DEGUSTAÇÃO - Doutor Gyn

Capítulo 4 - DR. GYN

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— Gabe! Gabe! Gabriel!

Volto a mim e encaro Pepe, um senhor idoso e muito animado que mora no andar abaixo do meu. Ele bateu na minha porta há alguns minutos para conversarmos. Faz isso com frequência e geralmente presto toda atenção às suas histórias, e as histórias de seu país natal, a Argentina. Mas não hoje, hoje minha cabeça parece estar em todos os lugares, menos em cima do meu pescoço.

— Me desculpe, Pepe, o que você disse?

— Perguntei quem era a princesa loira que saiu do seu apartamento no outro dia.

— Você a viu?

— Ah, sim, eu estava vindo do mercadinho, a sacola rasgou e a princesa gentilmente me ajudou a pegar tudo e ainda levou até a minha cozinha. Ela consertou o problema no meu computador e deixou isto.

Ele estende um pedaço de post it onde há o desenho de um sol nascendo.

— Eu disse a ela que parecia que ia chover e que odeio dias chuvosos, eles nos deixam melancólicos. Uma garota muito legal, a menina loira. Qual é mesmo o nome dela?

— Mackenzie, ela é mesmo uma garota extraordinária.

— É por causa dela que você está com a cabeça nas nuvens desse jeito? Ou é por causa daquela sua mulher maluca? Eu não gosto daquela lá, ela entrou pela minha janela na semana passada! Quase me matou do coração!

— Eu sinto muito por isso, Pepe. Já conversei com a Jaqueline, ela não vai mais incomodar o senhor.

— Você fez mal em ajudar aquela lá. Eu disse a você, casamento é um pedido arriscado demais para ajudar alguém a quem você mal conhece, mas você me ouviu? Nunca ouviu! Agora não tem como se livrar dela.

Ele fica alguns minutos falando de Jaqueline e do quanto não gosta dela, e fico olhando o desenho feito por Mackenzie para meu vizinho solitário. Se ele o carrega no bolso, é porque gostou muito dele. Ele carrega no bolso um botão do cardigan preferido de sua falecida esposa. Um laço de cabelo que pertence à sua neta, hoje adulta, e uma moeda velha de seu país. Agora também o post it de Mackenzie. É como se ela deixasse uma marca em cada pessoa que cruza o seu caminho.

— Você precisa mesmo conhecer alguém. Não essas mulheres com quem você sai uma vez a cada estação do ano, mas alguém que marque você. Você devia esquecer essas que foram embora e se concentrar na que está chegando. Uma boa menina, a sua Mackenzie. Devolve meu desenho.

Ele toma o papel da minha mão e deixa meu apartamento sem que eu consiga respondê-lo.

A cada vez que abro a porta do consultório para chamar a próxima paciente, espero que ela apareça. Que me peça com seu jeito tímido para que eu seja seu primeiro. Eu teria que explicar a ela que não poderia fazer isso, ela é minha paciente, é uma menina, é inocente demais. Sorrio. A quem quero enganar? Se ela me pedisse isso, se eu estivesse em seu catálogo de candidatos, eu não pensaria duas vezes antes de dizer sim. Provavelmente eu tiraria sua roupa nem um minuto depois que tal pedido escapasse por seus lábios.

Fazia tempo que uma mulher não despertava tanto meu interesse, e meu pau.

Quando meu horário encerra, ligo para James, meu amigo de longa data. Ele trabalha no consultório de cima, é um renomado obstetra. O convido a sair um pouco, espairecer a cabeça e ele logo começa a falar:

— Essas mulheres não param de ter filhos! Por que querem superpovoar o mundo? Eu fiz seis partos apenas hoje, cara! Seis novas crianças lindas e fofas demais vieram ao mundo pelas minhas mãos. E vão sofrer nesse mundo feio, as pobrezinhas, por que você precisa sair? A Jaqueline está te enlouquecendo de novo? Eu já disse a você, conheço um matador de aluguel! Dormi com ele algumas vezes, tem cicatrizes horrorosas pelo corpo, o pobrezinho! Uma noite ele teve um pesadelo e quase me estrangulou, então não saí com ele mais. Mas ainda tenho seu contato, ele daria um sumiço na Jaqueline para você, eu mesmo pago o serviço. É por isso que prefiro homens!