Two Fingers

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Two Fingers - Jake Bugg

So I kiss goodbye to every little ounce of pain

Light a cigarette and wish the world away

I got out, I got out, I'm alive and I'm here to stay

So I hold two fingers up to yesterday

Light a cigarette and smoke it all away

I got out, I got out, I'm alive and I'm here to stay

Hey, hey it's fine

Hey, hey it's fine

Hey, hey it's fine

I left it behind

O banheiro anexo ao quarto principal da cobertura de Valentina era ligeiramente maior do que o trailer em que Juliana cresceu, e equivalia a pelo menos duas salas da quitinete em que sua mãe vivia na Cidade do México. Mesmo assim, a mulher de braços tatuados estava se sentindo claustrofóbica naquele cômodo imenso, sob a fumaça quente do banho recém-tomado.

Se render ao desejo pungente que transbordava de um certo par de olhos azuis era sempre uma experiência sufocante. Havia algo nos beijos, nos flertes, na expectativa, na antecipação de cada movimento. A dinâmica entre elas desestabilizava os quatro elementos de um mundo invisível e particular, que a virava do avesso e vivia em combustão espontânea. Tudo era intenso o suficiente para ser intraduzível a qualquer idioma que não fosse as reações que apenas os corpos de ambas entendiam.

Estava cada vez mais consciente de que nunca tinha sentido uma atração tão faminta e peculiar por alguém em sua vida. Uma vez que percebeu aquilo, era quase impossível se desvencilhar da sensação.

Principalmente quando a lembrança dos dedos de Valentina a invadindo de todas as formas possíveis ao longo das últimas horas ainda era tão recente.

Com alguma dificuldade, Juliana conseguiu ajeitar o vestido vermelho exageradamente justo no corpo ainda um pouco úmido. Enfiou os sapatos de salto alto nos pés e parou em frente ao espelho oval, fixado acima de uma pia larga esculpida em mármore bege. Enquanto tentava se livrar do excesso de água dos cabelos escuros usando a toalha branca que Valentina deu a ela, a garota permitiu que seus olhos se perdessem nos inúmeros produtos de beleza com tampas prateadas e rótulos descritos em francês. Os potes de todos os tamanhos e cores estavam espalhados de forma desordenada em suportes de plástico presos às paredes por hastes de metal.

Sabia que Valentina morava em uma casa fora dos limites da cidade, e que só mantinha aquele imóvel — assim como dezenas de outros — pelo mero hábito patrimonial de quem tem muito dinheiro para investir em qualquer coisa. No encontro anterior, a própria roqueira disse que não ia muito ali. Por isso, todo luxo à disposição era surpreendente.

De um instante para o outro, se flagrou questionando se Valentina levava outras mulheres para aquele apartamento, mas se repreendeu no mesmo segundo. Não era de sua conta. 

De repente, sentiu a necessidade de ocupar as mãos e a cabeça com qualquer coisa que afastasse a curiosidade.

Apanhou sua bolsa e vasculhou o interior em busca do batom e do rímel que Lucía jogou ali antes que saísse de casa. Até tentou salvar parte da maquiagem arruinada por toda a movimentação daquela noite, mas o esforço era inútil sem a habilidade de sua melhor amiga para lidar com aquela tarefa tediosa. Por fim, se deu por vencida e respirou fundo. Uma. Duas vezes. E deixou o banheiro.

Só agora Juliana percebeu que as persianas instaladas para bloquear a visão das janelas panorâmicas estavam completamente abertas. Chegou ali ocupada demais para pensar nisso. Ainda era madrugada, mas, preguiçosamente, o céu já começava a transitar da escuridão completa para um azul pálido. Os olhos castanhos se adaptaram à baixa luminosidade rapidamente, e logo distinguiram a silhueta esguia de Valentina na cama. A roqueira ainda estava nua, deitada de barriga para cima com o corpo atravessado no colchão, ocupando todo o espaço. Tinha uma imponência altiva que flertava com a realeza, e que era atrativa o suficiente para que Juliana ponderasse se jogar sobre a pele pálida e implorar por qualquer modalidade de clemência.

Time to Pretend [Juliantina AU]Where stories live. Discover now