Spéir: O Porto dos Sonhos [Completo]

Capítulo 6 - Reviravolta

Infringir as leis? O que o rei está querendo dizer?

— Você não tem o direito de zombar de meu pai, Van John! — Heilee deu um passo à frente, demonstrando toda a sua raiva, mas Athos a segurou pelo braço.

— Oh, então esta é sua filha, Hawkins? — o olhar do rei caiu sobre Heilee, enquanto ele deixava escapar um sorriso falso que não era compatível à melancolia em seus olhos. — Certamente ela se parece com...

— Vossa Majestade, viemos em paz apenas para lhe pedir que liberte minha outra filha, Saphira. — Hawkins interrompeu o rei com certa urgência, mantendo toda a paciência que ele possuía. Eu só não imaginava que a sua virtude o levasse a ser tão cortês com o rei que dificulta a vida de todos os habitantes do Litoral dos Piratas. — Não há necessidade de nos tratarmos dessa maneira conflituosa.

— Majestade, apenas entregue a senhorita Saphira aos seus familiares. Não é como se ela houvesse cometido um crime que prejudicaria diretamente a nós. — a rainha Marie interferiu, visivelmente preocupada com o rumo da situação.

Ao ouvir o pedido de Hawkins e da rainha, a risada do rei Harrington ecoou por todo o salão do trono, provocando estranhamento ou indignação nas pessoas presentes ali. Assim que ele subiu o altar e virou-se novamente para todos, sua gargalhada cessou e ele assumiu uma posição agressiva.

— Minha nobre rainha, como eu poderia ignorar uma pirata que perambula em minhas terras, roubando e furtando os produtos do meu povo? — ele fitou a rainha com um olhar feroz. — Eu torno a repetir: esta garota não deixará o meu palácio! Isso é uma ordem!

— Vossa Majestade! — a pobre rainha exaltou-se, aproximando-se do marido, mas assim como um raio, o rei a empurrou, fazendo-a cair próxima aos seus pés.

— Zen! Detenha essa garota e aplique as medidas aos nossos nobres convidados!

— Como quiser, Vossa Majestade.

O príncipe, que havia chegado depois de mim na sala do trono e estava, até então, como um expectador, logo acatou às ordens de seu soberano e convocou cerca de vinte guardas para cercarem Heilee, Athos e Hawkins.

Ao desembainhar sua espada, veio lentamente em minha direção e na dos guardas que me detinham. Por reflexo, retirei as duas adagas que sempre carregava comigo do bolso do avental e me afastei dos três homens próximos a mim, protegendo-me.

— Não cheguem mais perto, não serei clemente. — adverti em um sussurro quase inaudível. Eu não poderia deixar que ferissem a minha única família.

Ao fundo, eu podia escutar Heilee chamando desesperadamente por mim e, quando percebi o motivo de sua reação, já era tarde demais. O príncipe Zen era mais rápido e habilidoso do que eu pensava. Em uma velocidade absurda, só pude raciocinar quando a sua espada bradava em direção ao meu pescoço.

A única alternativa que me restou foi produzida por outro reflexo: minhas mãos se moveram na altura do pescoço na tentativa de bloquear a lâmina da espada com as minhas adagas, o que seria completamente inútil e impossível.