CAPÍTULO 7 - VALEU MESMO, PAI.

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Resolvi fazer uns rabiscos sem nexo na parede. Eu gostava de fazer isso pra pensar. Peguei um pedaço de carvão velho que eu sempre deixava embaixo da cama e comecei a escrever. Saíram umas coisas loucas, umas palavras que eu nem sabia o significado. Desenhei a Alícia chorando. Mas só eu podia ver que era ela.

Ouvi meus pais discutindo sobre qualquer coisa na cozinha. Quem se importava? Até que tocaram a campainha. Não era nenhum dos meus amigos, eles não tocavam a campainha. Geralmente atiravam alguma coisa na minha janela.

Pai: THOMAZ, VAI ATENDER A PORTA!!!

Como ele sabia que eu tava lá? Que babaca. Fui mesmo assim. Desci as escadas correndo. Eu tinha uma habilidade muito louca pra fazer aquilo. Me lembrei de quando eu era criança e descia aquelas mesmas escadas. As coisas pareciam ser melhores.

Abri a porta enquanto os dois se xingavam ao fundo.

Pra minha surpresa, e pra porra da minha surpresa mesmo, era a vadia. A vadia do meu pai. A vadia da Cássia, com o mesmo cabelo de socialite amarelo ovo preso num laquê. Usava uma roupa vermelha de vadia, um terno desses de secretária que dá pro chefe. Ela pareceu muito sem graça ao me ver, mas tinha uma expressão cansada e triste.

Cássia: Oi... É...
Pai: QUEM É, THOMAZ? - ele gritou lá da cozinha.

Eu não sabia o que responder, só fiquei parado olhando a vadia de cima a baixo. Eu devia parecer estar com muita raiva, porque ela começou a suar em segundos. Minha mãe apareceu logo atrás de mim, abrindo mais a porta pra ver quem era.

Mãe: Pois não? - daquele jeito grosso da minha mãe, que também analisou a vadia com os olhos.

A porta já tava toda aberta e meu pai pôde vê-la de lá da cozinha. Percebi que os olhos dela o encontraram dentro de casa quando ela parou de olhar pra mim e pra minha mãe.

Cássia: Mauro, eu...

Ela tinha uma cara de choro que dava vontade de dar uns tapas. Meu pai apareceu correndo, com a maior cara de cínico, como se não entendesse nada. A vadia passou por mim e pela minha mãe, abraçou o pescoço do meu pai e deu um beijo que eu nunca tinha visto ninguém dar fora dos filmes. Fodeu. Fodeu. Fodeu. Fiquei olhando aquilo tudo, sem saber o que pensar. Não queria olhar pra cara da minha mãe. Foi tudo tão rápido que nem tive tempo de sentir raiva.

Cássia: Eu te amo, Mauro. - ela disse quando parou de beijá-lo.

Nessa hora, toda a raiva que não tinha aparecido gradualmente, apareceu de uma vez. Eu quase pulei no pescoço daquela vadia tipo ela fez com o meu pai, mas seria pra enforcar. Já tava imaginando as veias do olho pintado dela saltando enquanto eu apertava o seu pescoço. Não quis olhar pra minha mãe, mas ela tava no canto do meu campo de visão. Ela colocou a mão na boca e deu um grito de espanto, um pouco baixo pra situação.

A vadia não parava de olhar pro meu pai. Ele tava todo desconsertado. Dava pra ver na cara dele que não sabia se empurrava ela, se continuava a beijar, se fingia de louco. No fundo, eu tava adorando vê-lo se foder. Ele não parava de olhar pra mim e pra minha mãe com aquela vadia pendurada no pescoço dele.

Pai: Mel, eu...
Mãe: SHH!!! - ela levantou a mão pra ele mandando que ele calasse a boca, do jeito que ela fazia pra mim quando ficava muito, muito, muito brava mesmo.

Eu não quis ficar ali parado pra saber o que ia acontecer.

Eu: Tu é um bosta, daqueles que dá nojo só de olhar. - falei, olhando bem no fundo dos olhos dele enquanto eu subia pro meu quarto. Ignorei aquela puta, senão ia passar uma semana xingando ela.

PQOGSPN?!Where stories live. Discover now