"Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar"(Ovelha Negra – Rita Lee)
A frase que a amiga usara quando Guilherme tinha sido assaltado fora exatamente aquela: "meu irmão sofreu um acidente".
Brigite levaria as duas meninas até o hospital para encontrarem os pais de Sabrina e lá os cinco receberiam a notícia. Entretanto isso só deveria acontecer no ano seguinte.
Regina sentiu o estômago embrulhar diversas vezes durante o trajeto. Ela e Brigite passaram para pegar Sabrina e seguiram para o hospital. As três estavam tensas, porém ninguém chorava. Não que Regina não estivesse lutando contra as lágrimas a cada segundo, mas ela não poderia dizer que já sabia o que tinha acontecido.
O celular apitou e ela leu uma mensagem enviada algumas horas antes e que ela não havia visto: "Me desculpa por ter te agarrado?".
Foi como ter recebido um soco. Ela quase podia imaginar a expressão entristecida de Guilherme escrevendo aquela mensagem, porque ele nunca queria chatear ninguém. E agora ele estava morto sem nem saber que não tinha nada pelo que pedir desculpas.
Ela mordeu o próprio punho pois já era quase impossível não começar a chorar.
As três desceram do carro e atravessaram a avenida que separava o estacionamento da entrada do pronto socorro.
— Pode ir na frente... — falou sem olhar direito para a amiga. Sabrina assentiu e correu para dentro.
Regina aspirou todo o ar que pôde de uma única vez e se segurou no ombro da mãe, soluçando.
— Que foi Regina? Que foi?!
— Ele morreu mãe... O Guilherme morreu.
— Não, meu amor! Fica calma... Vamo lá dentro, ele não morreu não.
A garota tremia, tentando sem sucesso se recompor, porque sabia que em poucos minutos teria que abraçar Sabrina e deixar que ela berrasse, chorasse, corresse, dormisse e acordasse para começar tudo de novo.
Ao passarem pela porta do pronto socorro, a amiga veio em sua direção com os olhos marejados, contudo não estava descontrolada como da primeira vez, para estranhamento de Regina.
— Eu vou entrar pra visitar ele, você quer entrar?
— Ãh? — Regina sentiu as pernas falharem e sua mãe a segurou, conduzindo-a para uma cadeira vaga.
Sabrina explicou:
— A mulher da recepção falou que pode entrar de dois em dois, aí a gente troca com os meus pais.
— Pode ir na frente, a Regina ficou nervosa... — Brigite respondeu pela filha, que se sentava com o olhar perdido.
A garota concordou e seguiu pelo corredor.
— Rê, não fica impressionada não. Tá tudo bem, tá tudo bem... — Brigite, em pé, apoiava a cabeça de Regina na própria barriga e acariciava seus cabelos.
Ela não ouvia a voz da mãe, apenas murmurava:
— Foi uma batida ou um assalto? Será que foi uma batida mesmo e eu nem fiquei sabendo da primeira vez? Uma batida agora e um assalto ano que vem...
— Que foi filha? Fala mais alto.
— Nada...
— Vou buscar uma água pra você.
Ela concordou com a cabeça. Brigite voltou em poucos segundos com um copo d'água e os soluços foram diminuindo, conforme dava pequenos goles no líquido gelado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]
ChickLit** HISTÓRIA VENCEDORA DO WATTYS 2021, NA CATEGORIA LITERATURA FEMININA ** Às vésperas de completar 36 anos, Regina recebe uma carta de sua avó Cassandra que, quando estava viva, afirmava ser uma bruxa, nunca sendo levada a sério. Regina agora tem e...