VI

1 2 0
                                    

Terça-feira de manhã... o sol entrava pela cortina entreaberta. Optei por não ir a escola, então nem me preocupei em levantar quando o despertador tocou, eu olhava para as estrelas no teto, pensando no que Thomas disse, será que existe alguma forma de escapar dessa tal missão, existe uma forma de recusar? Ainda me lembro daquele pato cara de pau, que talvez, nem exista, se apresentando como Albert, meu animal guia. Por qual motivo, razão e circunstância, um pato, seria animal guia de alguém?!

Thomas entrou em meu quarto, e sentou-se ao meu lado, disse que o café da manhã já estava na mesa, e que sentia saudades do "velho" eu, algo relacionado de que eu desisti, de que eu parei de lutar.

- As vezes, a melhor coisa que você faz, é olhar para sua sua vida, se perguntar o que faz aqui, dar um tempo de lutar, e deixar desistir, já diz o ditado: pedra dura, Água mole, tanto bate até que fura. Se lutar sem descansar, vai perecer da pior maneira possível, se se entregar a vida, e esperar pelo momento certo, você terá uma melhor chance, de pegar o inimigo desprevenido.

- Você diz coisas muito bonitas para os outros. Mas quando foi a última vez, que você mesma seguiu seus conselhos? - Thomas respondeu.

- Os conselhos são diferentes pra cada pessoa, usando a palavra certa você move montanhas, se mudar uma vírgula, você é esmagado por ela.

Thomas desistiu de falar comigo, e saiu pela porta do quarto chateado, nem sempre é minha intenção... Mas a vida é inevitável, e você mágoa as pessoas sem nem mesmo perceber.

Me aconcheguei na cama, refletindo... A vida não é fácil pra ninguém, mas a minha parece estar passando os limites de dificuldades, minha infância foi um desastre, se que posso chamar de infância, e quando começa a melhorar, a adolescência chega, e sua vida vira de ponta cabeça de novo.  Talvez seja hora de assumir as dificuldades, olhar pra frente e tentar achar uma saída, Thomas está com a razão, parei de tentar, parei de me esforçar, não sou mais aquela garotinha frágil, mas também não sou mais aquela garota destemida, que um dia já fui, preciso encarar os fatos nos olhos, e ficar frente a frente com meus medos.

🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈

Antes do almoço, sai de casa, sem que ninguém percebesse, e fui em direção a praia, precisava pensar um pouco sem ninguém em cima do meu cangote. No caminho comecei a pensar como deveria, apresentar os fatos, e resolvê-los com soluções plausíveis. Na escola duas pessoas se destacaram, Michelle e Miles, Michelle fazia muitas perguntas pessoais, mesmo não me conhecendo, e Miles aparentemente, estava realmente mirando a bola na minha cara, me fazendo sair da aula, e nos encontrar com o pato maluco e a gata falante. Fora da escola se destaca o psicólogo, que ficou intrigado com meu sonho o que é estranho, já que não anotou nada no caderninho, a respeito. Logo se destaca, que tenho tido esses sonhos frequentemente, mas foi a primeira vez de que não estava sozinha, e a primeira vez que realmente me senti presa, impossibilitada de reagir.

- Eeei!! Você por aqui?

" Ela, de novo..."

Acenei de volta, sem responder, me perguntava o que fazia ali, Michelle é uma espiã do governo, implantada para me observar? O que essa garota sabe sobre mim?

- Não tinha a intenção de te encontrar aqui. - Se limitou a um sorriso - Mas já que estamos aqui... Como vão as coisas?

- Não deveria estar na aula?

Se esquivou com a pergunta, tentando mudar de assunto.

- Está tudo bem comigo! Como Thomas está? Melhor...?

- Você saberia se estivesse na escola...

- E qual seria seu motivo, pra faltar na aula também? - Falou seria e comprometida.

- Problemas pessoais. - respondi sem dar corda.

Ela ficou em silêncio, provavelmente não esperava essa resposta, me desviei dela e continuei andando, pela calçada, logo em seguida adentrei a areia fofa, no início da praia. Era uma terça-feira, então não estava tão lotada, me aproximei das calmas ondas do mar, e me dei conta de que Michelle havia me seguido. Me limitei, a somente, molhar os pés e sentir os mesmos afundando na areia molhada.

- Porque me persegue?

- Não estou te perseguindo... Meu objetivo era vim aqui, desde o início... - falou fazendo uma cara emburrada.

"Ela sabe de alguma coisa, só não quer contar."

- Qual seu animal favorito? - perguntei.

- Que pergunta mais aleatória. - respondeu ela. - Furões, eles são uma gracinha! - falou afinando a voz, em um tom de fofura.

- Normalmente as pessoas gostam de cães, ou gatos.

- Não sou uma pessoa normal. Sou especial, é diferente.

"Gostaria de me aceitar assim tão facilmente"

- Eu preciso ir, não avisei meus pais que iria vir aqui.

- Claro, tenha um bom dia. - falou enquanto acenava indo embora.

Me virei e fui pra casa pensativa, se eu perguntasse à Miles, qual animal gostava, ele responderia gatos? Posso tentar isso amanhã na escola, mas talvez não faça sentido, meu animal favorito não é um pato, muito menos um que saiba falar.

No caminho pra casa, me senti observada, mas ignorei a sensação e apertei o passo, mas parei esperando o farol de pedestre ficar verde para atravessar, quando vi um coruja que me observava atentamente "então é daí que vem a sensação..." Ela me seguiu até que chegasse a portaria do condomínio, quando entrei, ela alçou voo, e se afastou lentamente, mas o pior de tudo, é que não EXISTEM corujas em San Diego!

🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈

Abri lentamente a porta da minha casa, esperado que ninguém percebesse minha presença, minha mãe estava na cozinha, conversando com o cozinheiro sobre o que fazer de almoço, meu pai ainda não havia chego, já que não via suas coisas em lugar algum. Subi discretamente as escadas, indo em direção ao meu quarto, onde me encontrei exausta, me esparramei na cama de barriga pra baixo, ignorando totalmente a falta de ar que sentia, e as lágrimas, que por algum motivo, escorriam sem parar, logo vinha a dor que queimava em meu peito, e nada mais fazia sentido.

Não havia motivos pra chorar, e não havia motivos para sentir falta de ar, já que não havia corrido, tudo girava à minha volta, me fazendo me sentir enjoada, e comecei a sentir um cheiro de flores silvestres por algum motivo, um cheiro doce e enjoativo, como cupcakes. Fechei os olhos por um segundo, tentando fazer o enjôo passar, mas os invéz só piorou a sensação, mas nada mais girava a minha volta.

- Você está bem? - falou minha mãe, enquanto adentrava me quarto.

- Me sinto enjoada... Não sei...

Ela acariciava minha cabeça, tentando fazer me sentir melhor, ela me fazia ficar calma, e repensar meus conceitos, me ajudava a pensar com clareza e me dava destreza para continuar, não era a toa que Thomas era seu filho. Logo me via dormindo, tranquilamente, sem que algo incomodasse meus pensamentos, sem algo ruim perturbando meus sonhos, ou que patos falantes me fizessem ir a loucura... Esse foi a melhor sensação que já tive, na minha vida inteira.

Acordei com a voz de Thomas, que me chamava, adentrando meu quarto. Ele ainda estava com o uniforme da escola, e seu sorriso, aparentemente feliz, denunciava sua angustia.

- Oi... - Falei

- Oi... O almoço já está na mesa. - Respondeu - Mas mamãe disse que se não estiver se sentindo bem, ela traz seu almoço aqui.

- Eu estou bem. - falei me sentando na cama - Já vou descer.

Algo me passou a cabeça, me dizendo que tudo havia sido planejado, Michelle, Miles, os sonhos... Algo dentro de mim dizia que tudo fazia parte de uma grande coisa, ainda mais depois da declaração daquele pato, uma missão suicida não parece tão estranha agora...

No Fim Do Arco-írisOnde histórias criam vida. Descubra agora