"E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar"(Lanterna dos afogados - Paralamas do sucesso)
No intervalo das aulas na segunda-feira, a fila do banheiro estava maior do que Regina esperava e ela escutou o sinal enquanto entrava num dos reservados. Para seu azar, percebeu que precisaria de um absorvente e tentou voltar mais rápido para a sala de aula, porém a agilidade não foi suficiente.
Professora Violeta caminhava vagarosamente pelo lado oposto do corredor, porém, ao avistar Regina, se apressou e entrou primeiro que ela na sala. A regra estabelecida logo no primeiro dia de aula, no primeiro ano, dizia que nenhum aluno seria autorizado a entrar na sala depois dela.
— Professora eu preciso pegar a minha mochila. — Regina tentou chamar atenção de Violeta, porém a senhora apenas sorriu sarcástica através da janela de vidro que ficava no meio da porta. Girou a chave e fez um sinal de "não" com o indicador.
— Puta que pariu! Vaca! Filha da puta! Caralho! - A garota saiu pisando duro e xingando pelo corredor.
Pela primeira vez na vida Regina pronunciava palavrões e eles saíram todos de uma só vez.
Os membros da Miscelânea estavam cabulando aula no pátio e observaram a cena, chocados.
— O que aconteceu? — Babí foi ao encontro de Regina.
— Aquela cretina da Violeta! Tudo bem se ela não quer me deixar assistir aula, mas poderia pelo menos ter me deixado pegar a minha mochila! — em seguida diminuiu o tom de voz - Você tem um absorvente pra me dar?
Babí fez sinal positivo, pegou a própria mochila e as duas seguiram para o banheiro.
Ao retornarem, as meninas se sentaram com Ricardo e Silveira e jogaram truco enquanto falavam mal dos professores, como de costume. Na metade do tempo Regina já tinha se acalmado, graças a capacidade de seus novos amigos em contar piadas.
— E aí, vamos com a gente pra Porto? — Babí perguntou, entre uma jogada e outra.
Regina franziu a testa:
— Porto Seguro?
— É, na semana do saco cheio.
A escola não havia organizado uma viagem, porém a tradição dizia que viajar para a famosa cidade da Bahia, usar drogas e fazer sabe-se lá o que se fazia sem a supervisão de adultos, fazia parte do ritual de formatura.
Regina sabia que, se pedisse aos pais, eles fariam um esforço e pagariam pela aventura, e sentia curiosidade em participar de mais essa experiência, contudo, estava começando a desconfiar que havia um abismo entre a curiosidade de ser uma adolescente rebelde, como disse Tiago, e efetivamente gostar de ser uma. Sua primeira experiência com álcool e a nota vermelha comprovavam isso. Ficou se perguntando se realmente precisava fazer coisas que não a davam prazer algum somente para provar que tinha aproveitado a juventude.
— Hum... Vou pensar, depois você me passa os valores e eu te confirmo.
— Fechado... Truco!
Babí era dessas que distraía os oponentes e ria na cara deles quando percebiam terem sido enganados.
O quinto período seria vago portanto, os velhos amigos de Regina se aproximaram para jogar também. Poucos meses antes, ninguém diria que aqueles nove jovens possuíam assuntos em comum.
— O ódio contra a Violeta nos une. — Sabrina concluiu, rindo, depois de mais uma sessão de desaforos contra a professora.
— Acho que eu vou formalizar uma reclamação contra ela na diretoria, a mulher é uma ditadora e opressora. — Regina cogitou.
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O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]
ChickLit** HISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2021, NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA ** Às vésperas de completar 36 anos, Regina recebe uma carta de sua avó Cassandra que, quando estava viva, afirmava ser uma bruxa, nunca sendo levada a sério. Regina agora tem e...