Presumably Dead Arm

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Presumably Dead Arm - Sidney Gish

Just to start this off

This isn't the start of anything

Just a song that I can sing to you

We're standing in a graveyard

A presumably dead arm popped through the grass

And who doesn't talk about that?

Honey, you're nothing to me

But alcohol and dopamine

I'm dying on the sofa

And I barely know the time

But like an old man, say I reckon

I love you for a millisecond

Valentina já estava acostumada com a excentricidade lúdica do consultório do doutor Lebowitz, permeado pela cacofonia urbana do ritmo frenético de West Los Angeles. Na primeira vez em que esteve ali, anos antes, ainda na adolescência, foi tomada por um encantamento quase infantil ao contemplar a decoração inusitada da sala. Pelo menos dez animais empalhados descansavam num armário de madeira com portas envidraçadas, como troféus numa vitrine. Eram faisões, gaivotas, texugos e perdizes, encarando os pacientes com eternos olhares vazios. O médico era um grande entusiasta da taxidermia desde a juventude.

A roqueira adorava a extravagância, é claro. Amava tudo que a surpreendia e subvertia a dinâmica ordinária do cotidiano.

Eva, por outro lado, detestava. Sempre ressaltava o quanto a coleção bizarra de bichos empalhados provocava calafrios, e bradava sua certeza indignada de que aquilo provavelmente infringia todas as normas sanitárias vigentes na Califórnia.

Contudo, continuavam retornando ao consultório sempre que precisavam. Não havia muito o que fazer. Lebowitz era um senhorzinho discreto e paciente, além de se mostrar eternamente disposto a flexibilizar sua ética para ajudar Valentina — fosse vendendo atestados médicos para justificar as ausências injustificadas da cantora em compromissos profissionais, concedendo laudos falsos para processos judiciais, ou revertendo uma overdose de morfina sem pedir maiores explicações, quando a roqueira teve a estúpida ideia de injetar o opioide por diversão aos dezenove anos. No mais, seu trabalho era satisfatório, e o homem baixinho e franzino nunca fazia perguntas que fugissem ao essencial. Para uma celebridade, aqueles eram os únicos critérios que realmente importavam.

— Certo, menina. Vamos ver essa mão. — disse Lebowitz, com o sotaque seco e fechado típico de quem nasceu e cresceu em Manhattan.

Excepcionalmente obediente, Valentina, sentada numa frágil maca de metal coberta com um lençol creme, estendeu a mão que tinha usado para socar Lucho naquela manhã. Os nós de quatro de seus dedos estavam roxos e inchados o suficiente para parecerem deformados. Era incapaz de movimentar a região sem sentir uma dor quente e dilacerante.

— Parece que alguém teve um dia difícil. — brincou o médico, oferecendo um sorriso amável, ainda que composto por dentes miúdos e amarelados.

— Dei um soco em um cara. — contou ela, com naturalidade.

— Bem, estou certo que ele mereceu. — comentou Lebowitz, arrancando uma rara risada doce de Valentina.

— Mereceu, sim. Mas, nos filmes, ninguém conta para a gente que bater num homem dói tanto. — pontuou a garota — A mão da Lucy Liu não ficou parecendo um balão em As Panteras. Não posso afirmar o mesmo de As Panteras Detonando, porque não prestei atenção. Estava ocupada reparando na Demi Moore.

Time to Pretend [Juliantina AU]Where stories live. Discover now