Luxuria

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Ceci n'est pas une pomme (Esta não é uma maçã), René Magritte, 1964

Sentir seus sedosos cabelos engrenhados em meus dedos, seus lábios bem preenchidos nos meus, sua língua aveludada tocando a minha, eram sensações que eu não poderia descrever de verdade nem se eu tentasse. E no momento eu não queria. Tudo que eu queria era a beijar, sentir o jeito que ela segurava meu corpo, me colocando mais junto ao seu. Eu poderia fazer isso por horas, não dias... o tempo não passa direito por aqui, não é? Então talvez milênios?

-Pelo amor de Deus, arrumem um quarto. – Escutamos uma voz doce falando e nos afastamos, então lembrando que estávamos no meio do corredor e notando que todo mundo que andava pelo purgatório tinha parado pra assistir nós duas e praticamente aplaudir. Acho que Yeojin não tinha brincado sobre demônios e anjos estarem nos shippando, aparentemente humanos que estava trabalhando seus pecados no purgatório também.

-G-Gowon? – Yves foi a primeira de nós duas a conseguir falar, eu ainda estava meio atordoada pelo melhor beijo da minha vida. Não pera, da minha morte. Isso ficou estranho. Existência? É melhor. O melhor beijo da minha existência. Acho que Eva sugou a minha inteligência no nosso beijo, é isto. Falando nela, quase me alinhei melhor nos seus braços, logo que ela ainda os tinha em volta da minha cintura e seu corpo era um lugar muito aconchegante. Todavia, lembrei que não estávamos sozinhas e que todo mundo estava nos olhando. Ela também pareceu lembrar, pois lançou um olhar raivoso para eles, que sabiamente acharam que era melhor voltar a suas ocupações do que enfrentar a fúria da minha namorada.

Namorada? Olha a sapatão emocionada, foi só um beijo Kim Jiwoo, se controla. Parei de discutir comigo mesma quando a anjo loira se aproximou de nós duas.

-Eu mesma. – Disse finalmente respondendo a pergunta de Yves. – Eu vim aqui pra falar com você sobre você-sabe-o-que. – A loirinha se referia diretamente a pecadora original.

-Ela já sabe de tudo. – A morena olhou pra mim e falou soltando a respiração pesadamente.

-Mas já? Você conseguiu esconder dela por o que? Um dia? – Segurou uma risadinha. – Acho que é assim mesmo quando a gente ama alguém não, é? Eu não consigo esconder nada da Olivia.

Ao ouvir a palavra amor eu pensei que fosse me sentir esquisita, evitava tanto esse sentimento durante minha vida, mas aqui, mesmo parecendo precipitado porque eu literalmente tinha apenas dado meu primeiro em Eva, eu sentia que tínhamos uma espécie de ligação há muito mais tempo e eu tenho uma confissão pra fazer: Eu tenho a desejado desde a primeira vez que a vi. Ufa, admiti para mim mesma... ok, talvez eu já tivesse admitido, mas agora que eu sabia que era recíproco de alguma forma era diferente.

-Você é sempre assim petulante? – Yves disse, mas seu tom era divertido.

-Na verdade sim, eu sou. É meu charme. – Jogou o cabelo e piscou.

-Gente, vocês podiam parar de falar como se eu não estivesse aqui? – Acabo falando quando o efeito do beijo de Eva parece passar um pouco, restaurando meus neurônios ao normal. Pelo menos o que é considerado normal pra mim.

-Ah claro, principalmente se você já sabe o que a Eva planeja. – A de branco colocou as mãos na frente do corpo, parecendo empolgada. – Então, Olivia teve uma ideia para conseguirmos, de certa forma, a reencarnação de Jiwoo.

Ah, eu tinha esquecido que era nisso que a mulher que eu estava beijando agora mesmo vinha planejando. De repente eu me sinto chateada e acabo não conseguindo esconder, me separando do corpo da maior, logo sentindo falta do seu calor. Ela me olha brevemente, pegando o desapontamento no meu olhar, apenas acena e o que vejo no seu rosto não me motiva. De alguma forma eu sinto que ela ainda considera a ideia de me dar uma segunda chance de vida se sacrificando.

Fallen (Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora