Capítulo 16 - Temos tempo

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"Não deixe nada pra depois, não deixe o tempo passar..."

(Semana que vem – Pitty)

O corredor das classes de terceiro ano nunca estivera tão silencioso. Era a semana de provas finais e de repente ninguém mais cabulava aula, ninguém batia nas portas e saia correndo entre um sinal e outro e ninguém chegava atrasado.

Regina, assim como da primeira vez, queria se libertar daquela rotina ao mesmo tempo que já se sentia previamente nostálgica.

— E sexta-feira tem sarau! — Marcela distribuía com pressa e pela última vez o folheto mensal onde, entre outras coisas, havia um desenho de sua autoria, com alguns bonequinhos representando seus amigos. Agora a coautoria do folder seria herdada por algum aluno mais novo.

Regina alisou a imagem emocionada. Da primeira vez o desenho mostrara os seis amigos e ela o guardaria por anos até que o perdesse durante a mudança da casa dos pais. Dessa vez os componentes da Miscelânea faziam parte da imagem também, não tão destacados é verdade, entretanto eles estavam lá. 

Como prevenção ela guardou duas cópias do folder.

E seguiu sorrindo para a sala de aula, observando emocionada os colegas um pouco preocupados com as provas mas também incertos sobre o que deveriam estar sentindo. Era o fim da maior viagem de suas vidas, já dizia o discurso do orador misterioso.

Ao se sentar pela última vez naquela carteira Regina, já na sexta-feira, desejou passar as horas seguintes olhando mais uma vez cada detalhe do lugar e das pessoas pois de repente aqueles oito meses nem pareciam ter demorado tanto a passar. Mas ela optou por abrir o estojo de pelúcia em forma de cachorro, pegar sua caneta azul e debruçar na folha de papel.

A última prova seria de química. Por serem as provas finais, os alunos não poderiam deixar a sala conforme finalizassem o teste, deviam ficar sentados, quietos, até o término oficial da aula. Por isso, quando o sinal tocou a algazarra tomou conta. A professora sequer levantou a cabeça dos documentos que preenchia, pois, todo ano acontecia a mesma coisa e ela sabia que aquele sinal também significava que eles não eram mais sua responsabilidade. Babí, Silveira e Ricardo foram os primeiros a abrir a porta e correr, sem sequer olhar para trás. O grupo de Regina saiu um pouco depois, menos acelerados.

Sabrina e Andrei caminhavam em zigue-zague pelo corredor, quase trombando com diversos colegas, passando a mão pelas paredes e exagerando nos comentários:

— Não!!! Vamos guardar um pouquinho disso...

— Última vez que andamos nesse corredor... Última vez que bebemos água nesse bebedouro... Última vez que quase trombo com o cara bonitinho do terceiro B...

Regina seguia atrás deles, rindo com Amanda, Marcela e Diogo. Esse era mais um daqueles momentos que valiam a pena serem revisitados.

Um som grave, ritmado e abafado lhes chamou atenção.

— Caramba! O Ricardo trouxe mesmo a bateria! — Eles aceleraram o passo em direção ao pátio.

A regra que dizia que o sarau só poderia começar as 11h45min estava sendo obviamente quebrada. E, por se tratar da última participação da Miscelânea, eles fariam a abertura e o encerramento do evento.

— "Quero me encontrar, mas não sei onde estou, vem comigo procurar algum lugar mais calmo..." — A voz de Babí interpretando Legião Urbana surpreendeu a todos porque ela nunca cantava nos shows.

O grupo de Regina se acomodou em pé bem próximo ao palco e acompanhou a música com gritos e assobios. Dessa vez a garota havia se lembrado de levar uma máquina fotográfica e aproveitou para registrar alguns daqueles momentos. Ela ainda teria mais quatro meses para apreciar as imagens a serem reveladas.

O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]Onde histórias criam vida. Descubra agora