Capítulo 11

355 22 3
                                    


Mon Cher Journal,

Eu adoro olhar para fora da janela na primavera enquanto o sol lava o jardim com um brilho dourado e derrete da grama e flores o revestimento de neve do inverno.

Meu jardim também tem agora um lago e lá eu posso ver os girinos brilhando como mini luas em suas águas rasas. Eles até têm pequenas manchas quase invisíveis – como se pudessem ser tão antigos e estranhos quanto a própria lua.

Ao redor do lago, brotos de campânulas e campainhas-brancas irrompem da terra para que as abelhas zumbindo possam surfá-las, buscando pólen, vagantes grãos de pó de fada, espalhados pelo vento tempestuoso.

Os jardins me lembram a vida, o amor e a magia – e Salvatore.

Mas tem chovido sem parar por uma semana e minha depressão estava se avizinhando novamente.

Eu estava de mau humor desde ontem à noite. Collette visitou-me novamente, mas ela foi embora há dois dias e eu já estou me sentindo muito sozinha. Para piorar o barão está chegando de sua viagem esta noite.

Mas, como sempre, lá vou eu de novo colocando o carro na frente dos bois.

Esta manhã, decidi não me juntar à minha sogra e a Monsieur Lambert – Jacques Lambert é o pintor a quem o barão encomendou o meu retrato – para o café da manhã. Nem tampouco fazer a minha monótona e entediante caminhada matinal – em um ritmo calmo e respirando profunda e lentamente – sob um enorme guarda-chuva, já que chovia.

Porque quando chove, supostamente devo fazer meu passeio pelos longos corredores e quartos vazios do Solar Beardley. E quando me recuso, o barão, meu marido – ou melhor, meu carcereiro – me faz andar sob a chuva carregando um guarda-chuva ridiculamente grande, para que eu não pegue um resfriado.

Quão louco é isso?

Quando o barão chega, com certeza você já sabe o que eu devo esperar nos próximos vinte dias: foda para procriação, três vezes por dia.

Tenho pena do meu marido em sua busca por um herdeiro, mas tenho mais pena de mim mesma por ter caído nessa armadilha de vida patética. E agora, quando meu retrato estiver completo, minha imagem permanecerá aprisionada nesta mansão muito depois de eu ter morrido.

Mas eu divago.

Como o barão não estava em casa esta manhã para me obrigar a fazer o que ele queira, resolvi tomar café da manhã na cama e ali permanecer até o meio da manhã.

Minha empregada entrou no meu quarto, carregando meu café da manhã em uma grande bandeja de prata, e me cumprimentou com sua voz de canto, sorrindo alegremente: — Bom dia, milady.

Ela esperou que eu me sentasse confortavelmente na cama e recostasse nos muitos travesseiros de penas de ganso, só então ela arrumou a bandeja do café da manhã no meu colo. Ela despejou chocolate quente de um bule de prata em uma delicada xícara de chá de porcelana e serviu uma boa dose de creme. Como eu gosto.

Lucia é o nome da minha empregada. Ela é uma tímida e doce garota do campo alguns anos mais nova que eu. Ah, dezoito anos de idade. Uma idade deliciosa, devo dizer. Me lembro bem disso.

Mordi um croissant com mel, uma especialidade da chef da mansão, enquanto observava Lúcia cuidar do vestido que eu usara ontem à noite para jantar com minha sogra, a chata, e monsieur Lambert.

Eu sei que Lucia me admira: meu lindo rosto; meu cabelo sedoso; meu corpo delicioso. Minha elegância, meus vestidos, minhas joias. Meu status como baronesa e meu poder como a grande dama da mansão, sem saber que eu detesto tudo isso.

Do Diário da Baronesa 2Onde histórias criam vida. Descubra agora