Descobrir sobre a safira me trouxe nada mais do que um desconforto crescente em meu interior. Eu simplesmente não consegui responder à rainha com palavras que não fossem sim ou não, além de meros acenos de cabeça durante o restante da nossa conversa.
Meu futuro havia me arruinado. Não que eu não gostaria de pertencer a alguma família nobre, mas sim porque, de agora em diante, eu teria de permanecer no palácio de Ardaigh como uma filha de amigos da rainha até que ela encontrasse minha verdadeira origem.
Como já devem ter imaginado, isso significaria não voltar ao Litoral dos Piratas, provavelmente, nunca mais. E somente pensar nessa hipótese, fazia meu coração se apertar.
Ao menos uma coisa era boa. A rainha permitiu que Heilee permanecesse no palácio como a minha dama de companhia em troca do tal treinamento real que eles fariam conosco.
Pelo que foi dito pela dama Adeline, eram aulas básicas de comportamento, etiqueta e oficinas voltadas para a construção de habilidades femininas. Uma verdadeira doutrinação, eu diria.
Já pela noite, as damas da rainha nos conduziram ao nosso quarto — que felizmente eram no mesmo corredor, mas em direções diferentes.
Algumas criadas vieram me ajudar a trocar o vestido e retirar aquele maldito esganador de pulmões que se chamava espartilho. Não permiti que elas ficassem por muito tempo. Nunca ninguém me serviu e não era agora que eu deixaria isso acontecer.
Da janela, fiquei observando o jardim do palácio banhado pela luz noturna enquanto um vento calmo balançava a camisola que eu vestia.
A dúvida mais cruel em meu coração era sobre meus pais verdadeiros. Será que não me quiseram e me abandonaram? Será que me aceitariam de volta? Eu tinha irmãos ou irmãs?
Tudo era um mistério do meu futuro inconstante mais travesso que os duendes das lendas Celtas.
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Não me lembrava como havia caído no sono na noite anterior, mas me lembrava claramente de como ter acordado naquela manhã.
Bem às seis, Heilee e mais duas criadas instruídas por Adeline foram ao meu quarto. Segundo elas, eu deveria me arrumar para o desjejum com a Família Real e, logo depois, minhas atividades de Lady se iniciariam.
Detestável.
As duas mocinhas mais jovens que eu — Mabel e Fiore — me ajudaram a colocar a vestimenta maldita e o vestido do dia. Era de um azul bem claro com mangas e saia longa. O decote era o suficiente para que o colar simples de pequenas pedras azuis aparecesse em meu pescoço.
Nada de muitas rendas ou desenhos. O destaque eram as fitas que se cruzavam na frente, do peito até a barriga, como se houvesse outra espécie de espartilho ali. Agradeci mentalmente por ser decorativo.
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Spéir: O Porto dos Sonhos [Completo]
Ficção HistóricaSaphira vive como pode em meio às dificuldades enfrentadas pela sua posição social em Spéir, um farto reino irlandês do século XVI. Encontrada e criada por piratas celtas desde a infância, sua principal motivação é descobrir quem ela é com a única p...