Excomunhão e Arrependimento tardio

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      Alexander Dmitrievich Litovchenko (1835 - 1890) "Caronte leva almas através do rio Styx"

Assim que abri meus olhos soube que eu não tinha ideia de como havia chegado ali. Seja lá o que o "ali" fosse, pra começo de conversa. 

 
Olhando pra cima tinha um céu azul, tão azul que parecia uma pintura. As nuvens branquinhas e fofas pareciam algodão. Então minha cabeça girou e colocando a mão na testa, como reflexo, percebi que estava deitada no chão. E não era como se eu tivesse adormecido e caído no chão da biblioteca – não que aconteça com muita frequência, foi só uma vez, ok? Talvez duas... olha quatro no máximo. –, mas era um chão com grama, terra e folhas. Me levantei, limpando o cabelo e quando fiquei de pé, passei a mão na roupa, limpando o vestido também. 

 
Vestido não era bem a palavra. Eu não era nenhuma modelo, mas aquilo parecia uma túnica cinza muito sem graça e antiquada e eu não sabia o que tava acontecendo. Olhei para um lado e depois pro outro. Na minha direita havia um prédio vermelho, à esquerda, uma estação de metrô roxa. E então uma garota morena apareceu do lado do metrô enquanto uma loira apareceu do prédio. Ambas se aproximavam utilizando túnicas das cores respectivas. 

 
-Olá - As duas disseram em uníssono. Elas se olharam com a testa franzida. 

 
-Era a minha vez de apresentar pra humana, Caronte. Você já ganha a maior parte das almas. – A loira disse cruzando os braços. 

 
- Primeiro, você sabe que eu não quero mais ser chamada assim. Você quer eu volte a te chamar pelo nome de nascimento? – Loira apenas negou com a cabeça. – Foi o que pensei. E vai enfrente, faça as honras. – E apontou para mim. 

 
- Bom, não são muitas almas que tem a opção, mas vamos lá. – A loira começou. – Kim Jiwoo. – A olhei continuando confusa pra caralho. – Você morreu. 

 
Ah.

Eu imagino que não deve ser reação habitual. As duas me encararam esperando alguma coisa. Eu mesma esperava alguma coisa de mim, sei lá, um grito, um choro, mas nada veio. Pode ser porque se avaliar bem eu não tinha muitos motivos pra estar viva? Talvez? Ah droga eu não terminei meu livro!

-Calma, não precisa ficar apavorada, tudo vai ficar... - a morena começou, mas fez uma pausa. - É, não dá pra mentir, as coisas podem ficar bem ruins – enfatizou o ruim e olhou para a garota do lado dela. - ou pode ficar meio ruim, mas melhorando.

-Não é isso. É que eu nunca vou terminar de escrever meu livro! – Choraminguei e as duas me encararam como se eu fosse de outra espécie. Se bem que, considerando que esse é o pós-morte, elas provavelmente não são humanas. – Ok, eu preciso entender o que exatamente ta acontecendo.

-Então, - A loira continuou. – Você morreu e está no ante-purgatório, mas também no pós inferno. Aqui é meio que...

-Lugar nenhum. – A morena completou.

- E como você chegou aqui sem dados pós-morte, nós não podemos decidir onde te colocar, então você pode escolher. – A de vermelho sorriu como se fosse uma notícia incrível.

- Você pode vir comigo, eu sou a Choerry a propósito. Guio as almas para o inferno. – A de roxo sorria também, como se a ideia fosse apelativa. – É um ótimo lugar para trabalhar seus pecados pela eternidade. Ou você pode ir com a Jikininki...

-Choerry eu não uso mais esse nome, assusta os humanos. – A outra interrompeu. A morena pediu desculpas baixinho. – Bom, me chame de Kim Lip. Eu posso te guiar pelo purgatório, onde você trabalha seus pecados e pode um dia ascender ao jardim do éden.

Fallen (Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora