CAPÍTULO 11 - BROTHER'S LITTLE GIRL

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Seguimos andando enquanto o Fred xingava o mundo em meio a coordenadas de como chegar na república do Guará.

O Guará era um cara de qualquer cidade dessas do interior, que morava com mais um monte de caras na mesma situação que ele, ou ainda vindos de mais longe. Eles cursavam algum dos cursos malucos da We Are Art, uma faculdade de artes, o que fica óbvio pelo nome. Não é preconceito nem nada, mas os caras da WA eram todos muito loucos. Pelo menos todos com quem eu já tive contato. Artistas são muito loucos.

Pegamos o metrô que tava bem sossegado, e eu já tava ficando enjoado com aquele gosto de pinga podre na boca. Odeio pagar de macho. Os quatro caras que tavam com a gente tentaram uma amizade com umas gurias bonitinhas que tavam indo pra Avenida Mondal, provavelmente numa dessas baladinhas alternativas, mas não tiveram muita sorte. Eu não sei o que esses caras pensam quando começam a puxar assunto com uma guria no meio do nada, sem contexto algum. Tu espera o quê? Que a mina vá topar dar umazinha num lugar escondido da estação? Bah.

A república ficava perto da Avenida Mondal. Deve ser animal morar por ali, perto da Avenida mais louca e que nunca dorme.

Fred: É aqui, cara.

Paramos em frente a um prédio que era bem normal do lado de fora. Tu jamais imaginaria que ia ter uma república tipo a do Guará naquele lugar. O porteiro nem perguntou nada quando viu que a gente tava em um grupo grande de moleques, porque com certeza a gente iria pro Guará, e pra lá não era preciso interfonar.

Subimos o elevador. Fizeram aquela porra de brincadeira dos quatro cantos, que eu odeio, porque sou sempre eu que to no meio e tomo uns empurrões. Empurrão é pior que tapa, mano, como me irrita. Mas eu já tava acostumado com aquela babaquice.

A república do Guará. Caralho. Toda a raiva que eu tava no elevador passou quando a porta se abriu e eu vi aquela porra de república. Que foda! Eu quis muito morar ali. A gente entrou numa puta sala grande, com uns sofás velhos encostados nas paredes, que eram todas escritas. Tinha um monte de frase sem sentido, e outras muito boas. A maioria era de piada interna:

"Namoro não sobrevive sem boquete."
"Sou um cara tradicional, não curto essa história de mina enfiar o dedo no meu cu."
"Ela era caiçara? Daquelas que brigam por causa de pipa?"

E mais muitas, muitas. Era uma parede inteira. Embaixo de cada frase tinha o nome do autor e uma explicaçãozinha do contexto. Tipo: "Pira depois do aniversário do Guará, perguntando sobre a namorada do Japa." Tinha uma parede inteira dessas frases, do teto até o chão. Só tinha uma parte que não podia ser vista, por causa de uma geladeira vermelha que ficava em frente. Uma geladeira vermelha, mano, na sala. Mais tarde descobri que um bicho de pelúcia roxo "morava" no congelador, e o nome dele era James.

Na mesma parede escrita tinha uma bola brilhante daquelas de discoteca, pendurada próxima a uma luz colorida. O resto das lâmpadas da sala eram todas de luz negra, o que deixava o ambiente muito louco. Numa outra parede tinham uns porters muito antigos dos Beatles. Animal.

Achei que quando a gente chegasse lá ia ser estranho, porque ninguém era brother. Imaginei que a galera ia estar sentada em roda tomando uma cerveja e chamando aquilo de festa. Ao contrário do que eu pensei, tinha muito mais gente do que realmente cabia naquele lugar, uma galera muito doida, uns piercings, cabelos coloridos, óculos moderninhos e calças de palhaço. Coisa de quem estuda na WA. Tava todo mundo muito doido mesmo. Um cara malucão mas que parecia simpático pulou na nossa frente assim que abrimos a porta.

!: MAH OE!!!

Não sabia o que dizer, não tava esperando aquela recepção toda. O cara ofereceu pra gente um monte de coisas, disse pra gente ficar a vontade pra pegar qualquer bebida, mostrou onde era o quartinho "das droga", como ele mesmo disse, e ficou ali parado sorrindo. O Fred retribuiu aquele jeito doido de cumprimentar enquanto eu e o Matt analisávamos o ambiente. Era um lugar muito doido.

PQOGSPN?!Where stories live. Discover now