Capítulo 14 - Sempre em frente

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"Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo"

(Tempo perdido – Legião Urbana)

Na sexta-feira os alunos dos terceiros anos se reuniram no auditório para discutirem detalhes da colação de grau, do churrasco de comemoração e do baile de formatura. Com um esforço familiar aqui e outro alí, todos os amigos de Regina e ela própria conseguiriam participar dos três eventos.

— E aí, você vai? O prazo pra pagar a viagem é segunda-feira. — Babí, sentada na fileira detrás, havia apoiado a cabeça no ombro de Regina.

Com os últimos acontecimentos ela havia se esquecido do convite para a viagem a Porto Seguro e o e-mail com as informações não havia sequer sido aberto por ela, sinal de que realmente não era algo com que ela se importasse. Naquele momento percebeu o óbvio: ela havia voltado ao passado acreditando que teria sido mais feliz sendo uma adolescente diferente do que havia sido, porém a verdade é que ela não queria ser uma pessoa diferente. Todas as suas atitudes nos últimos meses mostravam que ela gostava de ser quem era e que estava confortável com a adulta que havia se tornado.

— Não Babí, obrigada pelo convite, mas eu não acho que eu ía curtir não.

— É, eu desconfiei... — a garota deu uma risadinha.

Sabrina se inclinou e olhou para as duas:

— Desconfiou? Eu tinha certeza.

Babí revirou os olhos e iria rebater, quando Regina as interrompeu:

— Olha lá, vamos decidir as coisas.

A cor escolhida para o vestido de baile das meninas seria azul, como Regina já sabia. Ela havia votado para que a cor não fosse padronizada, entretanto, assim como da primeira vez, poucas pessoas eram da mesma opinião que ela.

A surpresa dessa vez ficou por conta do orador da turma. As meninas cochichavam sobre qualquer coisa, desinteressadas pelo último assunto em pauta, pois os candidatos eram os alunos com as maiores notas de cada turma e e cujos textos haviam sido apresentados para os professores, sendo o melhor na opinião deles o escolhido. A discussão sobre esse tipo de critério já tinha deixado todos muito irritados ou seja, ninguém mais se importava com aquilo. Até que a professora Gertrudes tomou o microfone:

— Pessoal, nós entendemos que vocês não gostaram do que nós decidimos sobre o orador da turma. Então, nós decidimos que vamos fazer uma votação. Um trecho de cada discurso vai ser mostrado, sem dizer quem o escreveu e vocês vão votar no melhor.

O auditório ficou em silêncio.

— Ao menos isso! — Babi falou alto da última fileira e ninguém reagiu.

Regina sorriu mais uma vez bolando teorias sobre como alguns detalhes tinham sido alterados nessa nova versão de seus dezessete anos. A maioria deles para melhor.

Eram seis textos, alguns bem bobos, outros parecendo uma dissertação para algum vestibular. No meio deles Regina reconheceu o discurso original, totalmente neutro e previsível, que no dia da colação de grau não despertou nada além de palmas rápidas. A pessoa haviaaté aproveitado a oportunidade para mandar beijos,nomeando alguns de seus familiares, como se aquele momento não pertencesse a umgrupo.

O que, por outro lado, pareceu ser o foco de um dos textos que mais chamou atenção:

"Estava escrito: alguns seriam os escolhidos. Nós. Vindos de diferentes lugares e com diferentes passados. Estes escolhidos deveriam se encontrar em um certo momento para se unirem e para transformarem seus futuros. Para conversarem, brigarem, rirem, chorarem, trocarem opiniões, comemorarem, crescerem, amadurecerem e para saber que suas vidas jamais seriam como eram... Esses desconhecidos participariam da maior viagem de suas vidas".

O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]Onde histórias criam vida. Descubra agora