Capítulo 1

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A manhã seguinte


Mon Cher Journal,

Esta manhã, acordei com uma sensação de mudança que não fiz questão de analisar. Eu estava me sentindo excitada, leve, e tudo o que eu queria era dançar.

Abri as janelas francesas do meu quarto e examinei a bagunça instalada no meu jardim, mas já posso vê-lo tomando forma.

Para mim, não há flores demais. Nunca me canso das suas doces fragrâncias. E há algo sobre a beleza delas... Cada flor é única, não importa se está em um jardim cultivado ou em um terreno baldio. Suas pétalas são delicadas obras de arte e seus matizes são remédios para a alma.

As mulheres são comparadas às flores o tempo todo: pétalas desabrochadas, botões de flores frágeis.

Francamente, se você me perguntar, acho que isso é... um monte de estrume fedorento.

As mulheres não são apenas flores delicadas à espera de serem mimadas. Também somos fortes e inflexíveis.

E acho que não sou só eu que me sinto assim, apesar de ainda buscar uma mulher que sinta o mesmo – não que eu tenha encontrado muitas mulheres, já que estou presa nesta gaiola de ouro.

As pessoas levam flores para hospitais e cemitérios; as enviam para expressar seu amor; plantam em seus quintais, muito embora elas não tenham frutos comestíveis.

As flores nunca são chamadas de fortes e acho que é exatamente por isso que somos comparadas a elas. Na concepção da sociedade em geral, devemos ser fracas. Mas... Será que devemos?

Antes, não havia nada forte na minha vida, nada em que eu tivesse encontrado prazer, mas quando olho para as flores no sol da manhã, começo a acreditar que, finalmente, o encontrei.

O que começou como um simples capricho para plantar rosas porque eu estava entediada, tornou-se uma necessidade diária de compartilhar. Sem as flores, a paisagem em frente à minha janela seria apenas piscina e concreto. Bem, neste momento, ainda é só uma bagunça de terra virada ao redor da piscina, mas em poucos meses será uma visão acolhedora.

Na opinião de Salvatore Di Luca – o jardineiro de meu marido e desde ontem meu amante – um jardim perfeito não deveria ser apenas um espaço planejado, reservado para a exibição de beleza ornamental, mas principalmente um lugar onde as pessoas podem encontrar a beleza dentro de si mesmas. Acho que essa ideia não só acalma minha alma, mas também meu coração, e espero de bom grado o dia em que abrirei minhas janelas para ver as flores desabrocharem.

Ah, um amante, você pergunta?

Oui, tenho certeza de que essa é a palavra correta para paramour.

É engraçado, suponho, pensar que tenho um amante agora, risível mesmo. Ainda assim, não me vejo rindo do pensamento em si.

Oh, non, felizmente minha boca tem estado ocupada com gemidos deliciosos e suspiros surpresos a esse respeito. O jardineiro do meu marido trouxe uma alegria à minha vida que eu não sabia que estava perdendo.

Uma paixão selvagem se instalou em meu corpo desde que conheci o jardineiro do barão. As emoções sexuais que meu marido despertara, mas não satisfazia plenamente, foram estimuladas pelas atenções e flertes de Salvatore – e ele, sim, conseguia me satisfazer.

É claro que pode ser considerado um tabu enorme ter um amante, já que sou uma mulher casada.

Imagino o choque, o horror das soeurs as freiras – se soubessem da minha... Hmm... Indiscrição. E as amigas da baronesa-mãe? Elas me rotulariam como adúltera e meu marido seria um pária por ter se casado com uma vagabunda.

Do Diário da Baronesa 2Onde histórias criam vida. Descubra agora