LIGHT | rafael lange

treze

─ Bem-vinda ao meu singelo lar. ─ Rafael dizia de um jeito engraçado, mas muito receptivo.

─ É uma honra. ─ a garota retribuiu no mesmo nível.

Sorriram, juntos.

Ela percorria os olhos por todo o espaço que sua vista alcançava: a sala de estar devidamente organizada e limpa, a cozinha reluzente, a sacada com algumas plantas. Estava distraída, reparando em cada detalhe do imóvel, quando ouviu a voz de seu vizinho falando com alguém.

─ Quem é o lobinho mais lindo desse mundo? É você, sim! ─ a voz do rapaz saía em um timbre mais agudo que o normal, fazendo-a rir baixo. ─ Você perdoa o papai por ter te deixado sozinho essa noite? É claro que perdoa, não é? ─ o loiro continuava, sorrindo sem parar.

Ele falava com Eredin, descobrira posteriormente, seu cachorro. A coisa mais fofa do mundo, segundo Mariana.

─ Mas, então... ─ ele chamou a atenção de sua visita, que ainda brincava com seu lobinho. ─ Quer me contar sobre ontem?

Ela, que fazia carícias e caretas, enquanto falava coisas que não se entendia com uma voz fina para Eredin, parou no mesmo instante.

─ É, acho que eu te devo isso, uma explicação. ─ a loira estava estritamente séria, suspirando.

Eredin pulou do colo de Mariana, indo para algum lugar que fugia dos olhos da garota. Rafael apenas continuou mexendo seu molho de tomate, mas a ouvia perfeita e atentamente.

─ Há algumas semanas, aconteceu que... ─ começou, parando no meio da frase para corrigir a si mesma. ─ Do começo. Há alguns meses, eu conheci uma pessoa. Começamos a namorar e, uns tempos depois, eu fiz o que sempre faço, e estraguei tudo o que tínhamos. ─ sua voz começou a tremer e os olhos a se encherem de lágrimas. ─ Comecei a ficar muito grudenta e insuportável, por mais que eu sempre tive essas crises do nada, de me sentir insegura e precisar de afirmações de amor e carinho a todo instante. E então, semanas atrás, ele terminou comigo, de um jeito tão... ─ não aguentava mais segurar, uma lágrima escapou. ─ Brutal? Tão brutal e repentino que me fez sentir que nada mais tinha sentido pra mim. ─ agora, um fluxo contínuo de lágrimas se fazia em suas bochechas. ─ Meus pais moram longe, bem longe, e no meu trabalho ninguém é muito amigável, então ele era o único que me restava, que agora também se foi. Por algum motivo, minha cabeça me fez pensar que o melhor era me torturar com hábitos nada bons. ─ encarava seus braços e coxa atentamente, mesmo que cobertas com curativos, podia sentir suas cicatrizes. ─ Perdão. Perdão, Rafael, por te colocar nisso, sem ao menos nos conhecermos.

─ Não se preocupa. Agora você não está mais sozinha. ─ o garoto sorriu, mesmo que a loira não pudesse ver.