VI. Plano B

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Querido diário,

A festa de comemoração de Cambridge era em menos de uma hora, irmã Rubi estava ajudando a me arrumar. Eu não sei arrumar o que.. a gente não podia usar nossas roupas normais. Tinha que ser aquele roupa feia que parecia mais um uniforme de presidiário.

Sentei na cama enquanto Irmã Rubi penteava meu cabelo. Eu gostava dela, Rubi me trazia paz no meio de tanta loucura acontecendo ao mesmo tempo. Era carinhosa e me dava atenção mais do que a minha própria mãe me deu algum dia.

— Já esta tudo pronto? — perguntei colocando meus sapatos. 
— Quase tudo, falta alguns detalhes ainda. — Rubi sentou ao meu lado — e ai, esta nervosa? 
— Não, estou bastante calma. — olhei para Rubi — Doutor Davi vai mesmo nos ajudar? 
— Bom.. — levantou um pouco apressada — A festa vai começar as 19h. 19:30 os guardas irão trocar de turno. Eu vou chamar vocês pra me ajudar a pegar algumas coisas na cozinha e vocês vão sair pela porta dos fundos. O Davi vai mostrar tudo. 
— Acha mesmo que vai dar certo? — perguntei preocupada — Digo.. André vai vim para a festa, ele e a Madre Ester vão ficar de olho em mim o tempo todo. 
— Não se preocupe Luísa, é hoje que você sai desse lugar. — disse sorrindo.

Uma parte de mim queria acreditar na Irmã Rubi. Eu queria muito pensar positivo e mostrar que eu estava confiante, que nada me ia me abalar. Mas essa não é a verdade, parecia que algo de muito ruim ia acontecer. Eu não queria mostrar para Irmã Rubi que eu estava com medo.

— Preciso ir, tenho que ficar na porta recebendo alguns convidados. — Rubi se aproximou de mim e beijou minha testa — Não se esqueça, 19:30.

Rubi saiu, e encostou a porta. Meu Deus, me bateu uma aflição. Eu não sabia o que fazer, deitei na cama e fiquei olhando pro teto.. Era agora ou nunca.

Sai do meu quarto e vi os "normais" no final do corredor. Parecia que eles estavam conversando algo muito serio mas quando eu me aproximei eles pararam e tentaram mudar totalmente o rumo da conversa. Estranhei mas eu não disse nada.

— Que inferno esse lugar. — Flavia resmungou. 
— O que esta acontecendo? — perguntei confusa. 
— Ah Flavia que esta dando mais um de seus chiliques. — Ashley revirou os olhos — Nossa família foi convidada para vim pra festa Hoje. 
— Nem família eu tenho, então não faz falta. — Samuel disse meio incomodo. 
— Não fale assim Samuca. — sorri e coloquei minha mão no ombro dele — Nós somos sua família.
— Porra mano, nem sei o que eu faria sem vocês. — Samuel sorriu. 
— Agora deixa dessa conversa de mariquinhas e vamos logo. — Vinicius disse emburrado.

Os guardas já estavam tirando algum dos pacientes dos quartos. Fomos andando em direção ao refeitório. Durante a festa nós não podíamos sair do refeitório, o máximo que a gente podia fazer era ir na cozinha ajudar as cozinheiras, mas era muito raro isso acontecer.

Entramos no refeitório e ainda estava vazio. Só alguns pacientes estavam lá, os que gritavam e faziam barulho ficaram em seus quartos. A gente mal entrou e a Ashley já encontrou seus pais. Eles eram a cara dela, bom.. pelo menos sua mãe, o pai dela olhava para os lados com cara de nojo e desprezo.

Sentamos em uma mesa bem no canto do refeitório. A ultima coisa que a gente queria no momento era chamar atenção. O Vinicius parecia bastante nervoso, ele não parava de bater o pé no chão. Coloquei minha mão em seu anti-braço e ele me olhou um pouco assustado.

— O que você tem? — perguntei baixo. 
— Nada. — suspirou — não se preocupe. 
— Eu me preocupo sim Vinicius, me diga o que você tem? — franzi a sobrancelha.

Ele ficou calado. Vinicius não era muito de conversa, isso estava bem claro mas eu podia ver que ele estava muito aflito e ansioso.

— Confia em mim Vinicius, por favor.

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