Moribundo

37 2 0
                                    


Hoje estou só
Fechei as janelas de minha casa e estou a me lamentar em dó
As paredes estão frias, e até  mesmo os cupins já estão de retirada
Minha ave de miséria desde ontem que a vejo empoleirada

O vinho acabou e os barris secaram
Os amigos de peito sinto que agora me abdicaram
Já não sou um refúgio para suas nobres carências
Já estou morto? Pois há até quem me mande condolências

Às noites tento me esquentar ás chamas
Pois tenho me sentido em cólera, por esse exílio que me inflamas
Mas até mesmo o fogo se extingue nessa vergonha que há de mim
Pois a miséria me comprou a alma, e já não há outro fim

Os dias são longos feito a língua do Diabo
E sobre essa cama forrada de meu suor, eu me deixo e desabo
Cada dia menos força sinto
Para me desfazer desse pacto com a morte que não fujo e já pressinto

O que há para me socorrer dessa tragédia?
Os amigos se foram, o vinho secou, e estou em acédia
Já não há escapatória do corvo que hoje mais cedo veio me vender um trato
E para escapar dessa solidão que corrói em meu peito, lhe estendi a mão e assinei esse pré-contrato

Amanhã pela manhã já devo estar em um caixão
E os amigos que antes me renegaram, virão em lágrimas e falsa comiseração
Beberão em minha homenagem, mas em fofocas dirão inverdades
E eu de camarote desse túmulo e seus vermes, estarei de conluio com a felicidade
Pois já não terei  que contar pra vida com esses falsos aliciadores
E a morte será uma amiga, onde estarei em eterna vigia de todos, como milhões de expectadores.


Insônia: O Canto das PoesiasOnde histórias criam vida. Descubra agora