Protegida

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  Chanyeol atravessou o salão privativo e encontrou sua alteza lendo na saleta que antecedia seu escritório. Suspirou, não queria atrapalhá-lo, mas era questão emergencial:

— Fale Chan, eu escutei seus passos do outro lado do palácio.

Yixing disse baixo sem tirar os olhos do livro de economia que sempre lia para "relaxar". Sempre se perguntou porque os seus primos eram tão nerds, mas jamais disse na cara deles. Até ele tinha seus limites.

— Há há, você e o Lay podem dar a mão e sair andando nas piadinhas sem graça – Ele resmungou ao estender o ipad para seu primo, príncipe, e sucessor a rei – Interceptamos uma conversa perigosa do mercenário dos Do e então os meninos rastrearam a posição geográfica e confirmamos que é ele. A fera achou a descendente e provavelmente está enterrando-a, agora.

Seu príncipe fechou o livro lentamente, pegou o ipad com cuidado e falou em tom friamente suave:

— Ele vai enterrá-la como um troglodita, possivelmente, aquele mercenário é um déspota. A mulher pode morrer de choque mesmo que seja a descendente certa. – Yixing disse movendo as fotos tiradas pelo satélite da sala de tecnologia que tinham às escondidas no subsolo do palácio e que monitorava em tempo real muitos dos noturnos contra leis do mundo. Eles faziam o trabalho que os outros reis também deveriam fazer, contudo, sem querer puxar sardinha, seu rei era o mais competente e os demais umas amebas preguiçosas.

Se dependessem do rei dos Lycan e dos sombrios, a humanidade já teria descoberto o mundo dos noturnos há anos. Não reclamava da rainha dos encantados porque ela sempre tinha a mão cheia, mas os outros... Bando de incompetentes!

Lembrava bem quando seu príncipe deu a ideia, anos atrás, de usar a tecnologia mais avançada a favor da causa deles e tinha dado certo, embora poucos soubessem que tinham aquele mecanismo. As sombras não cercam o que desconhecem.

Yixing seria mesmo um rei a altura. Se orgulhava do seu príncipe herdeiro.

— Quais são as opções?

— Duas, alteza. Irmos até lá, e trazemos os dois. O mercenário tem a marca de excluídos, ele está infringindo a lei soberana e multirracial de não tocar em fêmeas sem permissão e nesse caso são águas internacionais, estaríamos do lado da lei. A segunda hipótese é matarmos ele e trazermos apenas ela, explicar a situação e expor a clínica médica dos Do's.

— Tecnicamente os ursos não estão infringindo leis e o hospital é excelente, não seria uma boa decisão – Sua alteza se ergueu e lhe devolveu o objeto – Se ela for entregue aos Do, vai virar cobaia sem direitos ou escolhas. Fora de cogitação. Se trouxermos ela, nos responsabilizamos por ela e se os Do recorrerem ao rei deles, sem uma excelente resposta da nossa parte, teremos de entregar a fêmea por razão de genética. Não importa se ela é a descendente ou não, se trouxermos a fêmea para o palácio, ela será uma Ryven.

Chan cruzou os braços, droga, tinha aquilo ainda... Droga!

— Não podemos deixar a descendente cair nas mãos de lycans filhos da mãe! Se ela for a fêmea que eles estão esperando há milênios, vão usá-la como incubadora até morrer! – Yixing sorriu pequeno e ele estreitou os olhos, odiava quando sua alteza sorria assim... – Nem pense, isso seria injusto, o fato de eu ser o hétero de nós dois não justifica! XING! Eu gosto de transar, merda! – Vociferou, mas sua alteza permaneceu olhando-o com aquele olhar do mal... INFERNOS! – Eu te odeio, já disse?

— Não deixe que os guardas ou os guerreiros ouçam seu general dizendo que odeia seu príncipe como uma criança birrenta de dez anos.

— Ainda te odeio!

— Tio Joseph quer te ver casado de todos os jeitos, não custa nada, é por uma ótima razão, e é só uma fêmea inofensiva, primo – Ele sorriu dessa vez todo falsamente amável – Lay é casado, eu sou gay, Baek é mulherengo e inapto, ninguém acreditaria, papai não vai querer mais esposas, Kristen é hétero e Nina também, além de ser casada com dois humanos. Só temos você disponível. E se você disser que a escolheu, ninguém irá contra, onde mais ela ficaria segura do que como consorte do general do rei Ryven?

— Você não tem pena nenhuma da minha castidade obrigatória então, é isso? Que espécie de rei eu terei, meus deuses!?

— O rei que nosso mundo necessita.

— Odeio sua racionalidade também, só deixando claro.

Chanyeol quis pegar a lança do guarda da porta três saletas a frente e acertar em um alvo vivo, mas respirou fundo e deixou que a razão governasse. Sim, seu príncipe tinha razão e sim, era só uma fêmea inofensiva com a genética da lycan que causou a merda toda com os lycans, mas que para muitos era um mito que nem era sequer conhecido do mundo atual. Só que seu futuro rei era um nerd pesquisador dos infernos e sabia de tudo, como um maldito google, só que mais perturbador. E se fosse assumir ela como consorte, teria que romper com todas as suas amantes e ficar sem sexo. Seria as trevas!

—Chan?

Ele perguntou baixo e Chanyeol assentiu se curvando:

— Vou resgatar minha fêmea, alteza, avise a família. Vou convocar minha irmã.



Jaihara já estava com terra até seu pescoço e tinha desistido de chorar, ou gritar ou pedir que ele parasse! Aquele homem louco continuava a jogar terra sobre ela e ela já tinha sufocado uma dezena de vezes, porque ele fazia aquilo, quem ele era, o que queria com ela!?

Então desistiu de resistir, ia morrer e não saberia nem porque estava sendo enterrada viva. Só pensava nas irmãs a espera dela para o tão aguardado domingo na praia... Tinha tão pouco tempo com suas irmãs e agora elas iam ficar na esperança e na dúvida a espera de alguém que estava enterrada tão distante. Queria chorar, mas como sempre, não tinha lágrimas, não tinha forças, era só a boneca de porcelana no fim e...

Algo caiu no buraco e Jaihara arregalou os olhos já que era a única parte que conseguia ainda mover e tomou o maior susto da sua existência.

Era um homem bem alto, vestido em roupas escuras e estranhas, como um personagem saindo de um livro antigo e se agachou a sua frente com um sorriso que só podia ser descrito de lindo de morrer.

— Vamos, Múia. Hora de parar de viver perigosamente.

Quê?

Jaihara achou que estava delirando, ainda mais quando o homem começou a cavar com as próprias mãos próximo do seu rosto e ela entendeu que ele estava a tirando dali. Fechou os olhos confusa, assustada e internamente agradecida, contudo tomou ainda mais susto quando ele a desenterrou por completo e em um salto tirou ambos do buraco...

Como assim!?

Ele não a colocou no chão, mas conforme virou, ela viu o louco que a agarrou em uma posição entranha no chão ao lado da cova e demorou alguns segundos para ver que o pescoço dele parecia bem estranho e....

— Não se preocupe, eu não quebrei todo, ele vai viver para encher o saco. Só vai sofrer um pouco, eu fui tão legal que estou até admirado comigo mesmo. Vamos, temos que ir...

E ele passou a levar ela no colo para longe dali e Jaihara ainda totalmente confusa e sem saber o que fazer, não respondeu, até que ele a colocou sobre seus próprios pés e ela viu uma garota de cabelos ruivos escorada em uma árvore alguns passos de si.

— Maninho, eu pensei que ia achar sua fêmea de diversas formas, mas sendo enterrada é novidade, mas olha só, até que ela é apresentável...

— Para de graça Kris, temos de levá-la para casa, agora!

— Claro, claro, eu só sou uma carona chata mesmo, eu hein!

Então a garota veio para si e tocou no seu braço todo sujo de terra escura e lhe sorriu divertida:

— Bem-vinda a família, senhorita quase morta. Espero que goste de caras durões de humor negro, porque esse é meu irmãozinho...

— D-do que...?

Mas Jaihara não pode dizer mais nada porque se sentiu dentro de um liquidificador e então apagou de vez.

LycanOnde histórias criam vida. Descubra agora