Fogo

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"Está tornando quase todas as fêmeas de sua raça estéreis, algumas se livrarão desse destino, mas serão tão poucas que a raça pode até mesmo esmaecer, ainda quer essa troca?"

A voz do original ecoava por sua mente, mas ela trocou, trocou tudo por poder e força. Protegeria aquelas mulheres, protegeria com tudo de si.

Jaihara se transformou em loba e avançou, engolindo e destroçando aqueles machos que vinham em sua direção até não restar nenhum deles e por fim uivou a lua feroz, não vendo que outro grupo, enquanto lutava metros a frente, se esgueirou pelas rochas atrás de si e de desforra mataram suas protegidas.

Ao se dar contra do ato maligno e cruel, Jai enlouqueceu, matando tudo o que via até alcançar o oceano, ali ela se deixou cair até não ter mais lágrimas de desespero. Ali, uma velha sereia ouviu sua dor e lhe deu acalento...

— Quando a dor for demais, venha para água, o que é da água, a terra não pode tirar.

— Quer que eu me afogue? Talvez eu deva morrer, condenei minha raça, condenei minhas protegidas, o que seria condenar minha alma?

— Não vai condenar sua alma, alfa loba, mas deixá-la adormecer, precisará dela um dia, para fazer a justiça que não tem equilíbrio para fazer hoje. Venha para meus abraços, e eu a ajudarei a esperar, fique aí e talvez nunca consiga voltar para fazer justiça.

A loba, sabendo que ficar em terra a deixaria mais insana, seguiu a sereia para o mar violento e ali se afogou, esperando um dia retornar...



Jai abriu os olhos quando os veículos com tração quatro rodas entraram finalmente o lugar que todos diziam ser sagrado. Um complexo de templos antigos surpreendentemente majestosos no meio de uma floresta densa e velha.

Sua pele formigava, sua garganta estava seca. Ela estava toda nervosa.

O carro parou e ela desceu junto de três das seis rainhas, seguindo por uma trilha até um portal feito com galhos retorcidos. Ali sua pele ficou ainda mais arrepiada e de repente vozes soaram em sua mente de maneira sinistra...

"Jaihara... Jaihara..."

"Fêmea alfa, sangue puro... Abra os olhos!"

"Acorde... Acorde!"

Jai sentiu um tranco e caiu de joelhos. Alguém a ergueu e tudo diante dos seus olhos escureceu. A chamavam, mas não sabia se era as vozes sinistras em sua mente, se eram pessoas reais, contudo viu pés nus e suaves vindo em sua direção e sentiu a pele se acalmar...

— Ei moça, calma... Aqui a magia é velha, está tudo bem, mesmo! - Jai ergueu os olhos e viu olhos negros, doces, em um rosto oval e cabelos negros longos. A garota lhe sorria suave e lhe estendeu a mão – Meu nome é Luana, venha, vamos entrar juntas.

Jai aceitou a mão levada por um instinto sem explicação e ao tocá-la, a voz da velha sereia de seus sonhos, soou em seus ouvidos como se estivesse ali.

"Quando a dor for demais, venha para água, o que é da água, a terra não pode tirar"

Água...

— Água.

Sussurrou ao ficar rente a garota morena, ela assentiu:

— Sou uma bruxa da água sim.

Jai ergueu as mãos juntas e falou sem pensar:

— Você está fraca.

A garota sorriu um pouco vermelha, o que foi adorável:

LycanOnde histórias criam vida. Descubra agora