"Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente"
(Por enquanto – Cássia Eller)
Estava parada em frente ao cartaz feito com papel pardo e tinta guache, que listava as atrações do evento. Nos dias de sarau a coordenação dispensava os alunos de algumas aulas, para a felicidade geral.
11:45 – Abertura
12:00 – Declamação poema – Professora Socorro.
12:10 – Apresentação musical – João 2º B e Zé 2º A
12:30 – Performance – Andrei 3º D
12:40 – Apresentação de dança das funcionárias – Carolina, Fernanda, Joice e Simone.
Intervalo
13:20 – Declamação de poema – Alexandre 2º B
13:30 – Apresentação Banda Miscelânea – 3º D
13:50 – Encerramento.
— Miscelânea? — Amanda franziu a testa ao se aproximar, junto com Marcela — Que isso?
— A mesma coisa que mistureba, só que usando uma palavra mais bonita. — Regina explicou e as três gargalharam.
As três gargalharam.
O nome era perfeito, tendo em vista a descendência dos componentes da banda: Bárbara de japoneses, Ricardo de indígenas e Silveira de negros. Porém Regina não pôde deixar de ficar intrigada com aquela mudança, porque da primeira vez, ela tinha certeza, o nome da banda era "Classe D – Fundos", combinando mais com a irreverência dos três.
Por um minuto ela considerou se o seu discurso inflamado, semanas antes, tinha causado aquela alteração. Talvez eles também quisessem discutir alguma coisa além do entretenimento.
— O pessoal do primeiro nunca tem coragem de apresentar nada no primeiro sarau do ano, uma pena... — Marcela lamentou.
— E o que é isso que o Andrei vai fazer?
— Sei lá, ele é doido.
As três seguiram na direção do restante dos amigos, que já ocupavam algumas das cadeiras dispostas como num auditório, forrando um trecho do pátio coberto.
Regina respirou fundo, se recordando do que aconteceria na apresentação do amigo e por alguns segundos considerou avisá-lo, porém não sabia exatamente o que dizer. E, além do mais, Andrei havia citado esse acontecimento durante o churrasco de reencontro e não lhe pareceu que ele tivesse ficado traumatizado. Sendo assim, decidiu se sentar com as amigas e curtir as apresentações.
Depois da dupla quase sertaneja do segundo ano, foi a vez do colega de sala.
— Aê Andrei! — Sabrina gritou quando o garoto subiu no pequeno palco feito com tablados apoiados numa estrutura de metal, que dava aos artistas uma altura extra de vinte centímetros.
Ele usava a calça jeans de sempre e a camiseta do uniforme, porém havia vestido também uma camisa social, que estava aberta até a metade, e uma gravata com um nó frouxo. Sorrindo, ele se aproximou do microfone:
— Vou declamar para vocês um poema do Augusto dos Anjos, cujo nome é Versos Íntimos.
— Hum.... Dá-lhe Angay! — Algum dos meninos de uma outra sala gritou, fazendo metade da plateia gargalhar.
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O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]
ChickLit** HISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2021, NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA ** Às vésperas de completar 36 anos, Regina recebe uma carta de sua avó Cassandra que, quando estava viva, afirmava ser uma bruxa, nunca sendo levada a sério. Regina agora tem e...