e com certeza procurava o seu pai. _ Não...

_Queriam matar o seu pai, _ Neil disse, levantando-se e se aproximando dele. _ E vocês mataram o meu!

_ Não... _ Mikael começou a dizer mas foi interrompido bruscamente por Neil que lhe desferiu um forte soco no rosto, fazendo-o cuspir sangue.

_ Cale-se! _ Neil ordenou, enquanto ajeitava o soco inglês que tinha no punho que desferiu o golpe. _ Agora você irá só ouvir!

_ Você disse que queriam matar o seu pai. _Continuou ele, agora andando de um lado para o outro. _ Isso já me diz que o pastor ainda está vivo, então só falta me dizer onde ele está.

_ Eu nunca te direi onde ele está! _ Mikael disse, num rompante de coragem que fez Neil ameaçar outro soco, mas por algum motivo não o fez. _ Não importa o que faça comigo.

_Coragem e lealdade, eu admiro isso! _ Neil disse, enquanto arrastava uma cadeira e assentava-se em frente a ele. _Você seria um bom soldado, mas nos estamos em lados opostos e eu já arranquei segredos maiores de homens treinados e não acho que você será um desafio.

_ Sabe Mick... posso te chamar de Mick, não posso? _ Neil perguntou ironicamente e sem obter resposta continuou. _ Eu conheci o pastor Higgins. Uma vez meu pai o pediu para me aconselhar pelo fato de eu não querer segui-lo para a igreja. Ele parecia ser um homem bom, que realmente acreditava no que pregava, mas não conseguiu me convencer, e eu fui para o exército depois disso.

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