— Como estou?
A voz de Isaac chamou minha atenção logo que saímos de meu pequeno casebre depois de passarmos algum tempo procurando roupas descentes para disfarçamos nossas identidades.
Avaliei suas vestes comuns de um cidadão qualquer e o chapéu velho que cobria praticamente todos os seus fios negros.
— Definitivamente não está como um príncipe, Alteza. — sorri, ajeitando o sombreiro em minha cabeça e guardando um pequeno saco com algumas moedas de troca e minha safira no bolso do vestido.
— Que lástima! Estava contando com meu charme para conseguirmos informações. — passou uma das mãos teatralmente no rosto e eu apenas ri de seu jeito exagerado.
— Temos de ir ou perderemos o restante do dia. — disse, puxando-o pelo braço gentilmente.
Não demorou muito para que chegássemos a uma das entradas do Porto de Bearg, onde havia o cruzamento com a ladeira de acesso às Cidades Reais, justamente no local em que troquei minhas primeiras palavras com Isaac.
Como de costume, Bearg tinha várias naus e demais barcos atracados com mercadorias ou pessoas chegando em Spéir. A movimentação era sempre excessiva, principalmente na Baía dos Mercadores.
— Aquela é a taberna onde eu, Jaqques e alguns de nossos apoiadores costumamos nos encontrar para planejarmos a futura instalação da Marinha de Spéir. — Isaac apontou para uma das construções rústicas da viela onde passávamos.
Analisei a taberna de cima a baixo e franzi a testa ao reconhecer sua entrada e alguns de seus elementos exteriores.
— Estavam em uma reunião quando eu e Heilee os encontramos aqui? — ri, relembrando do momento em que o príncipe jogou pó de pimenta nos guardas e saímos correndo pela Baía.
— Sim, porém uma certa pirata arteira apareceu e quase estragou nossos planos ao trazer a Guarda Real em seu encalço. — comentou, tentando conter uma gargalhada.
Continuamos andando e conversando mais um pouco até começarmos a colocar nosso plano em prática, tentando não parecermos suspeitos ou revelarmos quem éramos.
Perguntávamos pela mulher que Athos descreveu — usava um capuz, carregava uma cesta de maçãs e parecia doente, apesar da voz jovem —, mas todos até o momento disseram que nunca viram tal figura por ali.
Procuramos por todo o restante da manhã pelas vielas da Baía e nenhuma pista foi encontrada. Quando a fome apertou nossos estômagos, Isaac nos levou a uma boa taberna com uma comida excelente e de lá, retornamos às ruas para nossa missão impossível.
Por mais que eu estivesse determinada, Isaac parecia estar ainda mais que eu, não mostrando qualquer traço de desapontamento ou desesperança em achar uma pessoa que sequer vimos alguma vez na vida.
Eu agradecia por ele estar ao meu lado, mesmo que aquela questão não tivesse uma relação direta com ele. E era por isso que acreditava na bondade de Isaac. Ele não media esforços para fazer justiça por quem quer que fosse.
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Spéir: O Porto dos Sonhos [Completo]
Historical FictionSaphira vive como pode em meio às dificuldades enfrentadas pela sua posição social em Spéir, um farto reino irlandês do século XVI. Encontrada e criada por piratas celtas desde a infância, sua principal motivação é descobrir quem ela é com a única p...