Nini caminhou lentamente naquela pracinha que há tantos anos seu amado e querido pai lhe encontrou e a seu irmão. Uma simples e comum pracinha... Sorriu e se sentou no banquinho olhando para os balanços distantes.
Tinha há dois dias estado em outro lugar, África, libertar o coração que por cobiça queria para si. Tinha desculpas? Talvez, sim, talvez não, quis talvez provar a si mesmo que podia viver uma vida comum ali mesmo, onde fez sua casa, seguir os passos do irmão, talvez... Mas no fim percebeu que não era para ser.
E fingir que podia ter morrido naquele acidente só para usar como desculpas o afeto do outro também não tinha sido muito justo. Ele não devia ter cobiçado um coração que não era seu.
Seus pés seguiriam outro rumo, porque precisavam dele bem longe dali. Ainda assim...
— Meu bebê está aqui.
Os braços grandes do seu pai o cercaram e ele sorriu deixando-se abraçar como sempre. Quando seu pai finalmente se sentou ao seu lado, Nini se voltou para ele beijando suas mãos como de costume:
— Desculpe pedir para você vir me encontrar sozinho, papai, mas eu acho que sabe o porquê pedi isso.
—Claro que sei meu amor, você finalmente se tornou um homem – Chanyeol lhe sorriu doce e naquele sorriso estava tudo o que Nini precisava e os últimos fios de coragem que ansiava. Relaxou e seu pai sorriu mais – Nós dois sempre soubemos que um dia ia atender ao chamado, não é? Não foi só Eldri naquele dia do naufrágio. Agora me diga, grande Channy veio pessoalmente ou...?
Nini negou, o deus dos mares profundos nunca tinha lhe visitado, era outra coisa, outra que lhe fez decidir partir para o oceano de uma vez.
— Minha prima distante?
Nini acabou rindo com a curiosidade do pai.
Ele era um filho da noite despertado, algo que não devia existir naquele paralelo deles, mas que a prima distante mexeu os pauzinhos e realizou. Da primeira vez em pessoa, da segunda, nessa linha temporal alterada, em um sonho divinatório. Aquilo deu margem para o despertar de outros, e ele conhecia bem um certo alguém com o gene. Mas não podia dizer nada daquilo e por isso seu pai mesmo levou muitos anos para entender que seus sonhos com deuses e magia não eram só sonhos. E aquele segredo, ele não podia dizer nem mesmo aos outros pais por quem pai Channy era loucamente apaixonado, haviam segredos que nunca deveriam ser revelados.
E palavras tinham poder.
— Enli e Eldri.
— Baleias guardiãs – Seu pai murmurou pensativo. Nini evitou rir, sim, mal acreditava que Eldri ainda estava vivo, mas elas viviam dez vidas mais do que as baleias comuns.
O cachalote e a baleia azul povoavam seus sonhos desde que se recordava por gente e no último ano sua memória e tudo o que sua alma sabia sobre o mundo a que verdadeiramente pertencia voltou à tona. Era um homem feito agora segundo as leis do mar. Seu pai era uma exceção, por sua ligação com Olokun, ele acabou retendo não só conhecimento como as sensações do que se passou antes e agora. Mas era o único humano do mundo dali que tinha esse conhecimento.
— Abillona, ele está aqui? Você o sente?
Seu pai suspirou e ele sabia o que na verdade ele queria saber, afinal na outra linha do tempo que não existe mais, ele veio para experimentar uma vida humana e elegeu seus tios como amores, contudo... Contudo agora...
Nini negou e seu pai assentiu conformado.
— Ele nunca foi de verdade dos tios, papai, você sabe o poder que temos. É só a sedução aquática sobre os humanos. No fim, não é bom e o coração paga um preço alto.

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Lycan
FantasyEla era uma mulher a beira da morte, ao menos era o que pensava, até ser sequestrada por um estranho obscuro, jogada em uma cova e enterrada viva. Mas não era a morte que a esperava e sim a verdade que uma raça inteira buscava entender. Ela era a ch...