Capítulo 9- A verdade nua e crua

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Narração Sofie

Resmunguei mais alto do que o esperado quando Nikki me acordou.

Deviam ser pelo menos onze e meia da noite de um final de semana, e eu estava já quase adormecida quando Nikki entrou meio desesperada no meu quarto e me acordou. Lua, que estava atrás dela, falou que era pra todas nós nos encontrarmos no quarto de Lilith.

Agradeci aos céus mentalmente por Ayato não ter aparecido por ali ainda. Digamos que desde o

Ontem, nosso primeiro dia de aula, meu relacionamento com ele estava pior do que antes.

Levantei-me preguiçosamente da Iron Maiden e coloquei a mão sob a ferida em meu pescoço. A ferida que Ayato havia feito com suas próprias presas.

Por mais que eu e ele estivéssemos tentando nos evitar desde aquele dia, eu era noiva dele, noiva de um vampiro. E também, era difícil não lembrar de sua força anormal pressionando meu pulso, quase parando minha circulação sanguínea, ele me puxando para a sala de economia doméstica... As presas entrando em meu pescoço enquanto o sangue escorria até a blusa do meu uniforme...

Aquilo estava quase virando um pesadelo pra mim, mas é obvio que eu não demonstrava isso. Afinal, eu era Sofie Herbert, eu nasci pra não sentir nada.

Deuses, eu estou até parecendo uma protagonista de alguma série babaca falando assim.

Levantei-me da Iron Maiden completamente e me dirigi até o quarto de Lilith, me assustando ao ver que Marie, Sarah e Lua não pareciam estar entendendo nada. Já Nikki e Victoria estavam em pé, parecendo brevemente assustadas. Eu só não entendia o por que.

—Eu te entendo, Sofie- Nikki falou, o que me fez dar um pulinho de susto- Realmente dói, o que aconteceu com você ontem.

Espera um segundo... Ela sabia que Ayato havia me mordido?

—Como você... Como você sabe?- Eu arquei uma sobrancelha, com os olhos arregalados.

—Eu vi você e Ayato ontem na sala de economia doméstica- Victoria começou, percebi que seus braços tremiam um pouco- Eu contei pra Nikki, ela não acreditou e foi tirar a prova concreta com Shu... Mas isso terminou mal, como você deve imaginar.

Engoli em seco.

—Ok garotas, o papo deve estar ótimo entre vocês três... Mas nós aqui também queremos saber o que está acontecendo, sabia?- Marie nos chamou a atenção, o que me fez despertar da minha pequena transe

Eu, Victoria e Nikki respiramos fundo juntas.

—Marie... Lua... Sarah...- Victoria começou, encolhendo seus braços, me pergunto se por conta do frio ou por causa do medo- Nós estamos vivendo com vampiros.

Um silêncio extremamente constrangedor invadiu o quarto por alguns minutos.

—Ok, parem de brincar com isso, não é divertido- Sarah disse,percebi que sua voz tremeu um pouco no meio.

—Não estamos brincando, Sarah.- Eu tomei a fala- É verdade... Se quiserem, acho que eu e Nikki podemos mostrar pra vocês.

Lua se levantou. Por um segundo achei que ela ia socar alguma de nós (Por mais que isso seja mais algo que sua irmã mais velha faria), mas ela somente chegou perto de mim e puxou minha gola pra baixo.

Engasguei com o susto. Aquele movimento de minha irmã mais nova fora tão repentino que tudo que eu pude fazer foi disfarçar minha respiração pesada.

Percebi dedos delicados passarem pelos dois furos em meu pescoços, inchados e numa mistura de vermelho com roxo que não era tão agradável assim de ser visto. Segurei um leve gemido de dor com o toque.

Por mais que os dedos de Lua fossem finos e leves como penas, a ferida ainda estava horrível demais para ser tocada por qualquer ser, seja ela uma das minhas irmãs ou qualquer outro ser.

—Isso...- Marie começou, chamando Sarah para ver a ferida juntamente com a loira- Foi o que Ayato fez ontem?

Eu timidamente concordei, antes de afastar a mão de Lua de meu pescoço e levantar minha gola para o lugar onde ela estava anteriormente.

O clima da sala de repente ficou extremamente pesado. Era como se existisse um buraco negro no meio do cômodo que estivesse sugando qualquer tipo de energia que existia.

—E-eu...- Sarah começou, sua voz estava tão fraca que meu primeiro sentimento foi querer abraçar ela. Como se isso fosse adiantar alguma coisa na situação que estávamos-Acho que preciso ligar pro meu pai.

—É inútil, Sarah.- Victoria disse. Seu rosto parecia de alguém forte, mas sua voz trêmula dizia outra história- Vocês não perceberam ainda? Nossos pais SABIAM disso. Eles nos mandaram aqui provavelmente para servirmos como alimentos para esses... para esses monstros.

—Victoria... Não precisa exagerar!- Marie disse, se levantando da cama onde estava sentada para colocar as mãos sob os ombros de sua irmã.

—Garotas!- Victoria exclamou- Sejamos sinceras! Vampiros não se apaixonam! Vampiros não tem emoções que não sejam a vontade de sugar e machucar os humanos! E no caso, os humanos somos nós.

Meus olhos, por algum motivo, encheram de lágrimas. Eu havia tido uma crise de pânico por algum motivo na frente de Ayato. Acho que agora eu sei porque eu estava tão nervosa, estressada e temendo o que podia acontecer.

Eu era realmente uma idiota de não notar isso antes.

Desviei meu olhar das meninas o mais rápido possível, olhando para a parede vermelha do quarto de Lilith.

Então o ser que mais estava ajudando a gente até agora também era um deles...

—Mas Lilith também é uma vampira.- Nikki, como se estivesse lendo meus pensamentos, falou- Vocês viram que ela estava nos ajudando a nos adaptarmos a casa... Ela nos apresentou aos meninos...

—E foi só ela ir embora que os meninos resolveram começar a festejar a gente- Eu conclui o pensamento de Nikki- Ela era basicamente a única coisa que os impedia de saciar a sede deles com a gente.

Um silêncio constrangedor dominou a sala quando terminei de falar. A única coisa que eu podia ouvir eram nossas respirações pesadas e até um ranger de dentes vindo de Lua, que não demorou a quebrar o silêncio:

—E agora, o que iremos fazer?

—A coisa mais óbvia, dã- Marie disse como se fosse óbvio- Vamos fugir.

—E vai adiantar alguma coisa?- Sarah perguntou, pude ver seus braços tremendo.

Se eu já achava Kanato um psicopata ridículo, agora eu acho ele a pior coisa do universo pra minha irmã.

—Vocês não estão querendo que fiquemos aqui servindo de sache de sangue para esses caras sadistas, estão?- Marie olhou pra gente, como se implorasse que alguma coisa acontecesse.

—E quando podemos fugir- Eu falei, surpreendendo a todas e até a mim mesma.

—Que tal amanhã durante a noite?- Victoria disse- É sábado, não teremos aula.

—Ok, então todas nos vemos no jardim de rosas amanhã no anoitecer?- Marie disse, o que fez todas concordarem com a cabeça.

No final, todas saíram para os quartos de seus devidos noivos. Eu e Lua ficamos por último.

—Só eu que acho que essa fuga não vai dar certo?- Ela perguntou, olhando pra mim.

—Pode ter certeza que não.- Eu respondi enquanto fechava a porta do quarto.

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