Capítulo 3

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O galpãozinho do meu jardim


— E na primavera, abundância será o que você notar em primeiro lugar: vinhas escalando a treliça da varanda, rosas entrelaçando através dos mandris, flores transbordando de seus vasos.

Eu balancei a cabeça enquanto caminhava ao lado de Salvatore, admirada com seu vasto conhecimento e emocionada por ele estar compartilhando tudo isso comigo.

Depois de receber a concordância do meu marido que ele não se importava com o que eu fazia desde que eu não mudasse sua rotina ou fizesse tentativas de seduzi-lo – o que eu não faria, claro – voltei a trabalhar no jardim.

Eu tinha uma ideia em minha mente... Uma espécie de plano... Que satisfaria minha sogra e eu: fingiria ser a dama que ela desejava, ficaria longe da sujeira e iria só supervisionar o projeto. Se isso significasse que eu poderia ficar perto do jardineiro que eu ansiava, o tempo todo satisfazendo meus novos desejos.

No entanto, os dias se passaram e... Nada aconteceu. Bem, não exatamente nada: eu escolhi flores, arbustos, cuidei de botões de rosa, podei folhas, coisas que aprendi a amar, mas Salvatore não fez um gesto que pudesse me levar a pensar que ele me queria.

Ontem à noite, meus sonhos foram muito vívidos, e ainda estou quente e molhada de... Hmm... Suor, enquanto ando pelo jardim ao lado dele ao final do dia de trabalho.

Eu pensei sobre o que fazer em nosso encontro de hoje, mas não conseguia pôr minhas ideias em prática. Eu estava mais do que pronta para contar a ele como havia sonhado conosco, mas ele não perguntou nada desde que nos encontramos às nove horas da manhã.

E parecia que eu ia morrer esperando que ele o fizesse enquanto a tarde se arrastava por entre a terra remexida e os botões de rosa.

Salvatore parou abruptamente de caminhar e eu, que estava sonhando acordada, quase dei um encontrão nele.

— Opa! — disse ele, estendendo a mão para me segurar. — Não se machuque, Cara.

Eu respirei fundo, seu toque no meu braço reacendendo o fogo que já fervia na minha barriga. Desejei que ele me tomasse em seus braços, me beijasse como se ele fosse um homem faminto; queria saber se ele se sentia como eu, ansiava como eu.

Mas Salvatore não o fez, liberando-me tão rapidamente quanto me tocou.

Soltei um suspiro quando retomou sua caminhada ao redor do espaço, sentindo a raiva crescer por dentro.

Como ele ousava fingir que nada estava acontecendo entre nós? Como ele não sentia o mesmo calor fluindo em suas veias? Por que ele estava me torturando assim?

Fechando minhas mãos em punhos, recusei-me a me mover um centímetro do ponto em que estava e fiquei olhando para ele até que ele parou e se virou, aborrecimento brilhando em seus olhos.

— Você deseja retomar nossa caminhada, Lady Beardley, ou devo continuar o meu dia?

Endireitei meus ombros, desejando que me permitissem jogar algo, qualquer coisa, no homem infernal. — Gostaria de ter uma palavrinha em particular com você.

Ele se aproximou de mim, seu corpo tenso como um arco. Eu podia ver seus olhos endurecendo, sua mandíbula se apertando. — Uma palavrinha? Você quer falar comigo?

Eu queria pegá-lo em meus braços e beijá-lo, mas apenas engoli em seco e balancei a cabeça firmemente. — Uma palavrinha. Em privado.

Ia dizer a ele que não podia mais jogar este jogo com ele. Ou ele desejava continuar nossa ligação ou não.

Do Diário da Baronesa 2Onde histórias criam vida. Descubra agora