27. Nick

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Aproveitando que Mikael distraia o demônio, ela se lançou para dentro do corpo do pastor, e caiu em um lugar totalmente escuro.

Caminhando pelo local, imagens em quadros começaram a aparecer nas paredes negras como em uma exposição de arte. Eram cenas tristes e felizes, que ela identificou como sendo as lembranças do pastor.

Continuou andando entre as memórias até parar de frente para uma em específico que chamou sua atenção, e estendendo a mão para tocá-la sentiu que sua superfície não era sólida e tremulou como a água quando é tocada. Levando a mão mais adiante, conseguiu transpassá-la e deduziu que era uma espécie de portal que decidiu prontamente atravessar, e lançou-se através do mesmo.

Agora um cenário magnífico estava à sua frente, uma casa bonita, com uma varanda daquelas que dá vontade de assistir ao pôr do sol sentado em suas cadeiras de balanço, ou tirar um cochilo em sua rede ao entardecer. Ao seu redor, em cores vivas um belo céu azul e flores multicoloridas completavam a paisagem dos sonhos.

_Com certeza era um lugar que eu gostaria de viver na velhice. _ Ela pensou enquanto olhava ao redor em busca do pastor ou da criatura que pretendia expulsar dali.

Um brilho amarelado circulava o seu corpo, como se quisesse mostrar que ela não pertencia ao local, como uma espécie de parasita que o corpo quer expulsar, mas esse brilho lhe dava coragem para explorar a região.

Decidiu então se aproximar da casa, pois já que era o subconsciente do pastor, ele poderia estar se escondendo ou sendo mantido refém em algum lugar lá dentro.

Lembrou-se de quando precisou possuir o soldado durante o resgate de Mikael, e de como passou a dominar todas as lembranças do mesmo, dessa forma deduziu que a criatura que estava ali sem ser convidada estava no comando, e não fazia idéia do que acontecia quando dois espíritos possuíam um terceiro ao mesmo tempo, então deveria ser rápida ou o corpo e a mente do pastor poderiam não suportar a sobrecarga.

Ouviu o som de rosnados vindos de trás da casa e parou a poucos metros da varanda. Pareciam cães e pareciam estar bem nervosos. Decidiu dar mais alguns passos e então viu três grandes rottweilers cercando um cordeiro indefeso.

_ Esses cães devem ser a manifestação dos medos do pastor. _ Ela pensou, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não ser vista, mas antes que um deles pudesse atacar a presa, ela soltou um suspiro involuntário de susto que fez com que os cães se virassem em sua direção.

Todos tinham grandes olhos vermelhos, e espumavam pela boca, mostrando o quão enfurecidos estavam. Num impulso, ela se virou e ao perceber que eles começariam a persegui-la, começou a correr.
Não sabia o que podia acontecer se fosse atingida por eles, mas ali naquele plano, seu espírito parecia sólido e frágil como carne, então tinha que evitá-los a qualquer custo.
Não tinha certeza se suas habilidades de previsão funcionariam ali, mas ainda tinha as habilidades de batalha, porém, precisava de alguma arma para evitar as presas afiadas.

Enquanto corria, percebeu que estava estranhamente rápida, mas devia ser devido a urgência de escapar, então continuou a fuga, dando voltas na casa até que um dos cães se colocou na sua frente cercando-a de ambos os lados.

Sem ter para onde correr, ela se colocou de costas virada para a cerca da varanda, que era feita de madeira, e se preparou para o ataque. A luz amarela que a envolvia antes, não estava mais ao seu redor, mas antes que se perguntasse o porquê, o primeiro monstro atacou, e ela esperando o momento certo se jogou de lado com destreza, fazendo com que ele atingisse violentamente a cerca, partindo-a de modo que as estacas de madeira perfuraram o seu peito, fazendo com que desaparecesse. Sentindo uma dor na palma da mão, percebeu que tinha se ferido na queda, o que comprovou que não era invulnerável ali, e que se fosse atingida, seria o fim do seu plano de salvar o pastor, então sabendo dos riscos, decidiu retomar a fuga ao redor da casa.

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