Lobas são lobas

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"Recomece essa raça, faça-a valorosa, traga a era de ouro do grande alfa dos alfas Yixing de volta. Eu a abençoou."

A voz da deusa, ainda depois de tantos e tantos anos, soou clara aos seus ouvidos.

Jaihara suspirou, se ergueu da imensa cama sempre tão vazia e foi para o salão do trono naquele gigante palácio subterrâneo e logo subiu as longas escadarias.

Era a rainha há quase dez anos, dez anos...

O mundo mudou e ela fez a sua parte mais do qualquer outro lycan nos últimos mil anos, mas a vitória era crua, dolorosa e ácida. As vezes agia como uma fêmea por vezes extremamente cruel, tudo em pró do seu povo, da sua raça, da continuidade... Era pesada e árdua sua coroa, mas era igualmente seu fardo.

Ela que tinha perdido tanto e abandonado o macho que ainda lhe esperava... Ela, ela que tinha acasalado com os machos mais fortes e de linhagem nobre para que tivesse filhas que seriam férteis e assim mudasse a realidade da sua raça... Para que seu erro no passado longínquo não se repetisse, ela, ela e somente ela estava agora naquele lugar imenso e em quase profunda solidão angustiante.

Suas filhas deviam ser criadas em lares amáveis, em matilhas protetoras e protegidas. Seu destino era ser incubadora, não mãe, não havia tempo...

Naquela ilha que outrora foi cheia de vida e de gente, agora havia menos que dez seres vivos. Riu irônica. De fato preferia manter os olhos dos lobos longe de si. Preferia que eles pensassem que fosse uma louca antissocial, era mais seguro assim para a raça. Chega de centralização e fraqueza. Aqueles dias se foram.

Até que os lycans resolvessem todos os problemas internos, como poderiam ser uma raça próspera e equilibrada? A tolerância zero a brigas internas estava surtindo frutos, mas ainda... Ainda tinha muito o que caminhar. Muito em que trabalhar.

Saiu para o balcão e para a noite escura e viu um dos pouco lobos que lhe faziam companhia esporádica naquela ilha. O curandeiro, macho do vidente e sua visita constante e agora, era seu quase amigo. Lay.

— Alguém mais com insônia, que péssimo sinal.

— Devíamos dormir durante o dia, somos aberrações – Ele disse taciturno e então se voltou para ela com olhar sério – Desculpe vir sem avisar, contudo, eu soube da sua ordem a ilha do Pescador. Majestade...

Jai ergueu a mão e foi até o lado dele se curvando sobre o balcão e olhando para o precipício lá embaixo:

— Como vai seu filhote, curandeiro?

Ele suspirou e ela podia ouvir o resmungo do lobo ao seu lado:

— Um homem agora. Um lobo forte, se é o que quer saber e se de fato quiser ele em sua cama, Junm vai te esganar, com todo o respeito, claro.

Jai riu e se voltou para ele dando uma piscadinha divertida:

— Sou tão terrível assim?

A brincadeira nem a mudança de assunto surtiu efeito. O lobo a encarou fixo.

— Chame o ex general, majestade, já se passaram dez anos, pare de se torturar...

Jai desviou os olhos e cruzou os braços, sua loba rosnou feroz, mas ela não deu voz a alfa dentro de si.

— Minhas filhas, como vão?

— Eu visitei todas, estão bem saudáveis, sendo bem cuidadas, mas a presença da mãe delas faz falta e você sabe.

— Eu não sou boa influência...

— Você é uma mulher e fêmea extraordinária, elas são suas filhas, aquelas meninas são como você, pare de tentar dar um mundo florido para elas, chame suas filhas de volta – Ele lhe estendeu um pedaço de papel e Jai estreitou os olhos – É da Vespa. É melhor ler. E antes que pule na minha garganta, não, eu não li, mas eu sei que deve ser alguma bomba para ela me fazer te entregar pessoalmente.

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