Capítulo 6

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Mon Cher Journal,

Ninguém sabe o que eu verdadeiramente sinto, além de mim mesma. Isso pode parecer um pouco estúpido, mas não é. Às vezes, não nos conhecemos. E é por isso que nos perdemos, porque nunca nos conhecemos para começar.

Quando pequena, eu era quieta e tímida e meu tempo no convento me deixou ainda mais reservada. Meus pais me casaram – o que é diferente de me casei – com um homem muito mais velho quando tinha apenas dezoito anos, e depois que vim morar aqui, nesta mansão abandonada no meio do nada, ficando ainda mais solitária.

Minha vida aqui em Beardley Manor é mais restrita e restritiva do que aquela que levei no convento onde cresci. Parece que estou na Idade Média, ao invés do século XX.

Das olhadelas que roubei da TV dos funcionários, sei que as mulheres agora têm liberdades que não me são permitidas. E tudo isso é culpa do meu marido. Bon, não exatamente só culpa dele, mas também dos meus pais e, por que não dizer, minha também.

E essa rebeldia que cresce em mim é, em parte, consequência das lições de Salvatore.

Aprendi algumas coisas com Salvatore – sobre mim e sobre ele – nesses dois meses tivemos nosso pequeno arranjo.

Em primeiro lugar, devo dizer que ele nunca me deixou parar de trabalhar nos planos para o meu jardim, que estão ficando mais incríveis a cada dia, um paraíso que estamos criando juntos.

Quero que este meu jardim seja perfeito, e ele veio e me ensinou que um jardim é como a vida: não perfeita em quase tudo. Se tinha flores, tinha insetos; podia ter espinhos, mas atraía borboletas.

Aprendi com ele que a jardinagem tem muitos elementos, desde o layout da paisagem – como caminhos, rochas ornamentais, fontes de água, áreas de estar, etc. – até as próprias plantas, levando em consideração estação, temperatura, tamanho, crescimento e todo aquele blá-blá-blá, para uma combinação perfeita de plantas.

Os jardins podem ser projetados por profissionais ou por uma pessoa talentosa e natural como Salvatore.

Os paisagistas costumam ser treinados em princípios de design e horticultura e têm conhecimento e experiência de uso de plantas. Alguns também são arquitetos paisagistas.

Meu Salvatore não tem tal treinamento e ele é o melhor criador de jardim que já vi.

Hoje mais cedo, estávamos deitados juntos no banco, reclinados de lado, nus ao sol do fim da tarde, conversando sobre jardins. Sua pele macia e úmida estava corada pelo esforço, seus músculos ainda inchados e seu pau, que tanto me agrada, relaxado contra sua coxa forte. Seus olhos estavam com as pálpebras pesadas e pareciam ouro aquecido.

Eu escutei Salvatore compartilhar seu vasto conhecimento sobre jardinagem e quando finalmente ele parou, eu disse com um sorriso: — Você é um especialista em plantar sementes. Posso atestar.

Ele riu e passou os braços apertados em volta de mim. — Chloé, tolinha, o que eu vou fazer com você, hein?

— Hum, eu não consigo pensar em muitas coisas, mas tenho certeza que você pode — eu disse.

Ele riu novamente e se levantou. — Vou me refrescar um pouco. Vem comigo?

Eu não sei nadar e isso me deixa tímida. Eu nunca tive a oportunidade de aprender, e apesar de estar certa de que Salvatore nunca deixaria qualquer coisa acontecer comigo, é claro, a ideia de estar naquela água, incapaz de colocar os pés no chão, me deixava nervosa.

— Venha — disse ele, acenando com a mão, o sol brilhando em sua pele bronzeada. — Do que você tem medo?

Sua declaração de zombaria me fez pegar a mão dele e permitir que ele me ajudasse a levantar. Eu não tinha medo de nada. Eu não era fraca!

Do Diário da Baronesa 2Onde histórias criam vida. Descubra agora