"Vivemos esperando
O dia em que seremos para sempre"(Dias melhores – J Quest)
Três semanas haviam se passado desde o desentendimento entre Sabrina e Regina e as duas passaram a fingir que estava tudo bem. O que não foi tão difícil já que Regina tinha voltado a ser ela mesma, de acordo com o julgamento dos amigos.
Estava se deixando levar pelo piloto automático e assim não conversou novamente com Babí, Silveira e Ricardo e continuou estudando e fazendo as coisas como eram esperadas que ela fizesse.
Porém, mais uma lembrança a fez querer alterar acontecimentos. Ela não queria passar por aquele constrangimento novamente.
A festa junina do colégio se aproximava e ela rememorou o que tinha acontecido da outra vez: um dos piores momentos de sua adolescência.
Todas as amigas receberiam correios elegantes, exceto ela própria que, chateada, iria até o banheiro disfarçar a inveja enquanto refazia as tranças de caipira e urinava. Quando saísse do local deixaria, sem perceber, a barra da saia enroscada na calcinha mostrarparte do corpo para várias pessoas. Muito envergonhada depois de se recompor ela correria e sairia da escola, desistindo de continuar na festa.
Durante o restante do ano desejaria desaparecer todas as vezes que fosse alvo de piadas sobre seu corpo, calcinha, e a situação de sua saia naquele dia, peça de roupa que, aliás, ela jogaria no lixo.
Para completar, no trajeto até o ponto de ônibus veria Diogo, seu amor platônico da época, aos beijos com uma menina de outra classe.
Acordou naquele sábado decidida a não permitir que as distrações a envergonhassem dessa vez. Uma das medidas que tomou foi vestir calças, por precaução, e saiu empolgada para a festa, sem se importar que não receberia um bilhete de algum desconhecido. Isso não era mais tão relevante. Além do mais, ela sabia que ganharia muitos bilhetes apaixonados e sinceros de Tiago no futuro.
A primeira pessoa com quem encontrou ao chegar na escola, no início da tarde, fora Sabrina.
— Oi...
— Oi... — As duas ainda não conseguiam agir naturalmente.
— Achei que você não ia vir, que festa junina não era mais tão legal pra você, que seu negócio era show de rock.
Regina respirou fundo e tentou não sorrir com o visível ciúmes da amiga:
— Bina, desculpa tá? Da próxima vez eu te chamo. Eu descobri que eu gosto de conversar com o pessoal do fundão, o que eu posso fazer? Você devia jogar truco com a gente qualquer dia e tirar suas próprias conclusões. Mas é só isso, tá bom? Você é que é a minha melhor amiga e sabe tudo de mim. — Ou quase tudo, pensou.
A garota torceu a boca, porém estava se convencendo:
— Você está tendo uma crise de identidade? Uma crise adolescente?
— Se você prefere pensar assim, tá bom, eu estou. Mas eu insisto, eles são só meus colegas, você e as meninas é que são minhas amigas. E vão continuar sendo, pra sempre!
Ela mentia mais uma vez porque sabia que perderia o contato com Amanda e Marcela no decorrer dos anos seguintes. Entretanto era o que Sabrina precisava ouvir naquele momento, tanto que a garota já sorria:
— Tá, vamos comprar uma pipoca e você me conta como foi de verdade o show.
— É sério, foi bem chato.
— Jura? Poxa.
— Se te serve de consolo, o Ricardo estava sem camisa.
— Quem ficou com quem sem camisa? — Andrei pulou no meio das meninas e os três começaram a rir.
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O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]
ChickLit** HISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2021, NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA ** Às vésperas de completar 36 anos, Regina recebe uma carta de sua avó Cassandra que, quando estava viva, afirmava ser uma bruxa, nunca sendo levada a sério. Regina agora tem e...