XVI

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O rosto que menos queria ver, nem aqui nem em alguma próxima vida, estava ali, bem na minha frente. O monstro que me atormenta até o hoje, estava abrindo sua boca suja, e mostrando sua língua de cobra, para me chamar de filha... Não sei que tipo de pai, faria tal coisa a um filho.

- Pode correr, mas não pode se esconder... Já deveria saber disso.

Queria cuspir na cara dele, mas havia fatores me impedindo; primeiro ele passaria com um carro em cima das minhas pernas para me repreender, e dois, eu estava apavorada demais pra sequer me mover.

- Ei! Solta ela, seu cara de meia tigela!

- O que vai fazer, se não o fizer? Bater em mim? - ele riu alto.

- Quer experimentar?

Não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, mas estava sem argumentos para contestar, e com muito medo de custurarem minha boca, não duvido nada vindo dele...

- Sr. Félix, viaturas de policia se aproximam. - o segurança de óculos escuros disse - Recomendo sairmos agora.

- Leve ela até o carro. - disse ele - E Ray, de um jeito nesse tampinha.

- TampinhA, com um A no final. E infelizmente não poderei deixar você levá-la.

Acredite se quiser, agora a cena parece aqueles momentos, de dois caubóis no faroeste, e aquela musiquinha no fundo "tarararam Nam Nam Nam....".

O tal de Ray, tentou segura-la pelo braço, dando tempo para me levarem embora, mas ela simplesmente apertou sua mão, e ele gemeu de dor, como se tivesse quebrado todo os seus ossos.

- Quem é o próximo? - disse ela.

O homem que me segurava, apontou a arma para ela, mas meu velho "amigo" o impediu de atirar.

- Atirar só vai trazer problema. Achamos ela depois.

Ele me soltou, e os três foram embora, me deixando sozinha, com aquela pessoa desconhecida.

- Não vão te incomodar mais, mas fique por perto.

Eu não sabia como reagir, muito menos o que fazer, ela usava máscara, não dava para ver seu rosto, e simplesmente ela foi embora, me deixando sozinha, chorando sem ao menos tentar ficar em pé...

Ao fundo ouvia as sirenes de policia se aproximando, mas não queria acreditar nisso, minha vida só piora a cada instante. E dessa vez, poderia ter certeza de que seria encaminhada para um hospício, a história é doida demais para alguém acreditar...

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Já na delegacia, eles tentavam falar comigo, tentavam entender o que aconteceu, mas sentada naquela cadeira, só olhava para os pés, em silêncio, sem coragem de dizer ou fazer algo, só piscava e existia... E como não falei nada, entraram em contato com o conselho tutelar, que explicaram a situação e ligaram para minha tia e meus pais, já que por lei deveriam saber, qual era a minha situação.

- O que aconteceu dessa vez? - perguntou meu pai - Roubou alguém?

- Ed! - disse minha tia - O que aconteceu gatinha?

Eu continuei em silêncio, já que não havia como explicar, ninguém sabia que sequer ele existia...

- Ela não fala nada desde que chegou... - disse o policial.

- Novidade... - respondeu meu pai.

- Novidade a tua cara! - falei - Você nunca me entendeu realmente! Sempre preocupado com sigo mesmo!

- Você fala! - disse o policial - Então porque não fala o que aconteceu?

E agora me ferrei, pensei comigo mesma, se já não bastasse que os dois estivessem aqui pra ouvir, teria que falar com um desconhecido sobre o que aconteceu, explicar como eu sou demente, e a única coisa que sei fazer é chorar.

- Não precisa ter medo, e só nos dizer o que aconteceu. - disse o policial.

Eu exijo um advogado!

- Medo é única coisa que ela tem...

- Se não for incomodo, poderia sair Edward? - falou minha tia - Tipo... Agora!?

Ele saiu da sala resmungando, mas pelo menos me sentia mais confortável agora.

- Me conta gatinha. - disse minha tia - O que aconteceu?

- Meu pai...

- Quer que ele volte!? - falou surpresa.

- Não. Meu pai de verdade... - disse eu - Era ele...

- Ele tentou algo contra Você? - perguntou o policial - Ele estava sozinho?

Tantas perguntas, com respostas que não querem ser ditas...

- Quero ir embora...

- Claro. - respondeu o policial - Depois que nos dizer o que aconteceu.

Falo a verdade, não falo... Eis a questão. Mas a minha vida já está tão ferrada, que talvez nem faça mais diferença.

- Sozinho. - respondi - Ele queria me levar pra "casa". Posso ir embora?

  - Quando isso aconteceu? - perguntou ele - Você está com o uniforme da escola, não deveria estar na aula?

- Fiquei pra fora, depois do intervalo.

- E nenhum funcionário veio a sua procura!? - perguntou Celi.

Respondi que não com a cabeça, mas algo me dizia que deveria ter contado a verdade...

- Mais alguma coisa que queira nos contar? Se ouve algum comportamento estranho da parte dele? Alguém que esteve presente na hora? - perguntou o policial - Pois, tenho absoluta certeza, de que não foi você que nos ligou. Está sem seu celular.

Aí você complica, né meu amor!

- Não vi ninguém...

- Podemos ir embora? - perguntou tia Celi - Talvez ela lembre de algo no caminho... Ou quando estiver mais calma né gatinha?

- Claro... - respondeu o policial - Mas só mais uma pergunta. Sabe me dizer o nome dele?

- Félix, Erick Félix. - respondi, mesmo sabendo que não iriam encontrar nada a respeito dele.

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Já no carro, meu pai veio até a janela, e começou a falar várias baboseiras, e dizendo que era tudo coisa da minha cabeça.

- Enquanto estiver com ela não deveria parar as sessões com o Dr. Owen. - disse ele - Talvez ainda dê pra salvar alguns neurônios.

- O Dr. Owen é psicólogo Dudu, não neurologista! - falou Celi - Agora com licença, adeus.

Ele se afastou do carro, e tia Celi, pode prosseguir o deixando sozinho na calçada.

- Mas talvez ele tenha razão... - disse ela - Não pela parte dos neurônios, claro, mas talvez seja bom conversar com ele.

- Não sou louca.

- Não disse que é. - disse Celi - Disse que você só precisa conversar com alguém.

- Posso conversar com Albert, ele é bom ouvinte.

- Quem? O pato? - disse ela - Querida, você precisa ter um pouco de vida social de vez em quando, não conversar com um pato, aí sim as pessoas vão te achar lelé da cuca!

Não respondi, queria entrar no meu modo zen da vida, e esquecer, tudo o que aconteceu, mas a minha cabeça naquele momento estava a mil, e não conseguia parar para relaxar. Se ele me achou... Com certeza não vai parar até ter seu troféu em mãos novamente.

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⏰ Última atualização: Jan 02, 2020 ⏰

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