Capítulo 7 - Redemoinhos

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"Me leve pra qualquer lugar
Me leve para qualquer canto do mundo"

(Vento Ventania – Biquini Cavadão)

As aulas de educação física aconteciam uma vez por semana e naquele ano, para a alegria dos cabuladores, eram nas duas últimas aulas às quartas-feiras. Regina não gostava e nem era boa em esportes, contudo cumpria as atividades do currículo escolar sem reclamar. As amigas, ao contrário, adoravam as aulas e as competições de futebol e de handebol. Ela foi uma das últimas a sair da sala de aula naquela semana pois estava particularmente desanimada e, ao seguir na direção da quadra de esportes localizada nos fundos da escola, cruzou com Babí caminhando no sentido oposto.

— Não vai pra aula?

— Não, a gente vai dar uma volta no museu. Tá a fim?

Regina sequer cogitou dizer não, apenas mudou de direção e saiu com a colega pela porta da frente da escola. Naquela época os portões nunca eram trancados, incentivando a maturidade dos alunos.

Babí sorriu e ofereceu halls de morango:

— Quer?

— Você sempre tem bala?

— Sempre.

As duas caminharam em poucos minutos os oitocentos metros que separavam a escola dos jardins do Museu do Ipiranga, lugar onde muitos alunos faziam hora quando não queriam assistir aula. Aquele era mais um lugar que duas décadas mais tarde não teria mudado muito e que Regina vez ou outra levaria Clarinha para passear.

Silveira e Ricardo estavam sentados numa das várias áreas gramadas, munidos de violão e pandeiro.

— Regina Medeiros, você está cabulando aula?! — Silveira falou devagar e permaneceu com a boca aberta.

— Não enche o saco Silveira! — Babí sentou entre os dois meninos.

— Pensei em fazer uns experimentos esse ano. — Regina falou ao se sentar no chão, sem pensar muito no sentido que a frase poderia causar em dois adolescentes do sexo masculino.

— Puta merda! Quem te viu, quem te vê! — Silveira fechou a boca e levantou as sobrancelhas.

— Bem que o Diogo... — Ricardo foi interrompido pelo olhar fulminante das duas garotas — Okay, foi mal.

— Mas e aí, o que vocês costumam fazer quando cabulam aula?

— Ah minha pequena aprendiz... — Babí riu e acendeu um cigarro — Você tem muito o que aprender.

Sentiu o celular vibrar com uma mensagem de Sabrina "Você foi pra casa?" e apenas respondeu "Fui, tava cansada demais pra fazer exercícios".

Os três jovens compartilharam o cigarro, que Regina recusou.

— É, aí já seria muito pra você. — Ricardo riu e iniciou alguns acordes no violão.

O trio entoou perfeitamente uma versão de "Que vês" da banda Tihuana, seguida de "Don't Tell Me" da Madonna e encerraram com uma música que Regina nunca tinha ouvido na vida. Ela acompanhou encantada o show particular, batendo palmas no final:

— Se eu soubesse assobiar, eu faria.

— Eu te ensino, é bem fácil. — Ricardo largou o violão e começou a demonstrar como ela deveria dobrar os dedos.

Regina o imitou mas tudo que conseguiu foi babar e dar risada ao soprar o ar.

— É treino. Vai tentando que uma hora sai.

O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]Onde histórias criam vida. Descubra agora