Capítulo 23 - A solução

424 81 247
                                    

"Você não sabe o quanto eu caminhei
Pra chegar até aqui"

(A estrada – Cidade Negra)

Ingrid dirigia, com Regina a seu lado e Angélica, no banco detrás, falando ao telefone com Fabrício:

— Ela está bem. Sim, já liguei pra minha chefe e avisei que não vou hoje. Tá, a gente se vê mais tarde. Beijo, te amo. — Olhou para Regina pelo retrovisor e sorriu sem graça — Foi mal, tive que falar que você estava tendo uma crise porque a Majú está indo morar fora.

— Tá tudo bem, ainda mais porque eu estou mesmo tendo uma crise.

As três haviam dormido no apartamento de Regina, cada uma deu uma desculpa diferente para faltar no serviço e partiram em direção à casa de repouso em que, agora sabiam, Cassandra estava morando.

Em pouco mais de uma hora, estacionavamem frente à casa térrea com arquitetura dos anos cinquenta. Havia uma placa confirmando a localização da casa de repouso Shalom e o horário de visitas, que começava as 10h. Um homem, vestido totalmente de branco, as recebeu:

— Bom dia, Fábio! — as três disseram quase ao mesmo tempo, contentes por se lembrarem das visitas frequentes ao lugar.

— Vocês aqui em plena segunda-feira? Tá tudo bem?

Ele destrancou o portão e elas o seguiram pelo corredor lateral.

— Tá tudo bem sim. — Angélica foi a que conseguiu mentir mais rapidamente — A filha da Regina está de mudança pra Inglaterra e ela sonhou com a nossa avó, então nós tivemos que vir, sabe como é.

— Sem problemas, vocês podem esperar uns dez minutos? — ele apontou a ampla sala de estar forrada de sofás e poltronas, onde os idosos passavam as tardes — Acho que a dona Cassandra está terminando o banho.

As três assentiram e se acomodaram. O homem de meia idade saiu da sala por poucos segundos e voltou com uma prancheta.

Em seguida Cassandra entrava no lugar, com os cabelos curtos e acompanhada de uma enfermeira, que logo se retirou. 

— Vó!

As mulheres a abraçaram enquanto ela as olhava com inocência:

— Oi.

Sentaram-se e Fábio as deixou sozinhas.

— Tá tudo bem, vó? — Regina tentava impedir sua voz de soar chorosa.

— Ãh? Tá... — a senhora continuava com um sorriso enigmático nos lábios — Quem que são oceis mesmo?

Regina fechou os olhos e duas lágrimas silenciosas desceram por suas bochechas, o restante de seu corpo permaneceu imóvel.

— Suas netas, vó! Eu sou a Angélica, ela é a Regina e ela é a Ingrid.

— Ah... Tá bão.

— A gente é do clã Prado, vó, somos herdeiras do clã Mavelle. — Ingrid arriscou, todavia o rosto de Cassandra não se alterou.

— Que isso?

Regina se levantou e sem dizer nada saiu do cômodo quando os soluços ficaram impossíveis de controlar. Parada no corredor externo, ela tentava enxugar o rosto com as costas das mãos e ao ver Fábio se reaproximando, pediu:

— Onde é o banheiro mesmo? Eu preciso assoar o nariz. — fungou.

— Por aqui... — ele colocou uma mão em seu ombro e a conduziu até o local.

O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]Onde histórias criam vida. Descubra agora