37. Mikael

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Mikael correu com Nick em seus braços pelos corredores do hospital rumo aos leitos. Enquanto via a jovem desfalecida, flashes de seu pai carregando a sua mãe quase morta pelos corredores desse mesmo hospital vieram à sua mente. Na ocasião ele só ficou observando a cena, e foi a última vez que viu sua mãe com vida.

_ Aguente firme Nick! _ Ele repetia desesperadamente, mas ela parecia não ouvir, e seus olhos já estavam distantes como se a vida os estivesse deixando. _ Não vá Nick, o Rapha já está chegando, ele vai curar você!

Não adiantava ele falar, era como se ela estivesse distante e ao colocá-la no leito ainda a viu olhar na sua direção com o olhar vazio e tentar falar algo, mas nada saiu. 

Vendo a amiga fechar os olhos, Mikael chorou. Chorou por não poder fazer nada e por gostar dela. Por diversas vezes nesse pouco tempo que eles se conheciam, Nick salvou sua vida, e para salvar seu pai ela levou esse ferimento que agora está sugando sua vida.

_ Onde você está Rapha? _ Ele perguntou para o nada, enquanto colava sua testa na dela e chorava. _ Eu preciso de você mais uma vez!

_ Ele já deve estar chegando, Filho. _ Ben disse entrando na sala, e vendo o sofrimento do jovem, se aproximou e o abraçou forte, deixando-o chorar em seu ombro. _ Ela vai conseguir, Mick.

_ Para que serve esses poderes, pai? _ Mikael perguntou, ainda com o rosto enterrado no ombro do pastor. _ Se eu não posso salvá-la?

_ Eu diria para ter fé em Deus, mas parece que ele próprio perdeu a fé em nós. _ O pastor começou a falar tentando acalmá-lo. _ Então tudo o que nos resta é torcer para os garotos chegarem logo.

_ Ela gosta de mim pai. _ O jovem disse olhando para o mais velho. _ Eu disse a ela que não ia dar certo entre nós, por que eu.. _ Mikael interrompeu a fala e olhou nos olhos do pai, para ver que Ben o olhava com um olhar compreensivo e fraterno. 

_ Por que você é gay. _ Ben completou, vendo a dificuldade do filho em assumir aquilo. _ Sabe Mick, por séculos vivemos em um mundo cheio de pessoas mesquinhas e preconceituosas, mas agora que aquele mundo acabou acho que está na hora de deixar todo preconceito morrer com ele. Então você pode me dizer o que quiser, que eu vou respeitar e apoiar.

_ Na verdade eu ia dizer: "porque eu amo o Raphael". _ Ele completou, parecendo estar aliviado em admitir isso. _ Mas acho que isso quer dizer que eu sou gay, né?

Eles riram e se abraçam por algum tempo. Era bom ter seu pai de volta e aquele abraço era o que sempre lhe dava força nos momentos de indecisão. Permaneceram juntos olhando a jovem, que tinha a respiração pesada, como se pudesse parar de respirar a qualquer momento.

_ Senhor Ben, Mick. _ Will chamou entrando pela porta e se aproximando ainda mancando um pouco. Ele não havia se recuperado totalmente da surra que levou dos soldados ainda. _ Eu preparei algo para comerem. Podem ir, eu fico com a Nick, vocês precisam se alimentar!

_ Tudo bem Will, nós iremos! _ Ben respondeu, puxando o filho antes que este pudesse recusar. _ Obrigado. Encontre alguns cobertores para ela!

_ Pode deixar! _ Will respondeu, enquanto saiam. _ E Mick, ela vai ficar bem. É da Nick fodona que estamos falando!

Mikael deu um sorriso para o outro jovem e se deixou levar para o refeitório. Will estava fazendo um bom trabalho ali, e com ajuda de seus conhecimentos em nutrição, ele organizou um cardápio e catalogou os mantimentos que precisavam, para que os outros jovens os conseguissem em incursões pela cidade. O soldado havia preparado sanduíches de pão de forma, patê de frango desfiado e queijo suficientes para todos, inclusive os que estavam para chegar.

_ Pai. _ Mikael começou a falar, sentando-se á mesa de frente para o pai, após ambos se servirem de sanduíches. _ O que o senhor se lembra do Demônio que foi atrás da placa?

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