De repente, levantei ofegante e com os cabelos grudados em minha testa. Olhei a minha volta e concluí que estava em meu quarto e tudo não passava de um sonho — ou pesadelo — bastante real e frequente em minha mente.
Afastei aquele sonho dos meus pensamentos e deixei minha cama sentindo uma leve dor de cabeça. Caminhei até a janela emadeirada, abrindo-a para contemplar a visão mais bela que já havia visto desde que me entendo por gente: o mar.
Apoiei-me no parapeito e respirei, deixando a brisa marítima atingir meu rosto e penetrar a minha alma lentamente por longos minutos, até me lembrar que tinha um compromisso extremamente importante.
Apressei-me em trocar meu pijama velho por um singelo vestido azul. Calcei minhas costumeiras botas e prendi meus longos cabelos em um rabo simples.
— Tudo certo. Falta apenas uma coisa. — olhei para o fino travesseiro em minha cama desarrumada e o levantei, revelando uma pedra sutilmente irregular.
Era uma safira. E também possuía o meu nome, Saphira.
Desde que fui encontrada pelos piratas na praia do reino de Spéir, na Irlanda, eu carrego essa pedra comigo, desconhecendo completamente o motivo de tê-la em posse. Entretanto, olhá-la é como enxergar a mim mesma, uma prova de que sou alguém.
Dei um sorriso ao ver meu reflexo na superfície e guardei a pedra no bolso interno de meu vestido, partindo para as ruas do Litoral dos Piratas, uma das partes do reino de Spéir, comandado pela poderosa Dinastia Harrington há anos.
O dia estava bastante ensolarado, destacando toda a glória do mar, do Litoral dos Piratas, das Cidades Reais — que ficam em um nível mais elevado que o litoral — e ainda mais do Palácio de Ardaigh, na parte mais alta de todo o reino.
Caminhando lentamente e observando o movimento local, somente me dei conta de que cheguei ao meu destino quando vi a grande placa de madeira com os dizeres "RUMZ" em tinta preta e dourada.
Sem perder mais tempo, adentrei o bar mais famoso e frequentado entre os piratas, plebeus e alguns pequenos comerciantes de Spéir.
E o Rumz continuava como sempre. Grandioso e acolhedor.
Seu interior era rústico, com lamparinas em seus robustos pilares e verniz em sua mobília bem trabalhada que preenchia o espaço, lembrando o interior de uma caravela.
Mais ao fundo, no palco, uma mulher de curtos cabelos loiros preenchia todo o local com as sublimes notas que emitia de seu violino. Sua camisa branca de mangas longas contrastava com o instrumento, a calça marrom e as botas negras. Seu rosto era sereno e calmo até me localizar na porta do bar.
— Saphira! Finalmente! — ela veio rápido em minha direção, após abandonar o violino em um banco.
— Às ordens, Heilee! — dei-lhe um abraço forte e animado.
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Spéir: O Porto dos Sonhos [Completo]
Ficción históricaSaphira vive como pode em meio às dificuldades enfrentadas pela sua posição social em Spéir, um farto reino irlandês do século XVI. Encontrada e criada por piratas celtas desde a infância, sua principal motivação é descobrir quem ela é com a única p...