Capítulo 2 - DR. GYN

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Após um dia agitado e cansativo no trabalho, tudo o que eu queria era uma boa taça de vinho, minha cama, um bom livro e silêncio. Meu consultório fica no oitavo andar de um prédio em Manhattan, ainda assim, com as janelas abertas, é possível ouvir a cacofonia de carros, pessoas, músicas das lojas, o barulho habitual da cidade. De volta ao meu bairro, há apenas o silêncio costumeiro e bem-vindo. Sempre que chego ao meu apartamento, quero apenas deitar e aproveitar esse silêncio.

Mas, graças a Glenda, minha secretária, tenho um encontro esta noite. Glenda insistiu tanto que eu saísse com sua amiga, diga-se de passagem, uma amiga recém-divorciada e ao que se sabe, muito rica. Então só aceitei porque achei interessante que alguém que se assemelha a uma riquinha mimada, tenha amizade com minha assistente, uma imigrante ilegal simples e meio maluca.

Apenas por Glenda, ao sair do banho quente e rápido, visto meu uniforme de encontros, escolhido é claro, por ela. Uma calça social apertada demais, que deixa meu pênis desconfortável, uma blusa despojada também apertada e uma jaqueta jeans para quebrar o social, segundo ela.

Encontro Susan esperando por mim na mesa de um dos restaurantes mais caros e requisitados da cidade. Susan é uma mulher bonita, se consultou comigo uma vez, há uns dois meses e trocou de ginecologista em seguida. Achei que não tivesse gostado do meu atendimento, mas quando Glenda me convenceu a sair com ela, entendi que trocou de médico porque não saio com pacientes. Uma mulher decidida, adoro isso em uma mulher.

— O que você faz para se divertir, Susan? — pergunto assim que fazemos o pedido.

Ela pisca os olhos de maneira exagerada e sorri ao responder. Desde que cheguei ela mantém esse sorriso no rosto. Ele não aumenta e não diminui, um sorriso pela metade. Não é por algo engraçado, não é por estar feliz, de repente ele começa a me assustar. Me lembro da paciente da outra tarde, Mackenzie, completamente bêbada, sorrindo feito uma maluca e acabo sorrindo também.

— O que você achou tão engraçado, doutor? — Susan pergunta ao invés de responder.

— Esta semana tive uma paciente que sentou-se na cadeira de frente para mim e ficou rindo. Assim, do nada, os dentes à mostra por vários minutos. Foi bem engraçado.

— Não me admira isso. Muitas mulheres devem entrar em seu consultório e se sentirem sortudas ao ver o médico.

Disfarço o incômodo pela maneira como está me olhando e a observo esperando sua resposta. Susan tem o cabelo curtinho, platinado, olhos negros e cílios muito espessos. Tem o rosto angular, lábios enormes e um nariz fino. É uma mulher bonita, como muitas outras.

— Você não respondeu minha pergunta — comento para que ela desvie o foco do meu peito à mostra, como está fazendo. Ainda vou ralhar com Glenda sobre esse uniforme.

— Quando não estou fazendo compras, ou em um spa, costumo sair com minhas amigas.

— E o que vocês fazem?

— Compras, ou vamos ao clube.

— Ah, eu também adoro nadar!

Ela ri de um jeito forçado e toca minha mão por cima da mesa.

— Eu não sei nadar, para ser sincera. Gosto de ir ao clube observar as pessoas, minhas amigas e eu somos bastante observadoras. Nada passa batido por nossos olhos.

Resumindo: ela vai apenas para fofocar com as amigas igualmente ricas e malvadas sobre as outras pessoas.

— Como começou sua amizade com a Glenda? — pergunto mudando de assunto assim que a entrada é servida.

— Glenda? — ela franze o cenho como se não soubesse de quem estou falando e solto o garfo em minha mão.

— A minha secretária.

Sua expressão de confusa, passa para a expressão que vejo nos rostos dessas riquinhas mimadas todo o tempo, nojo.

— Não somos amigas. Nada contra sua assistente, até gosto dela, mas ela é sua funcionária. Não poderíamos ser amigas, não é? Seria estranho.

Concordo com a cabeça e volto a comer enquanto ela começa a falar sobre suas amigas. Então por algum motivo, talvez o meu silêncio constrangedor, ela começa a falar do ex-marido. Diz tantas coisas negativas em relação a ele, e me seguro para não rir, pois uma mulher recém-divorciada não poderia dizer algo diferente do homem de quem acabou de se separar. Penso que estou me tornando um homem recluso e chato, pois parece que mulher nenhuma consegue mais me surpreender. Quando meu celular toca, agradeço internamente a interrupção e o atendo.

— Boa noite, com quem falo? — a voz do outro lado da linha pergunta.

— Sou Gabriel Gynlard, com quem estou falando?

— Boa noite, senhor Gynlard. Aconteceu um incidente e preciso que o senhor venha buscar sua namorada. Ela... — Ele parece puxar uma respiração antes de falar. — Estava em um motel, com outro homem, quando aconteceu um tiroteio no quarto ao lado. Sua namorada se feriu, mas não é nada grave.

— Minha namorada? O senhor tem certeza que ligou para a pessoa certa?

— Imagino que sim, senhor, o seu contato está salvo no celular dela como amor. Se trata de Mackenzie Johanna Wells. Não é sua namorada?

Retiro o que acabei de dizer, há uma mulher que pela segunda vez esta semana, conseguiu me surpreender.

— Claro! É minha namorada, me passe o endereço de onde ela está, por favor.

Anoto em um guardanapo com uma caneta de ouro fornecida por Susan, e a julgar por sua careta ao ouvir o que eu disse ao telefone, não está nada feliz.

— Sinto muito, Susan, preciso ir agora, nós podemos remarcar nosso jantar?

— Você tem uma namorada?

— Vou descobrir isso agora.

— Seja quem for, eu sou melhor do que ela, você não deveria ir. Tenho experiências que irão surpreendê-lo, doutor.

Eu realmente duvido muito disso.

— Sinto muito, Susan. Eu adoraria conhecê-la mais à fundo, mas preciso ir.

— Sua assistente vai ter que me devolver o dinheiro que paguei a ela! — afirma indignada jogando o guardanapo sobre a mesa, ao lado do seu prato.

Paro onde estou enquanto ela resmunga que deu muito dinheiro a Glenda para que ela me convencesse a sair esta noite. Estou surpreso, ela me surpreendeu, mas não de um jeito bom. E Glenda será demitida! Com toda certeza!

— Neste caso, Susan, não iremos remarcar nosso jantar. Não sou algum objeto, se queria sair comigo poderia ter pedido a ela o meu telefone e me chamado. Prefiro que não nos encontremos mais. Tenha uma boa noite.

Saio do restaurante irritado com Glenda, mais uma vez, me usando como sua fonte de renda extra. E me dirijo até o motel onde minha pequena paciente maluca está ferida.

DEGUSTAÇÃO - Doutor GynOnde histórias criam vida. Descubra agora