CAPÍTULO 21 - UMA PAREDE

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O Ringo tava jogadão na minha cama.

Eu: Velho, tu só dorme.

Fez jus ao meu comentário e continuou dormindo. Ser gato deve ser bom, duvido que a gata que ele curtia chorava quando ele tentasse beija-la. Ele nem beija ainda por cima, já parte pro mais legal. Dormi e acordei só de madrugada, devia ser mais ou menos 3h da manhã. Odeio quando isso acontece, porque fico sem sono o resto da noite e morto no outro dia. O Ringo já não tava mais por lá, tinha saído pra dar o rolê de gato dele. Me sentei na cama e fiquei encarando a parede semi desenhada. Faltava passar outra mão de tinta preta, e mais alguma coisa, que eu não conseguia pensar o que era.

Como imaginei, fiquei acordado até amanhecer, e fui pra aula sem ter dormido de novo. Pelo menos não cheguei atrasado um dia no ano. O Fred tava sozinho fumando um cigarro na esquina.

Fred: Nossa, que susto!
Eu: Que foi?
Fred: Sei lá, tu a essa hora.

O Matt apareceu logo depois de mim, tava tentando segurar o riso. Ou ele tinha acabado de fumar, ou tinha pegado a Larissa.

Fred: Whazuuuup, Tetheus!
Matt: Hahah - ele parou de tentar disfarçar.
Eu: E aí?!
Matt: Ah, cara...
Eu: Beijou?
Matt: Aham.
Fred: De língua?
Matt: Pode crer. - ele sorriu, envergonhado. Muito bichona, mas fiquei feliz por ele.

A gente deu uns socos nele pra zuar, porque foi preciso, a cara dele tava muito engraçada. Acho que podia tomar uma voadora na costela que ia continuar sorrindo. O Matt merecia mesmo uma guria legal, e dava pra ver que a Larissa era, só por deixa-lo feliz desse jeito.

O Matt ficou sorrindo até durante a aula. Não mostrando todos os dentes, claro. Era só uma cara de quem tava achando a vida legal. O Fred capotou assim que o professor disse "bom dia". Reparei que a Alícia me olhou antes de se sentar. Acho que ela queria se certificar que eu ainda tava vivo, pra que ela pudesse me matar depois. De madrugada, pensei um pouco no que o Fred tinha me dito no bar, mas de um jeito menos machista. A Alícia merecia mesmo que eu a tratasse de um jeito melhor. Não era culpa dela se ela tava a fim de um escroto feito eu, e o mínimo que eu podia fazer era trata-la bem. Não entrava na minha cabeça como uma guria que há pouco tempo nem falava comigo já tinha chorado por mim duas vezes. E nós nem nunca ficamos. Engraçado que a Alícia é toda espertinha, até bate nos caras em festa se for preciso, responde de um jeito atravessado, e tal, mas chora quando o assunto sou eu. Acho que a gente tava na mesma. No meu caso, sempre tenho resposta pra tudo, e tenho noção que desbanco quem eu quiser com as palavras, mas ficava sem fala do lado dela às vezes. Parei de pensar naquilo, e olhei pra carteira do Matt. Ele tava desenhando. Juro que ia bater nele se tivesse desenhando a Larissa, porque seria muito gay.

Eu: Que tu tá desenhando?

Os fones de ouvido dele sempre me barravam. Estiquei o pescoço. Era só um desenho dos Beatles, que tava muito foda. O Matt devia ter muito desenho foda na casa dele que eu nunca vi, porque do nada ele desenha umas porras muito boas no meio da aula.

O Vinão não tava na sala.

Na hora do intervalo, o Matt desapareceu. Provavelmente tinha combinado de encontrar a Larissa em algum lugar, mas tava com vergonha de nos dizer. Umas gurias do primeiro ano, ou oitava série, sei lá, ficaram cochichando, rindo e olhando pro Fred. Deu pra ver que ele tinha percebido assim que começou a escovar o cabelo com as mãos.

Eu: Isso dá cadeia, velho.
Fred: O que?
Eu: Pedofilia.
Fred: Ah, vai te foder.

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⏰ Last updated: Nov 21, 2019 ⏰

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