"Você não sabe o quanto eu caminhei
Pra chegar até aqui"(A estrada – Cidade Negra)
Ingrid dirigia, com Regina a seu lado e Angélica, no banco detrás, falando ao telefone com Fabrício:
— Ela está bem. Sim, já liguei pra minha chefe e avisei que não vou hoje. Tá, a gente se vê mais tarde. Beijo, te amo. — Olhou para Regina pelo retrovisor e sorriu sem graça — Foi mal, tive que falar que você estava tendo uma crise porque a Majú está indo morar fora.
— Tá tudo bem, ainda mais porque eu estou mesmo tendo uma crise.
As três haviam dormido no apartamento de Regina, cada uma deu uma desculpa diferente para faltar no serviço e partiram em direção à casa de repouso em que, agora sabiam, Cassandra estava morando.
Em pouco mais de uma hora, estacionavamem frente à casa térrea com arquitetura dos anos cinquenta. Havia uma placa confirmando a localização da casa de repouso Shalom e o horário de visitas, que começava as 10h. Um homem, vestido totalmente de branco, as recebeu:
— Bom dia, Fábio! — as três disseram quase ao mesmo tempo, contentes por se lembrarem das visitas frequentes ao lugar.
— Vocês aqui em plena segunda-feira? Tá tudo bem?
Ele destrancou o portão e elas o seguiram pelo corredor lateral.
— Tá tudo bem sim. — Angélica foi a que conseguiu mentir mais rapidamente — A filha da Regina está de mudança pra Inglaterra e ela sonhou com a nossa avó, então nós tivemos que vir, sabe como é.
— Sem problemas, vocês podem esperar uns dez minutos? — ele apontou a ampla sala de estar forrada de sofás e poltronas, onde os idosos passavam as tardes — Acho que a dona Cassandra está terminando o banho.
As três assentiram e se acomodaram. O homem de meia idade saiu da sala por poucos segundos e voltou com uma prancheta.
Em seguida Cassandra entrava no lugar, com os cabelos curtos e acompanhada de uma enfermeira, que logo se retirou.
— Vó!
As mulheres a abraçaram enquanto ela as olhava com inocência:
— Oi.
Sentaram-se e Fábio as deixou sozinhas.
— Tá tudo bem, vó? — Regina tentava impedir sua voz de soar chorosa.
— Ãh? Tá... — a senhora continuava com um sorriso enigmático nos lábios — Quem que são oceis mesmo?
Regina fechou os olhos e duas lágrimas silenciosas desceram por suas bochechas, o restante de seu corpo permaneceu imóvel.
— Suas netas, vó! Eu sou a Angélica, ela é a Regina e ela é a Ingrid.
— Ah... Tá bão.
— A gente é do clã Prado, vó, somos herdeiras do clã Mavelle. — Ingrid arriscou, todavia o rosto de Cassandra não se alterou.
— Que isso?
Regina se levantou e sem dizer nada saiu do cômodo quando os soluços ficaram impossíveis de controlar. Parada no corredor externo, ela tentava enxugar o rosto com as costas das mãos e ao ver Fábio se reaproximando, pediu:
— Onde é o banheiro mesmo? Eu preciso assoar o nariz. — fungou.
— Por aqui... — ele colocou uma mão em seu ombro e a conduziu até o local.
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O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]
ChickLit** HISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2021, NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA ** Às vésperas de completar 36 anos, Regina recebe uma carta de sua avó Cassandra que, quando estava viva, afirmava ser uma bruxa, nunca sendo levada a sério. Regina agora tem e...