"Te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro"
(Quem de nós dois – Ana Carolina)
As aulas pareceram se arrastar naquela segunda-feira, Regina sentia como se um peso estivesse em suas costas, não gostava de chatear as pessoas e havia decidido pedir desculpas mais uma vez à amiga na hora da saída, porém Sabrina foi embora correndo.
Se sentiu abandonada e, pela primeira vez desde o início daquela viagem, quis chorar de tristeza.
Precisava estar com alguém com quem pudesse conversar normalmente, sem pisar em ovos, alguém que a aconselhasse e com quem ela simplesmente gostasse de estar junto.
Entretanto ele não estava por perto e não estaria ainda por muitos anos.
Mesmo assim ao invés de seguir para casa, tomou um ônibus diferente, que a levou ao sobrado dos pais de Tiago. Exceto pela alteração na cor da pintura de algumas residências e pela existência de uma escola infantil, a rua parecia a mesma de sempre. Passou devagar em frente à casa que parecia vazia, apesar de ela saber que a mãe e as irmãs do futuro marido estavam em casa. Gostaria de tocar a campainha e se apresentar, abraçá-las, comer um pedaço de qualquer um dos doces que a futura sogra fazia tão habilmente...
Porém, quem é que atende uma jovem desconhecida na porta de casa e a convida a entrar? Talvez se as abordasse numa outra situação, se soubesse os lugares que frequentavam... Só que rotinas detalhadas de vinte anos atrás não são o tipo de coisa que se conversa com sogras e cunhadas.
Ela só queria uma foto, um cheiro, qualquer coisa que a lembrasse do futuro, pois começava a crer que estava até se esquecendo do rosto de Clarinha e teve medo do que poderia estar acontecendo.
Caminhou até o final da rua e voltou novamente. Nada. Então seguiu mais uma vez para o ponto de ônibus e dali para casa.
No trajeto ficou se recordando de uma noite específica...
Era outubro de 2009.
Ingrid e Regina haviam se encontrado na saída da estação de metrô e de lá caminharam pela larga calçada:
— Está indo pro bar ou pra entrevista de emprego? — Ingrid, vestindo calças jeans e uma blusinha preta, sorria para a prima que estava com calças sociais cinza e uma camisa de listras finas azuis e brancas.
— Rá, rá, rá. É o meu jeito e você sabe.
— Olha lá, a Angélica já tá na porta do bar.
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O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]
Chick-Lit** HISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2021, NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA ** Às vésperas de completar 36 anos, Regina recebe uma carta de sua avó Cassandra que, quando estava viva, afirmava ser uma bruxa, nunca sendo levada a sério. Regina agora tem e...