Será que acendemos muitos fósforos?
Nos transformando em cinzas
Será que desperdiçamos tudo?
Será que desperdiçamos tudo?
Walk Through The Fire - Zayde Wolf (Ft. Ruelle)
Passo a mão no rosto, suspiro e volto ao trabalho depois de um gole de café. A minha frente estão as fotos dos noivos que casaram no fim de semana no cartório da cidade, tirei as fotos da união e da pequena recepção que fizeram apenas para os familiares.Seleciono mais uma delas e faço os ajustes que preciso, apenas poucos detalhes, não gosto de pôr tratamento demais nas fotos a ponto de tirar sua originalidade e naturalidade. Acho que é por essa característica que sou bastante procurado. Minha equipe que antes se constituía apenas por mim mesmo, agora conta com mais dois fotógrafos, e delegar tarefas é a solução para minha vida continuar tranquila em pelo menos um setor.
Quando encerro o tratamento das fotos tiradas ainda do cartório, dou o dia por encerrado e pego minha mochila. Hora de ir para ca... Balanço a cabeça no mesmo momento, afastando o pensamento. Me repreendo e repasso na mente todas as palavras que ouvi até agora das pessoas que me dizem que estou certo em não voltar para casa, que devo buscar o divórcio. Só fico pensando em como gostaria que fosse fácil assim. Em vez de dizer qualquer coisa do tipo, apenas balanço a cabeça e digo:
– Vou resolver essa situação.
Realmente quero resolver a situação, mas não parece que minha ideia é aprovada por mais alguém além de minha mãe. Ela nunca fala nada sobre isso, o fez apenas uma vez dizendo que eu devia procurar Sabrina para conversar, mas nunca mais disse uma só palavra a mais sobre isso. Honestamente, não precisa de verdade, apenas pelo seu olhar posso entender. Minha mãe é o tipo de pessoa que acredita em conversas sinceras. Fale e seja sincero de coração, tudo vai se resolver, costuma dizer.
A verdade toda sobre isso tudo, sobre fugir de uma conversa com Sabrina, é que tenho medo do que vou ouvir. Medo da mulher que amo dizer que fez o que fez por não me amar mais. Porque eu a amo. Ainda. Não deveria, mas amo. Mesmo machucado, magoado, reduzido a cacos, eu amo Sabrina.
Não penso ser falta de amor próprio, ou qualquer coisa como isso. Não, apenas a amo, a respeito e tenho consideração pelo que construímos em sete anos e meio um ao lado do outro. Foram seis anos casados e um ano e meio de amoro, cultivando amor e amizade. Nem sei mais o que fazer, como agir. A forma como as pessoas dizem ser o certo a fazer, causa uma guerra dentro de mim que diz que eles têm razão, mas depois volto atrás e lembro das coisas boas e das brigas que nos ofereceram formas de fortalecer a nossa relação.
Há um mês e meio desde que tudo aconteceu. Seis semanas desde que sai do apartamento que mantínhamos juntos. Nesse tempo, fazia apenas três semanas desde que encontrei Sabrina na frente da casa de sua amiga, Vitória. Sinto falta dela a cada vez que deito na cama de solteiro da casa dos meus pais, até mesmo das nossas discussões sobre a toalha que ela deixava jogada no chão do banheiro eu sinto falta.
Bufo e abro a porta do carro na frente da casa dos meus pais. Passei tanto tempo refletindo e relembrando que nem ao menos lembro com exatidão do caminho que percorri até aqui. Entro na casa e ouço uma conversa acabar no momento em que me notam. Basta levantar a cabeça para ver a mãe de Sabrina com traços muito parecidos com os da filha e o cabelo castanho sendo tomado pelos fios cinzentos. Ela está sentada ao lado da minha mãe no sofá da sala.

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Doce Amargo
Short StoryDoce Amargo - Parte I Com mais de sete anos ao lado da mesma pessoa, é possível pensar que a conhece. Mas Cézar jamais imaginou que estava tão enganado quanto a isso. Não passava por sua cabeça que Sabrina, a mulher que aceitou construir um futuro a...