Capítulo 13 - Noite longa pra uma vida curta

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"E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar"

(Lanterna dos afogados - Paralamas do sucesso)

No intervalo das aulas na segunda-feira, a fila do banheiro estava maior do que Regina esperava e ela escutou o sinal enquanto entrava num dos reservados. Para seu azar, percebeu que precisaria de um absorvente e tentou voltar mais rápido para a sala de aula, porém a agilidade não foi suficiente.

Professora Violeta caminhava vagarosamente pelo lado oposto do corredor, porém, ao avistar Regina, se apressou e entrou primeiro que ela na sala. A regra estabelecida logo no primeiro dia de aula, no primeiro ano, dizia que nenhum aluno seria autorizado a entrar na sala depois dela.

— Professora eu preciso pegar a minha mochila. — Regina tentou chamar atenção de Violeta, porém a senhora apenas sorriu sarcástica através da janela de vidro que ficava no meio da porta. Girou a chave e fez um sinal de "não" com o indicador.

— Puta que pariu! Vaca! Filha da puta! Caralho! - A garota saiu pisando duro e xingando pelo corredor.

Pela primeira vez na vida  Regina pronunciava palavrões e eles saíram todos de uma só vez.

Os membros da Miscelânea estavam cabulando aula no pátio e observaram a cena, chocados.

— O que aconteceu? — Babí foi ao encontro de Regina.

— Aquela cretina da Violeta! Tudo bem se ela não quer me deixar assistir aula, mas poderia pelo menos ter me deixado pegar a minha mochila! — em seguida diminuiu o tom de voz - Você tem um absorvente pra me dar?

Babí fez sinal positivo, pegou a própria mochila e as duas seguiram para o banheiro.

Ao retornarem, as meninas se sentaram com Ricardo e Silveira e jogaram truco enquanto falavam mal dos professores, como de costume. Na metade do tempo Regina já tinha se acalmado, graças a capacidade de seus novos amigos em contar piadas.

— E aí, vamos com a gente pra Porto? — Babí perguntou, entre uma jogada e outra.

Regina franziu a testa:

— Porto Seguro?

— É, na semana do saco cheio.

A escola não havia organizado uma viagem, porém a tradição dizia que viajar para a famosa cidade da Bahia, usar drogas e fazer sabe-se lá o que se fazia sem a supervisão de adultos, fazia parte do ritual de formatura.

Regina sabia que, se pedisse aos pais, eles fariam um esforço e pagariam pela aventura, e sentia curiosidade em participar de mais essa experiência, contudo, estava começando a desconfiar que havia um abismo entre a curiosidade de ser uma adolescente rebelde, como disse Tiago, e efetivamente gostar de ser uma. Sua primeira experiência com álcool e a nota vermelha comprovavam isso. Ficou se perguntando se realmente precisava fazer coisas que não a davam prazer algum somente para provar que tinha aproveitado a juventude.

— Hum... Vou pensar, depois você me passa os valores e eu te confirmo.

— Fechado... Truco!

Babí era dessas que distraía os oponentes e ria na cara deles quando percebiam terem sido enganados.

O quinto período seria vago portanto, os velhos amigos de Regina se aproximaram para jogar também. Poucos meses antes, ninguém diria que aqueles nove jovens possuíam assuntos em comum. 

— O ódio contra a Violeta nos une. — Sabrina concluiu, rindo, depois de mais uma sessão de desaforos contra a professora.

— Acho que eu vou formalizar uma reclamação contra ela na diretoria, a mulher é uma ditadora e opressora. — Regina cogitou.

O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]Onde histórias criam vida. Descubra agora