Capítulo 14

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Você já reparou que na primavera a grama alta parece sussurrar? Como se fossem pessoas, todas juntas pedindo silêncio. Ssssh, os galhinhos esverdeados e brilhantes balançam, em ritmo de valsa, pedindo-nos para ouvir o som de seu prazer em renascer.

À noite, o vento diminui e a lua aparece, encharcando meu lindo jardim da piscina em uma luz prateada. Posso ouvir ao longe, no Parque Beardley, o latido de filhotes de raposa, seguido pelo solitário pio de uma coruja mais próxima.

E então, novamente, quando a manhã chegar, o sol aparecerá mais uma vez, esticando seus braços afugentando a noite para injetar vida no jardim que Salvatore construiu com tanto amor por mim.

Mas a primavera deu lugar a um verão quente e seco e, apesar do calor, há mais diversão em Londres do que no Solar Beardley.

Pela primeira vez, estou residindo na Casa Beardley, no bairro chique de Mayfair, ao menos pelos próximos dias, e aproveitando tudo o que Londres tem a oferecer.

Embora seja agradável, descobri que não sou mais tão facilmente entretida como quando cheguei a Londres há mais de sete anos. O preço da maturidade, suspeito.

Esta manhã, assisti ao casamento de uma querida amiga. O noivo estava compreensivelmente nervoso, mas sua voz tinha o tom feroz de um homem apaixonado.

Podia-se dizer simplesmente por olhar nos olhos do feliz casal, enquanto prometiam fidelidade um ao outro, que não havia nenhum pensamento sobre a adequação do par, mas apenas os sentimentos que sentiam um pelo outro. Como deveria ser, eu acho.

Ah, l'amour.

Talvez tenha sido o romance aparente em sua união ou a falta dele na minha própria vida, mas eu me encontrei em um estado estranhamente pensativo e reflexivo.

Tente não ficar chocada com essa revelação: de vez em quando sou conhecida por ser um pouco mais profunda do que aparento.

Não há dúvida de que esse meu estado de ânimo não vai durar, já que não sou normalmente de natureza depressiva.

Parece agora que tenho andado pela vida, pelo amor e por tudo o mais, de maneira totalmente errada, como certamente a evidência confirma. Ou a falta dela.

Sete anos de "boas meninas" empurradas para dentro de mim não conseguiram produzir um herdeiro. Nós éramos um casal sem amor, com desejos separados ligados a um objetivo comum. E nada tendo conseguido, me pego questionando o sentido da minha vida.

Parece-me que o amor poderia fazer qualquer coisa se encaixar. Talvez a adequação do par não seja tão importante quanto as necessidades do coração. Parece tão óbvio, não é?

Nesta mesma festa de casamento, encontrei Collette e Jean e conversamos por um longo tempo, mas depois de um tempo me distraí com meus pensamentos.

— Você concorda ou não? — Collette perguntou bruscamente quando percebeu que eu estava divagando.

Concordar com o quê? Eu não tinha ideia do que ela estava falando, então cautelosamente disse: — Há muito a considerar.

Os olhos de Collette se estreitaram e ela me disse: — É exatamente o que eu estava dizendo que você deveria estar fazendo. Considerando. Você não ouviu uma palavra que eu disse, não é?

Não, eu não tinha ouvido, mas não ia dizer isso a ela. Mas, mesmo assim, murmurei que não.

— Tenho a nítida sensação de que você não presta absolutamente nenhuma atenção porque está adiando a sua decisão.

Dei de ombros, ignorando uma pontada de culpa por sua precisão. — Não seja boba. Você tem toda a minha atenção.

— Ah, é, é? — Collette me estudou de perto. — Então me diga, você vai ou não vai se divorciar?

— Divórcio? — Eu engasguei comigo mesma. — Por que diabos eu iria me divorciar?

Ela fungou. — Sabia que você não estava escutando. Esta é uma decisão importante. A maior decisão da sua vida afora o casamento com le baron couchon, claro!

— Um Beardley nunca se divorciou.

— Você não é uma Beardley, ma cherie, você é uma La Fleur.

— Collette, eu não posso... Joseph, e, ah, bem, todo mundo vai ficar chocado. Horrorizado mesmo.

O tom de Collette endureceu. — Sim, eu disse isso também.

— Absolutamente ninguém vai me apoiar nisso — eu disse, e sustentei o olhar dela. — Além de você, claro. Se... Apenas uma hipótese... Você acha... Que eu deveria pensar nisso?

— Sim — disse Collette sem hesitar. — Eu acho.

— Sério? — Eu balancei a cabeça. — Non, é imprudente e tolo.

— Você foi imprudente e tola quando se casou com Beardley. Esta decisão é muito mais sábia. — Collette abaixou a voz e disse em um sibilo — Vocês não combinam, e ele é homossexual, Chloé.

Era mais do que simplesmente não combinar ou Joseph ser homossexual, mas era melhor não entrar nessa questão.

— Eu não sei onde ele está, le baron. — Meus lábios se apertaram em uma linha firme. Collette era a única amiga em quem eu confiava, para a qual podia contar que um belo dia, meu marido me avisou que ele iria viajar a negócios. E que isso foi há seis meses atrás. Eu sei que ele está vivo, porque seu secretário me envia mensagens mensais sobre sua saúde, mas isso é tudo.

— Temo que terei que rastreá-lo antes que eu possa fazer qualquer coisa.

— Bobagem — Collette zombou. — A sociedade perdoa qualquer coisa com tanto que não seja escândalo ou...

— O divórcio é geralmente considerado um escândalo — disse a ela, mas Collette me ignorou completamente e continuou seu discurso sobre mon mari, segundo ela, o barão porco.

Será que encontrarei outro homem que olhe para mim como fez Salvatore, como se eu fosse a lua, as estrelas e todas as coisas maravilhosas?

Um olhar que veio de sua alma e tocou a minha. Um olhar que eu retornei, que guardo como um tesouro até hoje.

Talvez... Oui!

Talvez eu vá para a Itália e procure por Salvatore e viva meus dias ao seu lado, fazendo amor e plantando rosas.

Ah, oui, isso sim, é uma questão a se pensar.

Do Diário da Baronesa 2Onde histórias criam vida. Descubra agora