Vinte dias depois...
Mesmo que o tempo tenha se passado, minhas mãos e joelhos ainda doíam e se recuperavam das marcas deixadas pelas exageradas punições feitas pela tutora Liséli a mando de Zen.
E por mais estranho que pareça, as últimas semanas têm sido tranquilas em Ardaigh, o que estava me deixando cada vez mais incomodada com toda aquela situação incomum.
Logo após o desjejum, desci para o jardim das rosas para me acalmar um pouco, exatamente como eu tenho feito desde que meu tornozelo se curou e Athos e Mabel foram libertos.
Desta vez, eu possuía um livro em mãos, mas minha mente insistia em não se concentrar nas palavras que se passavam diante de meus olhos sem qualquer significado. A verdade era que eu estava em alerta o tempo todo, além de ter um nó em minha garganta.
Desde o julgamento, havia visto Zen poucas vezes, que incrivelmente estava se mantendo longe de qualquer um que não fosse seus pais. Ao contrário dele, tenho visto as Sullivan com frequência, principalmente no jardim das rosas e nos corredores.
Toda vez que as encontro, recebo alguns comentários descorteses e olhares ameaçadores. É perceptível que tal comportamento não seja apenas pelo que Zen tenha dito sobre mim.
Não sei de sua natureza, mas alguém nada bem-intencionado espalhou boatos sobre meu suposto envolvimento com o príncipe herdeiro, o que provavelmente tem contribuído para o tratamento indelicado das Sullivan para comigo.
E não, isto é apenas a ponta do leme que tem dirigido minha mente no grande oceano obscuro que eu navegava agora. Isaac definitivamente dominava todo o resto.
Não o vejo mais pelo palácio desde a partida de Athos e Mabel, seja pelos corredores ou mesmo nas refeições. Ele simplesmente desapareceu e não há nenhum vestígio de coragem em mim que me faça perguntar sobre onde ele estaria.
Eu não tinha o direito de sofrer, mas sim, eu estava sofrendo pelo que eu havia feito e aquilo estava me corroendo diariamente. Todos os dias, eu amaldiçoava minha estúpida razão que corrompia meu coração orgulhoso.
No entanto, a cada vez que ouvia sobre o casamento que se aproximava, mais eu me obrigava a acreditar que me manter longe era a melhor opção, mesmo sabendo que não era.
Daqui a um mês e sete dias, Isaac se casaria e, mesmo que não fosse de minha vontade, eu teria de deixá-lo ir para sempre do meu coração, pois eu jamais o teria.
Suspirei demoradamente, fitando as páginas do livro em meu colo e logo depois, as marcas em minhas mãos. Eu sabia que era errado, mas tornar aquela dor como penalização era a única forma que eu via para aliviar o peso que eu sentia por ter sido tão egoísta e orgulhosa.
Fechei o livro e me levantei. Estava cansada de tentar me dedicar a algo e não conseguir fazê-lo. Com a leitura seria o mesmo, não adiantaria.
Ao dar o primeiro passo para sair dali, deparei-me com uma cena deveras curiosa. O rei Van John estava quase na ponta do jardim, bem distante do banco onde eu estava.
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Spéir: O Porto dos Sonhos [Completo]
Ficción históricaSaphira vive como pode em meio às dificuldades enfrentadas pela sua posição social em Spéir, um farto reino irlandês do século XVI. Encontrada e criada por piratas celtas desde a infância, sua principal motivação é descobrir quem ela é com a única p...