Capítulo 1

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Quando chego na sala de estar, a cena em minha frente é horrenda. Há um cara apontando uma arma para meus pais, que estão com as mãos para cima. Quando percebe minha aproximação, volta sua pontaria para mim. Em um impulso, levanto as mãos também, para que não atire em mim. 

- Por favor, não atire! - peço desesperada.

Ele sorri diabolicamente e fala

- Olha só, uma bela moça na cena. Não sabíamos dessa moça, Evo. - diz sarcasticamente.

Meu pai dá um passo a frente, mas para quando a arma volta a ser apontada para ele.

- Não toque nela. - Se limita a dizer.

- Você não está em posição de exigir nada, Evo. Agora vamos ao que interessa. Cadê a minha grana? - rosna.

Meu pai abaixa a cabeça desolado.

- Do que você está falando?  - resolvo perguntar.

- Não se meta, Kaia, isso não é problema seu. - ralha meu pai.

- Já que tem um cara dentro de nossa casa apontando uma arma para nós, parece ser um problema de todos, não? - grito ironica.

O cara baixa a arma e volta sua atenção para mim.

- Pois bem, senhorita, você não parece ter conhecimento da situação, então vou lhe deixar a par do problema. Seu querido pai me deve uma boa grana e há muito tempo não paga os juros corretamente. Então, ou ele paga o valor cheio ou vamos ter que levar isso para um outro patamar. - diz calmamente, me olhando nos olhos.

Porra! Dívida de jogo!

- E de quanto estamos falando? - pergunto

- Trezentos mil dólares. - responde.

Meu deus! Trezentos mil dólares! Onde é que vamos arrumar esse dinheiro?

Olho para meu pai e cuspo enojada.

- Você não tem vergonha nessa sua cara! Além de gastar todo o seu salário ainda me traz uma porra dessas??? Porra pai! Trezentos mil? Onde é que você acha que vamos arrumar essa grana? 

Minha mãe começa a chorar e meu pai responde de cabeça baixa. 

- Vamos dar um jeito, eu vou dar um jeito. - diz desanimado

- Que jeito?? Você não dá jeito em nada!! Você é inacreditável! - ralho enquanto o cara parece se divertir com a nossa confusão. Olho para ele. - Quanto tempo temos para pagar isso, moço?  - pergunto.

Ele coça o queixo debochado.

- Hmmm, vejamos. Um mês. Exatos trinta e um dias. Nem um segundo a mais. - diz sério.

UM MÊS? FUDEU.

- Um mês? Não temos como arrumar isso em um mês, meu deus! - grito desesperada.

Ele volta a apontar a arma e meu sangue gela.

- Então, parece que vamos ter que resolver de outra forma. 

- Não, por favor! Nós vamos arrumar o dinheiro. - digo.

Só depois me dou conta do que falei. Terei trinta dias para arrumar trezentos mil dólares. 

- Ótimo, então estamos conversados.  - Ele baixa a arma e vai em direção a porta - Uma boa noite, senhores. - Se vira e olha diretamente para mim. - Trinta dias, não esqueça. - E sai pela porta.


Estática e chocada. É assim que me encontro no sofá após todo o ocorrido. Minha mãe nao para de chorar, não sei como ainda tem tantas lágrimas. Meu pai está sentado olhando para o nada. Estou com muita raiva dele, raiva por nos fazer passar por tudo isso e por nao ter nos contado antes de isso chegar no ponto que chegou. Como espera que agora conseguiremos resolver isso? Eu trabalho ganhando 2 mil dólares por mês, como vou arrumar trezentos? Minha cabeça gira e as coisas parecem ter fugido dos eixos para mim. Martelo formas de resolver essa situação.  O banco não vai me emprestar. Mal saí da faculdade e consegui com muito custo um emprego, tenho pouco giro na conta do banco. Minha mãe e meu pai tem o nome sujo nos órgãos de proteção ao crédito, não vão conseguir pegar nada. Não temos como hipotecar a casa, pois moramos de aluguel. Família está pouco se fodendo pra gente. Meus amigos não tem uma boa condição de vida nem pra eles, que dirá para emprestar esse montante de dinheiro. Logo, concluo que estamos fodidos.

- Como é que vamos arrumar essa bagunça agora, pai? Trezentos paus! Como chegou nisso? - pergunto.

Ele começa a chorar.

- Não me venha com choradeira agora. Me responda. - ralho.

- Kaia, não fale assim com ele, a situação já está ruim o suficiente. - minha mãe diz.

- Ah já está ruim o suficiente, temos uma bomba em mãos! - respondo

Ele suspira  e começa a falar.

- Eu estava jogando no cassino algumas vezes e fiquei sem dinheiro para as apostas. Então, Malvo emprestou a juros. Durante um tempo eu consegui pagar os juros, mas são muito altos e eu voltei a jogar outras vezes, tudo virou uma bola de neve. - diz desolado.

Fico em silêncio e olho para o lado. Ele começa a chorar. De soluçar.

- Me perdoem, eu juro que não queria que tivesse chego nisso. Eu juro que não irei mais beber e também não vou mais jogar. Por favor, me ajudem a sair disso. - chora com as mãos no rosto.

Minha mãe corre para abraçá-lo e os dois choram juntos. A cena corta meu coração. No fim de tudo, ele não é um vagabundo, ele é só um viciado.  Ele está doente, precisa de tratamento. Vou até eles e me ajoelho em frente a eles. 

- Nós vamos dar um jeito. Vamos nos unir, alguma coisa vai ter que vir. - Digo. 

Abraço os dois por um momento e sinto meus olhos lacrimejarem. Me afasto, viro as costas e vou em direção ao meu quarto. 

- Tenho que me arrumar, já está na hora de ir para o trabalho. - digo.

Entro no meu quarto e fecho a porta atrás de mim. Vou até o banheiro, tomo um banho rápido e visto a saia lápis o camisete e o terninho. Pego minhas coisas e chamo um Uber até o escritório.
Passo rápido pelas recepcionistas, não quero que ninguém veja minha cara de choro. Vou até minha sala e me sento. 

-

O dia passa e eu evito ao máximo falar com alguém. Não consigo arrumar uma forma de trabalhar normalmente com todos esses problemas na minha cabeça. Não compareci a uma reunião, pois estava indisposta. Quando meu chefe me chamou, pedi para Marly ir no meu lugar.  Não estou com cabeça para nada, só quero que o dia passe logo. Quando ela volta, não está com uma cara muito boa. 

- Kaia, os W estão chamando você na sala deles. - diz tensa.

Puta merda!

- Você sabe o que eles querem comigo? - pergunto curiosa.

- Não sei amiga, só pediram para te chamar. - diz.

Oh meu deus! Se eu for demitida! O que é que vou fazer? Como vou sustentar a casa? Como vou pagar esse agiota? 
Ando até a sala deles surtando mil perguntas martelando em minha mente. 

Quando giro a maçaneta e dou de cara com Fernando e Austin Wörligen me olhando seriamente, desatino a chorar dizendo:

- Por favor, não me demitam!  

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